A igreja e a chamada casa do despacho, que integram o conjunto medieval do Convento de São Francisco, datado do século XIII, foram vendidas em hasta pública, em janeiro deste ano, devido a dívidas de cerca de 300 mil euros a um empreiteiro por parte da proprietária, a Ordem Secular Franciscana, uma organização de leigos.
A Câmara de Bragança comprou este património que vai abrir as portas, pela primeira vez, depois da mudança de propriedade, a 08 de outubro para um dos concertos do Bragança ClassicFest, um festival de música clássica.
O festival decorre entre 30 de setembro e 09 de outubro com sete concertos repartidos pelo Teatro Municipal de Bragança e pelas igrejas da Sé, Santa Maria e São Francisco.
Esta última recebe na tarde de 08 de outubro o Juventus Ensemble, um projeto destinado a jovens músicos, que vão interpretar obras do compositor transmontano Eurico Carrapatoso e do compositor checo Antonín Dvorák.
O presidente da Câmara de Bragança, Hernâni Dias, garantiu hoje, à margem da apresentação da programação do ClassicFest, que a igreja reúne “todas as condições para acolher um concerto deste nível”, mas o futuro do imóvel passará por obras de fundo, antes da tomada de decisões sobre o uso.
“É um espaço que vai carecer de uma grande intervenção, carece de uma recuperação bastante grande quer ao nível da cobertura, quer dos muros, quer da área envolvente, não está muito bem tratada a parte exterior”, afirmou o autarca.
Hernâni Dias indicou que o município pretende aproveitar o próximo quadro comunitário de apoio Portugal 2030 para “captar verbas que permitam fazer essa intervenção” e disponibilizar este espaço à comunidade e aqueles que visitam a cidade de Bragança.
Até o município decidir se a igreja ficará ou não reservada a visitação e eventos artísticos, aquele espaço “está disponível para o culto”.
“Se alguém que esteja ligado à igreja pretender ali celebrar, não nos oporemos”, declarou, ressalvando que no futuro se decidirá se a vertente cultural será compatível com a prática do culto.
Para o presidente da Câmara, o facto de o município ter ficado com aquele património impediu que houvesse “lugar à especulação” e que ali pudesse ser instalada qualquer negócio para rentabilizar o espaço ou que lhe fossem dados outros usos.
A autarquia pagou à volta de 417 mil euros para impedir que fosse parar à mão de privados este património emblemático da cidade de Bragança, o único pertencente à Ordem Secular Franciscana, uma organização de leigos com problemas financeiros conhecidos há cerca de 30 anos.
A igreja e a casa do despacho fazem parte do conjunto medieval, do século XIII, classificado como Monumento de Interesse Público, que integra também o Convento de São Francisco, mas este último tem lá instalado o Arquivo Distrital de Bragança e está na dependência direto do Estado.
As dívidas da Ordem Secular Franciscana de Bragança, que originaram os leilões realizados em janeiro deste ano, remontam à década de 1990, época em que se iniciaram várias intervenções de restauro e outras obras, algumas financiadas com dinheiros públicos de programas ligados à Cultura e do município, com apoios a rondarem 1,5 milhões de euros.
A igreja e o adro chegaram a ser arrematados, por cerca de 218 mil euros, por uma construtora da zona de Setúbal e a casa do despacho, por 199 mil euros, por uma empresa do Porto.
Por se tratar de um imóvel classificado, a Câmara de Bragança tinha direito de preferência na compra, que acabou por exercer.
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