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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

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COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

sexta-feira, 28 de abril de 2023

Como o âmbar cria fósseis requintados

 Em 1872, cientistas examinaram uma flor fossilizada invulgarmente grande preservada em âmbar descoberta numa mina da Rússia. Identificaram-na como uma planta angiospérmica perene chamada Stewartia kowalewskii. As flores fossilizadas em âmbar são extremamente raras. Esta, com 28 milímetros, é três vezes maior do que a maioria das anteriormente descobertas. Carola Radke / Museum Für Naturkunde Berlin.


Um material de tons quentes valorizado pelos joalheiros, o âmbar demora mais de 40.000 anos a formar-se. Veja imagens de alguns dos melhores espécimes.

Há milhares de anos que a resina de árvore fossilizada conhecida como âmbar fascina os joalheiros e inspira a imaginação científica. Nos últimos 200 anos, sobretudo, paleontólogos de todo o mundo debruçaram-se sobre o âmbar para compreender a antiguidade – estudando os fabulosos fósseis nele preservados. Alguma pergunta sobre o âmbar? Nós respondemos.

O que é o âmbar e como obtém as suas inclusões fósseis?

As plantas segregam vários tipos de líquidos viscosos, como látex, borracha e ceras. Alguns tipos de plantas, geralmente lenhosas, produzem resinas: substâncias complexas e pegajosas que não se dissolvem em água e endurecem quando expostas ao ar.

As resinas actuam como uma crosta sobre as feridas da planta, sendo de certo modo como as plaquetas do nosso sangue. Quando uma planta que fabrica resina é ferida ou sofre algum tipo de ruptura na sua superfície – como uma fenda numa casca de árvore – é exsudada resina no local. Quando exposta à atmosfera e aquecida pela luz solar, a resina começa a endurecer. Este processo forma uma cobertura protectora sobre a ferida da planta, ajudando a manter fungos e outros patógenos à distância.

Uma vez que a resina é pegajosa, pequenas criaturas podem ficar presas nela quando é exsudada pela casca das árvores, goteja no chão ou flui através das raízes da árvore. Por vezes, algumas destas gotas chegam à água: talvez porque uma árvore crescia junto à margem de um oceano ou lago ou porque uma cheia arrastou a árvore para um rio. Destas gotas de resina nascidas na água, algumas acabam enterradas em sedimentos, como areia de uma planície de aluvião ou o lodo do fundo de um lago.

Uma carraça segurando uma pena de dinossauro preservada em âmbar birmanês com 99 milhões de anos. Fotografia de E. Peñalver Via Nature Communications.

Quanto mais fundo a resina for enterrada, mais pressão e calor são exercidos sobre ela. Por um período prolongado, estas condições fazem com que os compostos de resina polimerizarem, ou seja, reajam quimicamente entre si, formando uma rede de ligações moleculares. Este processo gera o material rígido e vítreo que conhecemos como âmbar – e que pode preservar, com extraordinária fidelidade, as formas de quaisquer pequenas criaturas que nele fiquem retidas.

Quanto tempo demora a resina a transformar-se em âmbar?

É difícil dizer ao certo. A transformação da resina em âmbar é um produto das condições experienciadas pela gota de resina. Em geral, o âmbar costuma ter bastante mais de 40.000 anos. Se for mais jovem, o material tem boas probabilidades de ser classificado como copal, uma resina polimerizada antiga que conserva algumas das propriedades materiais da substância fresca, nomeadamente uma superfície mais aderente.

Que tipos de fósseis foram descobertos em âmbar?

Uma vez que o âmbar pode envolver e proteger até criaturas com corpos moles, é excelente para preservar os mais pequenos e delicados habitantes dos ecossistemas de floresta. Ao longo de quase dois séculos, os paleontólogos que estudam o âmbar descobriram insectos, aracnídeos, caranguejos, plantas, fungos, nemátodos, plantas, microorganismos e, ocasionalmente, até pedaços de um animal vertebrado de maiores dimensões.

No entanto, como seria de imaginar, os fósseis que acabam conservados em âmbar costumam ser das criaturas com maiores probabilidades de ficarem sepultadas no interior de resina de uma árvore antiga.

Onde se costumam encontrar fósseis em âmbar?

Existem mais de 160 sítios em todo o mundo onde foram descobertos copal ou âmbar e o âmbar mais antigo do planeta – encontrado num veio de carvão no estado do Illinois – tem cerca de 320 milhões de anos. Contudo, estes pedaços de âmbar têm, em média, cerca de meio centímetro e não possuem fósseis no seu interior. De todos os depósitos de âmbar da Terra, apenas cerca de uma dezena contêm uma grande variedade de fósseis. Quase todos esses depósitos com fósseis têm cerca de 125 milhões de anos ou menos, com uma excepção: um depósito de âmbar com 230 milhões de anos nos Alpes que preserva uma espécie de mosca e duas espécies de ácaros.

Quais são alguns dos mais bem estudados depósitos de âmbar do mundo?

Estima-se que o âmbar báltico tenha entre 34 milhões e 38 milhões, embora alguns depósitos se tenham formado mais cedo. O seu aparecimento deve-se à erosão de sedimentos ao longo da costa do mar Báltico, no norte da Europa, e os depósitos mais bem estudados são provenientes do actual oblast de Kaliningrado, na Rússia. Mais de 3.500 espécies de fósseis de artrópodes foram descobertas em âmbar báltico, incluindo mais de 650 espécies de aranhas. Raramente o âmbar báltico contém fósseis de vertebrados, incluindo uma espectacular osga chamada Yantarogekko balticus, nascida há cerca de 54 milhões de anos. Também já foram encontrados fósseis de plantas, incluindo o maior fóssil conhecido de uma flor preservada em âmbar.

Pensa-se que o âmbar dominicano tenha entre 15 e 20 milhões de anos, embora a sua idade exacta seja tema de debate. Os cientistas encontraram mais de mil espécies de fósseis dentro deste âmbar, incluindo mais de 400 espécies de insectos e 150 espécies de aranhas. Ocasionalmente, também aparecem fósseis de vertebrados, incluindo lagartos anolis e até uma salamandra.

O âmbar birmanês tem cerca de 99 milhões de anos e vem de minas localizadas no estado setentrional de Kachin, no Myanmar, exploradas pelo negócio joalheiro há cerca de 2.000 anos. O interesse científico no âmbar birmanês tem aumentado ao longo das duas últimas décadas, depois de os paleontólogos descobrirem um ecossistema extremamente diversificado: “formigas dos infernos” carnívoras sepultadas a meio de uma refeição, parte da cauda de um dinossauro emplumado, a concha de uma criatura marinha conhecida como amonite e até uma ave bebé ancestral.

Contudo, os paleontólogos debatem acesamente os aspectos éticos do estudo do âmbar birmanês. As minas de âmbar de Kachin estão no centro de décadas de conflito entre as forças armadas e os grupos pró-independência locais do Myanmar e poucos estudos científicos do âmbar birmanês incluíram co-autores birmaneses.

O âmbar canadiano tem entre 78 milhões e 79 milhões de idade e vem principalmente de um local chamado Grassy Lake, na província ocidental de Alberta. Mais de 130 espécies de fósseis diferentes foram encontradas neste âmbar, muitos deles afídeos ou ácaros. Contudo, alguns pedaços de âmbar continham fragmentos de agulhas de coníferas, fungos, pólen e até penas de aves e de outros dinossauros.

Texto: Michael Greshko

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