A 10 de setembro de 1986, o Carlinhos desapareceu das vistas e dos dias. Inquieto na manhã desse dia, rezou na linha (hoje Av. Sá Carneiro), voltado para São Bartolomeu, como lhe era hábito. Depois, quando o sobrinho Zé saía para o trabalho disse-lhe que ia ter com a morte. «E tu a dar-lhe Carlos, sossega homem». E foi. Na noite daquele dia foi avistado em Castro Avelãs, a passar a ponte de Ariães e subir Formil acima. A família procurou e desesperou, o Bairro questionava-se e as autoridades intrigavam-se. Falava-se da Serra da Nogueira, onde as novenas tinham terminado dois dias antes, sem a sua presença. Foi passada a pente fino. Ter-se-ia perdido pela floresta e sido atacado pelos lobos, ou morrido de frio no Inverno que se assomava? O mistério permaneceu e passados meses as autoridades, à míngua de pistas, deram o caso como encerrado e o Carlinhos como desaparecido em parte incerta. O semanário Mensageiro de Bragança noticiou: «desapareceu João Carlos Pereira, figura muito conhecida em Bragança pelo nome de Carlinhos da Sé».
Na cidade o desaparecimento foi lamentado, a Praça da Sé, coração de Bragança, foi definhando com a perda do seu filho dileto e o encerramento do Snack-Bar Cruzeiro, e até as paredes da igreja entraram em pranto. Passou-se ano e meio até que, a 29 de Abril de 1988, foi encontrado um esqueleto na Serra. A GNR acorreu ao local e depois a família, que identificou o cadáver. Estava próximo da casa do guarda, numa ravina coberta de matagal, em direção a uma linha de água, no que parecia um sarcófago paleolítico. De novo o semanário Mensageiro de Bragança informava: «foi encontrado o esqueleto do Carlinhos da Sé, perto da aldeia de Formil, numa zona de difícil acesso. Foi um guarda-florestal que fez a descoberta. Pelas roupas foi possível identificar o cadáver». Há coisas inacreditáveis: Três pedras grandes definiam uma espécie de Dólmen, aconchego de um esqueleto intacto, deitado e vestido, em repouso na mansão dos mortos; uma camisa aos quadradinhos, por baixo de uma grossa camisola de lã, agasalhava o tronco, e calças com cinto castanho a rodear as presilhas; os ossos dos pés tinham uns quantos pares de meias a servir de aconchego; o casaco estava pendurado numa fenda da rocha e as sapatilhas alinhadas numa pequena plataforma; o boné repousava ao lado do corpo. Estava tudo em boa ordem. Pendurado no pescoço, o sempre presente crucifixo da avó Inês, no bolso do casaco a célebre meia de lã, pesada de moedas, e no das calças uma carteira de plástico com uma nota de 100 escudos do Camilo e uma de 50 escudos da Rainha Santa Isabel. E a sua navalhinha, claro.
O Carlinhos padeceu naquele local porque para ali foi chamado por vontade Divina. Na sua hora, o corpo foi depositado na Terra e a alma subiu ao Céu, em paz e perfeito sossego. Deus depositou-o dignamente, beijou-lhe a fronte, confortou-o e acolheu-o no Seu Reino. O Carlinhos era um inocente e um puro de coração, e se Deus ainda nos mantém ligados à Terra aos Carlinhos deste mundo se deve! Os restos mortais foram levados para a Igreja da Sé e ali foi velado. Não há memória de um funeral tão concorrido em Bragança. Novos e velhos, ricos e pobres, homens e mulheres, da cidade e das aldeias acorreram a prestar a última homenagem ao icónico conterrâneo. A celebração da Missa de corpo presente foi feita pelo cónego Luís Ruivo, coadjuvado pelo primo, o padre António. Uma missa que durou hora e meia e onde o elogio feito pelo celebrante lembrou a graciosidade e simplicidade do Carlinhos, a carismática figura de um brigantino de referência e a devoção e pobreza de um irmão de São Francisco. O próprio cónego Ruivo recordou, nessa altura, uma história pessoal: saiu um dia da igreja da Sé e encontrou o Carlinhos encostado nas arcadas, que lhe disse: “o sôr cónego já comeu o mata-bicho? Nã me parece, venha daí comigo ao Poças que eu lho pago, co corpo tamém precisa de alimento”.
Na cidade o desaparecimento foi lamentado, a Praça da Sé, coração de Bragança, foi definhando com a perda do seu filho dileto e o encerramento do Snack-Bar Cruzeiro, e até as paredes da igreja entraram em pranto. Passou-se ano e meio até que, a 29 de Abril de 1988, foi encontrado um esqueleto na Serra. A GNR acorreu ao local e depois a família, que identificou o cadáver. Estava próximo da casa do guarda, numa ravina coberta de matagal, em direção a uma linha de água, no que parecia um sarcófago paleolítico. De novo o semanário Mensageiro de Bragança informava: «foi encontrado o esqueleto do Carlinhos da Sé, perto da aldeia de Formil, numa zona de difícil acesso. Foi um guarda-florestal que fez a descoberta. Pelas roupas foi possível identificar o cadáver». Há coisas inacreditáveis: Três pedras grandes definiam uma espécie de Dólmen, aconchego de um esqueleto intacto, deitado e vestido, em repouso na mansão dos mortos; uma camisa aos quadradinhos, por baixo de uma grossa camisola de lã, agasalhava o tronco, e calças com cinto castanho a rodear as presilhas; os ossos dos pés tinham uns quantos pares de meias a servir de aconchego; o casaco estava pendurado numa fenda da rocha e as sapatilhas alinhadas numa pequena plataforma; o boné repousava ao lado do corpo. Estava tudo em boa ordem. Pendurado no pescoço, o sempre presente crucifixo da avó Inês, no bolso do casaco a célebre meia de lã, pesada de moedas, e no das calças uma carteira de plástico com uma nota de 100 escudos do Camilo e uma de 50 escudos da Rainha Santa Isabel. E a sua navalhinha, claro.
O Carlinhos padeceu naquele local porque para ali foi chamado por vontade Divina. Na sua hora, o corpo foi depositado na Terra e a alma subiu ao Céu, em paz e perfeito sossego. Deus depositou-o dignamente, beijou-lhe a fronte, confortou-o e acolheu-o no Seu Reino. O Carlinhos era um inocente e um puro de coração, e se Deus ainda nos mantém ligados à Terra aos Carlinhos deste mundo se deve! Os restos mortais foram levados para a Igreja da Sé e ali foi velado. Não há memória de um funeral tão concorrido em Bragança. Novos e velhos, ricos e pobres, homens e mulheres, da cidade e das aldeias acorreram a prestar a última homenagem ao icónico conterrâneo. A celebração da Missa de corpo presente foi feita pelo cónego Luís Ruivo, coadjuvado pelo primo, o padre António. Uma missa que durou hora e meia e onde o elogio feito pelo celebrante lembrou a graciosidade e simplicidade do Carlinhos, a carismática figura de um brigantino de referência e a devoção e pobreza de um irmão de São Francisco. O próprio cónego Ruivo recordou, nessa altura, uma história pessoal: saiu um dia da igreja da Sé e encontrou o Carlinhos encostado nas arcadas, que lhe disse: “o sôr cónego já comeu o mata-bicho? Nã me parece, venha daí comigo ao Poças que eu lho pago, co corpo tamém precisa de alimento”.
… Continua no próximo número …
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