Por: Maria dos Reis Gomes
(colaboradora do Memórias...e outras coisas...)
Na sequência da construção do “glossário - dos meus “estados de alma” - que iniciei com as publicações de 23 de Julho, hoje escrevo sobre os “descamisados”…. Não vou fazer história nem contar estórias sobre a vida de Eva Duarte de Perón, mas… sim, lembrei-me dela e da sua relação com os “descamisados”, na sua Argentina, e dos movimentos por justiça social.
Justiça social é o que falta neste mundo que desrespeitamos todos os dias. Numa população de cerca de 8,04 de bilhões de pessoas, mais de 780 milhões vivem abaixo do limiar da pobreza e 11% da população total vive em pobreza extrema, sem conseguir satisfazer necessidades básicas de alimentação, saúde, acesso a água e saneamento. *
Não vou fazer análise sociopolítica sobre os dados que acabo de expor e que se encontram ao alcance de quem os quiser consultar. Basta olharmos à nossa volta: as filas para aceder a uma refeição diária, aos sem-abrigo que estão nas ruas, defendendo-se do frio e dos ataques, nas estações de metro ou em qualquer pardieiro à espera que um qualquer cigarro, mal apagado, os faça desaparecer.
A miséria encapotada é mais que muita: filhos que continuam em casa dos pais apesar de trabalharem e desejarem a sua independência, novas famílias que não se formam, “velhas famílias” que se aguentam na mesma casa apesar de já não terem nada em comum, filhos que desaprendemos a amar e educar”, depositando na escola o que devia ser feito em casa. Sofremos pelos pais, pelos filhos e netos que não temos por perto. Despovoaram-se aldeias, onde só ficaram os “velhos”, abandonados e tristes, sem o poder reivindicativo de sindicatos que os defenda, num mundo de cada um por si.
Depois, porque não estamos bem, olhamos de “soslaio” e desconfiança todos aqueles que nos procuram, fugindo das guerras, da fome, da violência, e que, em vez da segurança que procuram, são acolhidos por gente que se aproveita da sua fragilidade, para os explorar sem qualquer escrúpulo. Já fomos de tudo: emigrantes e imigrados, refugiados e estrangeiros. E, apesar disso, sem querer entrar na verdade da nossa história, fica-me a sensação de que não conseguimos evitar que um passado colonizador contamine as nossas acções.
Não, não “somos todos um só”. A proximidade cultural, que o processo de mundialização nos permitiu imaginar, está longe de se concretizar. Não basta dizer, como afirma o biólogo americano Alan Templeton, que não existem raças, que as diferenças genéticas entre as mais distintas etnias são insignificantes e que o conceito de raça não é biológico, mas cultural.
Então, inferimos, que por mais semelhantes que sejamos, por mais camisas que já hoje consigamos envergar, os descamisados ou “despojados” da Eva Perón, continuam dramaticamente a existir, cada vez mais e em diferentes geografias.
Justiça social é o que falta neste mundo que desrespeitamos todos os dias. Numa população de cerca de 8,04 de bilhões de pessoas, mais de 780 milhões vivem abaixo do limiar da pobreza e 11% da população total vive em pobreza extrema, sem conseguir satisfazer necessidades básicas de alimentação, saúde, acesso a água e saneamento. *
Não vou fazer análise sociopolítica sobre os dados que acabo de expor e que se encontram ao alcance de quem os quiser consultar. Basta olharmos à nossa volta: as filas para aceder a uma refeição diária, aos sem-abrigo que estão nas ruas, defendendo-se do frio e dos ataques, nas estações de metro ou em qualquer pardieiro à espera que um qualquer cigarro, mal apagado, os faça desaparecer.
A miséria encapotada é mais que muita: filhos que continuam em casa dos pais apesar de trabalharem e desejarem a sua independência, novas famílias que não se formam, “velhas famílias” que se aguentam na mesma casa apesar de já não terem nada em comum, filhos que desaprendemos a amar e educar”, depositando na escola o que devia ser feito em casa. Sofremos pelos pais, pelos filhos e netos que não temos por perto. Despovoaram-se aldeias, onde só ficaram os “velhos”, abandonados e tristes, sem o poder reivindicativo de sindicatos que os defenda, num mundo de cada um por si.
Depois, porque não estamos bem, olhamos de “soslaio” e desconfiança todos aqueles que nos procuram, fugindo das guerras, da fome, da violência, e que, em vez da segurança que procuram, são acolhidos por gente que se aproveita da sua fragilidade, para os explorar sem qualquer escrúpulo. Já fomos de tudo: emigrantes e imigrados, refugiados e estrangeiros. E, apesar disso, sem querer entrar na verdade da nossa história, fica-me a sensação de que não conseguimos evitar que um passado colonizador contamine as nossas acções.
Não, não “somos todos um só”. A proximidade cultural, que o processo de mundialização nos permitiu imaginar, está longe de se concretizar. Não basta dizer, como afirma o biólogo americano Alan Templeton, que não existem raças, que as diferenças genéticas entre as mais distintas etnias são insignificantes e que o conceito de raça não é biológico, mas cultural.
Então, inferimos, que por mais semelhantes que sejamos, por mais camisas que já hoje consigamos envergar, os descamisados ou “despojados” da Eva Perón, continuam dramaticamente a existir, cada vez mais e em diferentes geografias.
Maria dos Reis Gomes
28 de setembro de 2023
*10% da população mundial controla 76% de toda a riqueza deste planeta, 50% dos mais pobres vão sobrevivendo com 2%, nós “os médios”, temos que trabalhar muito e ter alguma sorte para usufruir dos 22% que restam…
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