Moahmed tem 28 anos e nasceu na Síria. Chegou a Bragança há perto de um ano e meio, através da delegação local da Cruz Vermelha Portuguesa. Este programa de apoio que o trouxe para cá permitiu-lhe ter casa, ser integrado, aprender a língua, entre muitas outras necessidades que se foram impondo. O apoio termina em Dezembro e, apesar de ver na Cruz Vermelha uma família, terá que agora que fazer o seu próprio caminho...
Moahmed assume que já não quer deixar Bragança, até porque acaba de abrir actividade, com o irmão, com o qual veio para a cidade. Com alguma experiência em todo o tipo de reparações, estão disponíveis para trabalhar todos os dias. "Fazemos qualquer trabalho. Isso não é importante. Agora abrimos actividade para trabalhar e fazemos qualquer coisa, em termos de água, luz, etc. Temos experiência", explicou. Questionado sobre se têm trabalhado muito, admitiu que o trabalho, para já, corre "mais ou menos" e salientou que estão disponíveis a qualquer hora do dia, todos os dias.
E foi também em conjunto que este ano os irmãos começaram a estudar. Frequentam o Instituto Politécnico de Bragança e querem formar-se em Cibersegurança. "As pessoas são muito simpáticas no IPB mas é díficil estudar porque falar na rua e na escola é diferente. Mas, se Deus quiser, vai correr bem".
Zacarias tem 30 anos. Agora, que o caminho é mais certo, que tem trabalho e fala a língua, sair de Bragança não é opção. "Agradeço a Deus termos vindo para aqui. Estamos aqui muito bem. As pessoas são muito simpáticas e na Cruz Vermelha temos uma família. Queremos ficar para sempre aqui. A cidade é igual à nossa na Síria e o tempo também é igual. Temos vizinhos que, por exemplo, se não nos veem dois ou três dias, vão a casa perguntar onde estivemos, se está tudo bem e se precisamos de alguma coisa".
Apesar de Bragança ser a melhor opção para viver, na Síria ficou a família... "Ficou a minha mãe, o pai, duas irmãos e três irmãos. Já não os vemos há cerca de dez anos. Eles querem vir para cá mas é complicado. Depois, se trabalharmos aqui bem e se tivermos dinheiro, vamos tentar trazê-los para aqui".
Ahmad é outros dos refugiados apoiados pela Cruz Vermelha. Tem apenas 23 anos. Há sete anos deixou a Síria, onde nasceu, e foi trabalhar para o Egipto até que chegou a Bragança há um ano e meio. Uma cidade que gosta e onde já tem amigos, mas a família ficou para trás. "Em Portugal há futuro e trabalho. Gosto muito das pessoas aqui, elas ajudam-me. A cidade é pequenina, não há muitas pessoas e é barata", referiu, dizendo que foi complicado deixar a família e que vai com ela falando "todos os dias" por telefone.
Já trabalhou num lar do concelho de Bragança, mas agora está a fazer o que mais gosta: polir e pintar carros. "Gosto mais de trabalhar nos carros, porque eu já trabalhei no Egipto durante três ou quatro anos a polir", lembrou, salientando que agora que está neste emprego está “tudo bem”.
Paulo Vilela é responsável pela empresa Auto Sabor, onde Ahmad está agora a trabalhar. Foi contactado pela Cruz Vermelha de Bragança para que lhe pudesse dar emprego e não hesitou. "Como estamos sempre a precisar de mão-de-obra achámos logo boa ideia, pedimos para vir falar connosco, conhecer a pessoa e fazer o primeiro contacto e decidimos que ele ficasse na nossa estrutura, para que começasse a fazer a vida dela também aqui".
Foi a primeira vez que deu trabalho a um refugiado e está disposto a abrir portas a mais. "Todos os que apareçam, que queiram trabalhar e que a gente precise, para mim não tem obstáculo nenhum que seja refugiado. Acho que esta gente precisa de se integrar".
Ahamad está a morar com Moahmed e Zacarias na Congregação das Servas Franciscanas Reparadoras de Jesus Sacramentado em Bragança.
O testemunho de três refugiados que estão em Bragança, há quase um ano e meio, com o apoio da delegação local da Cruz Vermelha.
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