Número total de visualizações do Blogue

Pesquisar neste blogue

Aderir a este Blogue

Sobre o Blogue

SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

sexta-feira, 21 de abril de 2023

Rezas e benzeduras | Superstições e crendices

 
Rezas e benzeduras

No âmbito das superstições e crendices, as rezas e benzeduras são utilizados principalmente para curar doenças e afastar os males.

Para muitos, elas são mais eficazes que os remédios da “medicina científica” (por contraponto com a “medicina popular”).

Existem benzeduras para quase tudo: cobreiro, sapão, quebranto, espinhela caída, dor de cabeça, etc., tal como há rezas com os mais diversos objetivos:

– para conseguir casamento,
– para dormir,
– para ser feliz,
– para abrandar os mais exaltados, etc.

Tradicionalmente, existe todo um universo de crenças, que permanentemente ameaçam as pessoas.

Uma das mais temidas é a do “mau-olhado” que leva a toda uma série de sintomas e malefícios.

A “doença” típica provocada pelo mesmo é o “quebranto“, onde o atingido tem perda da vivacidade, olhos lacrimejantes, sonolência entre outros. A cura só se dá através de muita benzedura.

Segundo a crença popular, não se deve brincar com a própria sombra, pois pode “trazer doença“, nem contar estrelas, pois faz nascer verrugas também conhecidas por “cravos”.

Deve-se evitar ter em casa búzios e caramujos ou barcos em miniatura, pois os mesmos “chamam” males.

Borboletas pretas, mariposas, morcegos e cobras são animais peçonhentos que representam mau agouro, pois foram criados pelo diabo.

Se matar gatos traz sete anos de atraso na vida, já uma rapariga que pisa em cima do seu rabo não casa.

Estes são apenas alguns exemplos das infindáveis superstições e crenças que faziam e ainda fazem parte do quotidiano de muitas comunidades, particularmente as rurais, por vezes ditando normas e condutas sociais.

Diversas superstições e crendices…

… relacionadas com a água

Não é bom beber água de noite, porque ela está a dormir, e se não puder deixar de beber-se bata-se para a acordar e não fazer mal (Óbidos e Mangualde).

Também em Carviçais, Moncorvo, se diz que a água dorme de noite, e em Baião, quando alguém tem sede de noite e quer beber água, é necessário deitar uma pinga fora e diz-se: «Acorda, água, que eu também já acordei!».

«Vamos pelo que diziam os antigos»!

… relativas às crianças

Se a criança nasce ao sábado ou a o domingo, não entrará com ela causa ruim;
– se à sexta-feira, as bruxas não querem nada com ela;
– se em dia de Ano Bom ou Natal, será feliz;
– se em ano bissexto, não será atacada de bexigas.
Dá azar nascer em 3 ou 13.

… relacionadas com a comida e o comer

Quem come um fruto pela primeira vez num ano benze-se com ele, dizendo: «deixa-me fazer novo. Em nome de Padre, Filho e Espírito Santo» (Alportel, Algarve).

Nas mesmas circunstâncias, na Beira, diz-se: «Ano melhorano, Deus me deixe chegar ao ano.»

Ouvi que, em Coimbra, quando se come uma coisa pela primeira vez, se formulam três desejos.

… com o vestuário

Em Carviçais, Moncorvo (Abade José Tavares, 1904), crê-se que quem morre mascarado vai para o Inferno.

Também ali se crê que é de muito mau agouro dormir com os sapatos no sobrado, voltados com as palmilhas para cima, ou com os sapatos à cabeceira, ou com o chapéu aos pés (ou com a candeia no chão).

Também é aziago, algures, colocar os sapatos em disposição inversa.

… com os animais

Ligadas aos animais, correm muitas superstições, das quais bastantes se incluíram noutros lugares.

Agora ficam aqui reunidas umas, mais características, tanto de carácter geral como de aplicação a um ou outro animal.

Crê-se (por exemplo, em Mangualde e Lisboa) que é bom ter animais em casa, pois certas doenças, e até a morte, vão para eles, em vez de atacarem as pessoas.

As «crendices» das ervas

“Como sempre todas as plantas se mostraram importantes para a humanidade, outrora consideradas filhas divinas da Mãe-Terra.

Daí a sua também popularização através de envolvimentos mais ocultos pelos seus «atributos mágicos» em crendices populares, ensalmos, esconjuros, fórmulas de atalhar ou mezinhas criadas pelas chamadas «mulheres de virtude», «talhadeiras» ou «benzedeiras», pelos feiticeiros ou por tantos de nós em rituais que ainda hoje perduram nas nossas aldeias.”

Crendices de há mais de 100 anos – Da natureza e efeitos dos signos

Onde se descreve o que se dizia e alguns acreditavam, há mais de 100 anos, sobre a natureza e efeitos dos diversos signos do Zodíaco nos respetivos nativos!

Benzedura contra a inveja e a bruxaria

(Sta Bárbara de Padrões – BEJA)

Santo Inácio das Loures é de santo e é de sado
E é por santo fundado
E é o Senhor Crucificado
Desorga! Desorga! Três vezes desorga!
Bruxas feiticeiras, mal de inveja
Do corpo de uma pessoa para fora
Que não tenha que doer como elas
Nem em casa, nem na rua, nem por onde passear
Eu te benzo com a santa segunda
Eu te benzo com a santa terça
Eu te benzo com a santa quarta
Eu te benzo com a santa quinta
Eu te benzo com a santa sexta
Eu te benzo com o santo sábado
Eu te benzo com o santo domingo
Que são as nove palavras
Que Deus Nosso Senhor benzeu
O seu bendito Filho.

As pessoas têm que trazer três dentes de alho para serem benzidos com o sal, e depois têm que dormir com o sal e os alhos debaixo da cabeceira durante três noites. Depois, faz-se um fogo e “joga-se” lá para dentro os alhos e o sal em cruz, para arder tudo. Há pessoas que a dizem três vezes e há pessoas que a dizem nove.

Reza para afastar os ratos

(Santa Bárbara de Padrões – BEJA)

S. Jorge tinha nove filhos
Dos nove que lhe ficaram já não tem senão oito
Dos oito que lhe ficaram já não tem senão sete
Dos sete que lhe ficaram já não tem senão seis
Dos seis que lhe ficaram já não tem senão cinco
Dos cinco que lhe ficaram já não tem senão quatro
Dos quatro que lhe ficaram já não tem senão três
Dos três que lhe ficaram já não tem senão dois
Dos dois que lhe ficaram já não tem senão um
Leve o diabo os ratos todos
Que não fique aqui nenhum

Benzedura do Quebranto

(Viana do Alentejo)

Senhora do Pranto
Descubra-me aqui se fulano(N.) tem quebranto.

Se tiver quebranto,
Descubra-me nestas três pinguinhas de azeite
Que eu vou deitar na pinga de água.

E se não tiver descobre-me à mesma.

(A gente vai deitar ali as três pinguinhas: se tiver quebranto, as pingar somem-se que a   gente nunca mais as vê; e se não tiver, ficam tal e qual. E se tiver, a gente diz assim

Se for na cabeça, tire-te Santa Teresa,
Se for nos braços, tire o Senhor dos Passos,
Se for nas costas, tire o Senhor [da orques?]
Se for no peito, tire o Senhor com jeito,
Se for nas pernas, tire-te Santa Badanela,

E se for na barriga, tira-o Santa Margarida,

Com o poder de Deus e da Virgem Maria.

Pai Nosso e Avé Maria.

(Depois ainda se diz outra vez)

Senhora do Pranto
Descubra-me aqui se esta pessoa (N.) ainda tem quebranto.

(Vai-lhe a deitar três pinguinhas de azeite outra vez. Se elas já ficarem, já não tem, mas depois diz assim

Deus é Verbo,
Verbo é Deus,
Deus te fez
Deus te criou e
Deus te tire o mal que te aquebrantou.

Deus é Verbo,
Verbo é Deus,
Deus te fez
Deus te criou e
Deus te tire o mal que te aquebrantou.

Deus é Verbo,
Verbo é Deus,
Deus te fez
Deus te criou e
Deus te tire o mal que te aquebrantou.

(Diz-se por três vezes. Podem pôr lá a pinguinha de azeite que já lá não está!)

Recolhido em Aguiar por Patrícia Sezões e Lénia Torrinha

Sem comentários:

Enviar um comentário