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SOBRE O BLOG: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blog, apenas vinculam os respetivos autores.

segunda-feira, 13 de março de 2023

VIAGENS — 12 - Bruxas e companhia limitada

 O tema das bruxas interessa-me desde a infância, que foi passada num ambiente quase rural — uma então pequena vila, hoje cidade, de Trás-os-Montes. O meu Pai — e mais tinha uma licenciatura por Coimbra — não escondia que considerava bruxa uma certa vizinha cujo nome não recordo. (Isto é: recordo, mas prefiro não o declarar, para não causar melindres a familiares da senhora.) E por que razão é que o Pai a considerava bruxa? É porque se calhasse vê-la, logo de madrugada, nos dias em que saía para a caça, era certo e sabido que nesse dia não matava nada, por muito chumbo que espalhasse por aqueles montes fora. Era uma grade garantida. Eu olhava para a vizinha e não via nela qualquer semelhança, no traje ou no rosto, que coincidisse com a ideia que fazia das bruxas, salvo talvez uma verruga no queixo. Mas se o Pai dizia que era bruxa, é porque era. Os pais nunca mentem. E eu acreditava que fosse.
 Hoje, não acredito que existam. Mas não confundo as minhas convicções com a realidade, e, no caso de existirem mesmo, em algum mundo paralelo a que não tenho acesso, gostaria de satisfazer algumas curiosidades. Por exemplo, saber o que fazem realmente. Saber como se distinguem das mulheres comuns. Saber que espécie de ligação têm com o mal, a que cadeia de comando obedecem, que poderes reais têm.  E depois tento dar o salto do tema das bruxas para o tema do Diabo, outra criatura que também sempre me interessou, embora tenha também assumido há muito que não existe, mas deixando sempre uma fissura na parede do pensamento por onde ele, Diabo, se de facto existe, possa entrar e demonstrar a sua existência. De resto — não dei eu espaço ao Diabo no título de um livro de contos? (A quem não se lembre, refresco a memória: O Diabo veio ao enterro.)
Pensei a certa altura que, a haver alguma verdade sobre as bruxas, ela deveria estar mais na crença ingénua do povo inculto do que nas lucubrações e erudições dos teóricos do sobrenatural. 
Tinha muito presente a caracterização da gente trasmontana, feita por José António de Sá, vai para 250 anos, num precioso manuscrito com o título de Memória Académica sobre a Província de Trás-os-Montes. Este manuscrito foi estudado pelo Prof. Fernando de Sousa, da Faculdade de Letras do Porto, na obra Uma descrição de Trás-os-Montes por José António de Sá (1997). 
Diz Sá, no capítulo 6.º: «A gente é muito supersticiosa, apegados com excesso às opiniões de seus maiores, abusadíssimos, indóceis, muito pertinazes em deixar as preocupações com que têm vivido, ainda que aliás estas os tenham miseravelmente deteriorado. São muito fáceis à persuasão de coisas sobrenaturais, crêem prodígios, encantos, feitiçarias, etc. Isto é tão universal, que apenas há terra onde não creiam, há mouras encantadas, tesouros escondidos, que só por magia podem tirar-se, e infinitas outras fábulas assim.»
Entendi que tinha de tirar estas coisas a limpo. Tinha de passar umas horas a conversar sobre bruxas com gente idosa de Grijó. Como nesta ‘gente idosa de Grijó’ se incluíam um tio e uma tia da minha Mulher, foi-me fácil reuni-los e convencê-los a passar umas tardes — essas lentas e doces tardes de Verão na aldeia — a falar comigo sobre bruxas e bruxedos. Eram todos, homens e mulheres, gente de extracção rural bem assumida e com pouca (e, em dois casos, nula) escolarização. Os informadores ideais.

(Continua.)

A. M. Pires Cabral

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