Quem me viu nascer, vê-me crescer. Recordo a minha tia a assar sardinhas no braseiro e a usar a mesma grelha para assar a carne de reco. Quando eu ou um dos meus primos ficávamos doentes, a tia Julieta fatiava-nos os bifes muito fininhos para conseguirmos comer”. Luís Portugal cresceu à volta dos tachos, com as tias. Os sabores e as memórias que guarda desses tempos de menino são, hoje, a sua principal inspiração.
Abriu a Pregaria do Tuga a meados de março, no bairro histórico dos Batocos, em Bragança. Ali, mesmo em frente à Praça Camões e ao antigo mercado municipal, promete combinar simplicidade e criatividade. O Tuga, apelido pelo qual é conhecido Luís Portugal, quer surpreender.
A alcunha do chef é capaz de lhe dizer qualquer coisa. Em 2014, Luís Portugal participou na segunda edição do “Master Chef” e conquistou o segundo lugar. Desde então, e já com 40 anos, é que começou a dedicar-se à arte da cozinha. “Foi o empurrão que precisava para decidir a minha vida”, confessa à NiT.
Mais tarde, em 2018, o cozinheiro regressou à cozinha dos estúdios da TVI e ganhou o “MasterChef Especial Natal”, onde formou equipa com Pedro Jorge. Nessa altura, já tinha a Tasca do Zé Tuga, um espaço de alta cozinha situado no Castelo de Bragança que tem somado distinções, nomeadamente do Guia Michelin. Há três anos consecutivos que lhe atribui o selo Bib Gourmand (pela relação qualidade preço). Ao longo do tempo, a sua cozinha tem vindo a demonstrar uma vertente autoral, com influências óbvias de Trás-os-Montes.
“Todos gostamos de voltar ao sítio onde fomos felizes. Regresso ao bairro dos Batocos e recordo os meus tempos de miúdo. Lembro-me da minha tia Julieta a dar-nos um pão para comermos, quando dizia que não havia tempo para cozinhar. São memórias que ficam e que tinha muita vontade de as recriar. Aqui brinquei, joguei à bola — entrávamos na casa uns dos outros. Os vizinhos eram quase família e havia um amparo especial entre todos”, conta o chef sobre a escolha da localização do novo projeto.
“Com seis, sete anos já queria andar em redor das vacas, a ver os produtos todos e a cozinhar”, recorda. Contudo, os pais não queriam que fosse cozinheiro, frisa Luís. “O meu pai sempre quis que fosse engenheiro ou doutor, mas nunca me conformei com os desejos dele.” A inauguração da Pregaria do Tuga é prova disso mesmo.
A tia Julieta, como não podia deixar de ser, é uma das figuras onde se inspirou para criar o restaurante. A primeira pregaria da cidade de Bragança nasceu precisamente onde em tempos funcionava o Talho Cachimbo. Era ali que a tia comprava a carne e ouvia as histórias que acompanhavam cada refeição. Agora, o chef garante que a vitela mirandesa, raça autóctone e certificada, que lá serve tem “o máximo sabor”.
Para preparar a abertura, segundo conta à NiT, não foram precisos grandes trabalhos. Afinal, “à mesa, em conversa com o proprietário”, Luís percebeu que tudo estava pronto. “Bastou aproveitar a oportunidade”, acrescenta a rir-se. A água, a eletricidade e o gás chegaram depressa — e quatro dias depois de fechar o negócio, a 17 de março, a Pregaria do Tuga abriu portas. Uma semana depois, já estava tudo a funcionar a 100 por cento.
Entre ferramentas e utensílios de trabalho, que eram usados “maioritariamente no mercado do bairro dos Batocos”, o chef vai servir pregos no pão, com “um belo bife raspado de vitela mirandesa” (desde 5€). Há também bolinhos de bacalhau (4,50€, três unidades), tremoços e azeitonas, cachorros com salsicha fresca (8€) e três tipos de batatas (3€). Tudo por “um bom preço”. O pão, esse, será sempre artesanal, com o sabor de outros tempos.
Quando consultar a carta, procure a secção Lataria, dedicada às conservas nacionais. Ali encontrará sardinhas, petinga ou mexilhão em lata (5€ cada), “que tantas vezes serviam de refeição quando não havia tempo para cozinhar”, recorda.
A seguir, carregue na galeria para ficar a conhecer melhor a Pregaria do Tuga, o novo restaurante em Bragança, onde Luís Portugal replica os sabores e as memórias do antigamente.
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