quinta-feira, 21 de setembro de 2023

O Grande Discurso da Terra

 De há uns anos para cá, a Terra tem vindo a mostrar-nos, através dum grande discurso ilustrativo, as graves consequências da má e inimaginável atuação do Homem para com ela. Certamente todos temos visto, ouvido e sentido esse grande discurso, mas parece que nem todos o têm compreendido ou não querem compreendê-lo.
Perante todo o desprezo e maldade com que o Homem a tem tratado, depois de muitos avisos, resolveu discursar. E, enquanto discursava, fez-nos observar, através de imagens bem nítidas, muito bem escolhidas e sobretudo trágicas, tudo quanto ia afirmando no seu discurso.
Imagens trágicas de fenómenos naturais, tais como: o vermelho da lava incandescente dos vulcões, que, vindo das suas insondáveis profundezas, vai rolando pelas encostas, queimando e destruindo tudo o que se lhe atravessa no caminho – edifícios, a fauna, a flora e o próprio ar, enquanto uma enorme nuvem de fumo lhe cobre a superfície e contamina a atmosfera; os arrepiantes estrondos dos sismos que, com uma força brutal, igualmente arrancados aos seus profundos abismos, percorrem furiosamente a distância que os leva até à superfície para, de forma inaudita, a fazerem tremer, rasgando-a em mil pedaços e cobrindo tudo quanto aí existe, sepultando quem é apanhado neste terrível momento, arrasando habitações que muitas vezes servem de túmulo, enquanto vão causando incêndios, desviando rios e ferindo montanhas, causando um pânico generalizado.
Os graves, grandes e ferozes conflitos (gerados no ódio!), que a têm assolado por toda a parte e mais a intimam a suportar a mortandade de pessoas e animais, a devastação de florestas e a tornar estéril uma imensidade de terras aráveis; as perfurações que sofre ao serem-lhe extraídos os minerais; a poluição dos mares e dos rios – tudo isto cada vez mais a vai empobrecendo e lhe vai retirando a capacidade de defesa.
São as fábricas que, com a poluição que provocam, contaminam igualmente o ar que se respira e remove à Terra a proteção natural dos raios do sol, provocando a grande alteração do clima, levando a que imensas camadas de gelo acabem por transformar-se em água, e consequentemente façam subir as águas do mar; e é precisamente aquela “grande alteração do clima” que faz com que as pessoas sofram grandes insolações e se vejam obrigadas a procurar água com que possam dessedentar-se e lugares frescos para que possam suportar a ferocidade de um sol escaldante! Também a alteração do clima vai provocando grandes secas em terrenos que necessitam da água para germinarem as plantas e os pastos, fazendo com que muitos animais morram à fome.
E então, perante tanta ferocidade que muito a faz sofrer, não podendo conter as lágrimas, imprevistamente as derrama em abundância sobre si própria, ora formando lagos, ora grandes enxurradas que levam tudo à sua frente, afogando pessoas, desmantelando as suas habitações, arrastando veículos, cavando crateras, onde toda a espécie de lixo se amontoa, numa desorganização que causa medo!
Houve cimeiras sobre o clima; e em algumas, muitos participantes concordaram em criar condições para que as decisões aí tomadas fossem cumpridas.
No entanto, até agora, pouco de bom foi alcançado.
Perante as previsões que os serviços especializados nos dão a conhecer, a continuar-se assim, com tanta falta de atenção pelos constantes apelos da Terra, tanto os ambientalistas como as sempre crescentes manifestações da juventude não deixam de chamar a atenção de quem tem o poder de vir a modificar esta atitude em relação ao Planeta que habitamos, responsabilizando, ao mesmo tempo, esse poder por tanto descuido e desinteresse.

Manuel António Gouveia

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