Mais um ano de exame no Liceu. Uns já tinham abandonado o ano a meio, quer para "abraçarem" a vida laboral, quer para ingressarem no serviço militar. A sociedade estava conturbada e confusa, o meu Pai estava doente e sempre nervoso. A guerra no Ultramar estava a ser uma sombra. Eu e a minha geração estávamos a começar a fazer a mochila. Faltou apertar as correias...
Em 1972, as propinas já custavam 125$00 x 3, ou seja 375$00 para a frequência mais 250$00 de inscrição. Era dinheiro para a altura…era muito dinheiro. Talvez, em pormenores como este, se entenda melhor a razão porque poucos conseguiam seguir os estudos e optavam pela vida laboral por cá ou no estrangeiro. “O dinheiro era caro”.
25 de Abril de 1974, o dia.
Estava eu a menos de 3 meses de fazer 17 anos.
Logo de manhã, no Liceu, ouvimos uns rumores do que algo se estava a passar no País, mas nada a que estivéssemos a dar demasiada importância.
Entretanto, na hora do almoço e no refeitório, o Dr. Subtil, a almoçar à minha frente, não tirava o transístor do ouvido e ia relatando os acontecimentos. Todos estavam em silêncio a escutar o que o Dr. Subtil ia transmitindo. Ele ouvia as notícias e repetia-as para nós todos irmos acompanhando o que se passava.
O Governo Caiu. Prenderam o Tomás e o Caetano. As tropas estão fora dos quartéis. O povo, em Lisboa e no Porto, está a invadir as ruas para apoiar o “Movimento das Forças Armadas”.
Apesar de tudo, nada de muito anormal se passou no Liceu e as aulas, que foram interrompidas de manhã, recomeçaram na parte de tarde. As horas e os dias seguintes, com muita informação, veiculada pelos órgãos de comunicação social, foram decisivas para começarmos a entender melhor as repercussões do que se estava a passar, efectivamente, em Portugal.
Chegou a Liberdade! Para nós, no início, não nos pareceu coisa de sobeja importância, mas, alguns de nós ao chegarmos a casa começámos a perceber que, para os nossos Pais, a importância era enorme. Eu sabia, por ele me ter dito, que o meu Pai tinha votado em 1958, no General Humberto Delgado.
Conversámos um pouco e fui entendendo melhor algumas coisas que pouco ou nada me tinham preocupado até ao momento. O meu Pai, que bem sabia a “peça” que tinha em casa, apenas me dizia: - Não te metas em confusões. No entanto meti-me. Nunca me arrependi. Eu sei, meu Pai, que querias "outros voos para mim". Desculpa mas trilhei o meu caminho, o caminho que LIVREMENTE escolhi... teve e tem espinhos e rosas... tal como todos os caminhos nesta passagem! Talvez me perdoes se eu te disser que nunca meti uma cunha, que nunca baixei a cerviz a nenhum ser humano, que nunca deixei de expressar o que penso e que jamais serei um "pau mandado".
Um grupo restrito de amigos, já tinha anteriormente a noção do Portugal das diferenças. Afinal a Ilha do Rei era mesmo ali ao lado do Liceu e muitas vezes surripiamos leite de nossa casa para levar aos miúdos da ilha do Rei. A sensibilidade estava latente.
Era hora de mobilizar. Portugal tinha mudado.
Em 1972, as propinas já custavam 125$00 x 3, ou seja 375$00 para a frequência mais 250$00 de inscrição. Era dinheiro para a altura…era muito dinheiro. Talvez, em pormenores como este, se entenda melhor a razão porque poucos conseguiam seguir os estudos e optavam pela vida laboral por cá ou no estrangeiro. “O dinheiro era caro”.
25 de Abril de 1974, o dia.
Estava eu a menos de 3 meses de fazer 17 anos.
Logo de manhã, no Liceu, ouvimos uns rumores do que algo se estava a passar no País, mas nada a que estivéssemos a dar demasiada importância.
Entretanto, na hora do almoço e no refeitório, o Dr. Subtil, a almoçar à minha frente, não tirava o transístor do ouvido e ia relatando os acontecimentos. Todos estavam em silêncio a escutar o que o Dr. Subtil ia transmitindo. Ele ouvia as notícias e repetia-as para nós todos irmos acompanhando o que se passava.
O Governo Caiu. Prenderam o Tomás e o Caetano. As tropas estão fora dos quartéis. O povo, em Lisboa e no Porto, está a invadir as ruas para apoiar o “Movimento das Forças Armadas”.
Apesar de tudo, nada de muito anormal se passou no Liceu e as aulas, que foram interrompidas de manhã, recomeçaram na parte de tarde. As horas e os dias seguintes, com muita informação, veiculada pelos órgãos de comunicação social, foram decisivas para começarmos a entender melhor as repercussões do que se estava a passar, efectivamente, em Portugal.
Chegou a Liberdade! Para nós, no início, não nos pareceu coisa de sobeja importância, mas, alguns de nós ao chegarmos a casa começámos a perceber que, para os nossos Pais, a importância era enorme. Eu sabia, por ele me ter dito, que o meu Pai tinha votado em 1958, no General Humberto Delgado.
Conversámos um pouco e fui entendendo melhor algumas coisas que pouco ou nada me tinham preocupado até ao momento. O meu Pai, que bem sabia a “peça” que tinha em casa, apenas me dizia: - Não te metas em confusões. No entanto meti-me. Nunca me arrependi. Eu sei, meu Pai, que querias "outros voos para mim". Desculpa mas trilhei o meu caminho, o caminho que LIVREMENTE escolhi... teve e tem espinhos e rosas... tal como todos os caminhos nesta passagem! Talvez me perdoes se eu te disser que nunca meti uma cunha, que nunca baixei a cerviz a nenhum ser humano, que nunca deixei de expressar o que penso e que jamais serei um "pau mandado".
Um grupo restrito de amigos, já tinha anteriormente a noção do Portugal das diferenças. Afinal a Ilha do Rei era mesmo ali ao lado do Liceu e muitas vezes surripiamos leite de nossa casa para levar aos miúdos da ilha do Rei. A sensibilidade estava latente.
Era hora de mobilizar. Portugal tinha mudado.
Dia 27 de abril de 1974 foi o dia de Bragança mostrar, na rua, o apoio ao Movimento das Forças Armadas. Lá estive... e fiquei rouco.
O próximo passo era o 1 de Maio de 1974. Eu mais o Lacerda empunhávamos uma faixa onde se podia ler: “Os estudantes ao lado do povo e sob a direcção da classe operária”.
Eram dias de euforia, talvez pouco racional, mas era assim por todo o lado. O povo estava na rua. E a hora era de festejos, euforia e esperança.
O próximo passo era o 1 de Maio de 1974. Eu mais o Lacerda empunhávamos uma faixa onde se podia ler: “Os estudantes ao lado do povo e sob a direcção da classe operária”.
Eram dias de euforia, talvez pouco racional, mas era assim por todo o lado. O povo estava na rua. E a hora era de festejos, euforia e esperança.
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