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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

domingo, 11 de junho de 2023

Bragança uma cidade de contrastes

Por: Fernando Calado
(colaborador do Memórias...e outras coisas...)

Os autarcas souberam aproveitar, duma forma conveniente, os fundos comunitários e a obra é uma realidade. Muito do que se fez está ao serviço da comunidade, é um bem público, uma mais valia, para uma cidade que se pretende moderna e com respostas de cultura e conforto para os cidadãos. Outras obras foram o sinal duma época, em que era preciso investir, aproveitar recursos disponíveis, embora a sua utilidade seja discutível e até possam ser um sorvedouro de dinheiro do erário público.
Contudo, "Deus quer, o Homem sonha e a obra nasce." (Fernando Pessoa) e por isso, a crítica positiva é sempre um ato de cidadania, um contributo para a reflexão e para encontrar outras soluções. Também sabemos que só quem faz, produz, pensa primeiro, é objeto de crítica e da inquietação do erro.
Mas Bragança é na verdade uma cidade de contrastes que se têm manifestado ao longo do seu devir histórico. Uma cidade de ricos e pobres, de guerra e paz, de ciclos de desenvolvimento breves e de estagnação prolongada.
A cidade, às vezes, parece que capitula na longa sombra da história. Em 28 de Maio de 1375, o rei D. Fernando promulga a lei das Sesmarias. O reino desertificava-se e a região de Bragança também sentia essa morte anunciada. "A lei pretendia obrigar os proprietários a cultivar as terras mediante pena de expropriação, obrigar ao trabalho na agricultura a todos os que fossem filhos ou netos de lavradores" Enfim, uma lei que promovia o regresso ao mundo rural e o povoamento das aldeias. Contudo, há problemas que não se resolvem por decreto e só com a vinda dos judeus, expulsos pelos reis católicos de Espanha, em 1492, é que a cidade conheceu elevados índices de desenvolvimentos, progresso e riqueza nomeadamente ao nível do comércio e da indústria da seda. Mas logo, no século dezanove, a cidade não resistiu à peste, à insalubridade galopante, a guerras e Bragança de novo assiste à desertificação e à miséria, com galinhas e porcos passeando-se livremente na praça da Sé e outras artérias citadinas.
A história repete-se e hoje assistimos à capitulação duma cidade que parecia próspera, no fulgor da construção civil e do comércio dos anos oitenta e noventa. E hoje, se a zona industrial e as grandes superfícies comerciais demonstram algum vigor económico, o pequeno comércio local definha a olhos vistos e constatamos, com muita regularidade, falências não espectáveis.
A qualquer hora do dia, ir ao centro da cidade de Bragança, é entrar num mundo nostálgico de recordações, é assistir, paulatinamente, à morte anunciada da zona histórica, é vivenciar o desespero dos comerciantes que abrem as portas e ficam dias inteiros encostados ao balcão na ausência de clientes.
Mas de nada servem estas insípida constatações se não promovermos um grande debate público para encontrarmos soluções para a zona histórica e para a sua dinamização.
Seremos, para todo o sempre, responsáveis, pelas nossas omissões e pela Bragança que recebemos dos nossos antepassados e queremos devolver engrandecida aos vindouros.

Fernando Calado
nasceu em 1951, em Milhão, Bragança. É licenciado em Filosofia pela Universidade do Porto e foi professor de Filosofia na Escola Secundária Abade de Baçal em Bragança. Curriculares do doutoramento na Universidade de Valladolid. Foi ainda professor na Escola Superior de Saúde de Bragança e no Instituto Jean Piaget de Macedo de Cavaleiros. Exerceu os cargos de Delegado dos Assuntos Consulares, Coordenador do Centro da Área Educativa e de Diretor do Centro de Formação Profissional do IEFP em Bragança. 
Publicou com assiduidade artigos de opinião e literários em vários Jornais. Foi diretor da revista cultural e etnográfica “Amigos de Bragança”.

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