Número total de visualizações do Blogue

Pesquisar neste blogue

Aderir a este Blogue

Sobre o Blogue

SOBRE O BLOG: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blog, apenas vinculam os respetivos autores.

terça-feira, 12 de setembro de 2023

Do mal ficaram-me as bofetadas na lembrança

Por: António Pires 
(colaborador do "Memórias...e outras coisas...")

Ao que consta, numa imprecisa noite do longínquo e conturbado “Verão quente de 1975” – ainda a nossa Democracia estava no berçário -, por causa da Política, um senhor conhecido cá da terra (Bragança), alto e espadaúdo, conotado com a Direita, deu dois pares de estalos a um jovem chamado Paulino, franzino, que militava nos êmeêrres ou coisa parecida. Dado que a luta entre ambos era desigual, a “vítima”, lançada ao tapete, não esperou pela segunda dose, e fez o que todos nós, tomados pela sensatez, faríamos, numa situação semelhante: levantou-se do chão, e lançou-se numa corrida desenfreada, lembrando-se do significado do aforismo “quem tem cu tem medo”.
Já em “terra firme”, o Paulino, que tinha umas cordas vocais que dispensavam o auxílio de qualquer amplificador de som, jura vingança: “vais-mas pagar, nem que eu tenha de esperar até seres velho!”. Uma promessa que, infelizmente, o Paulino não conseguiu cumprir, porque envelhecer não é um privilégio de todos.  Nenhum dos dois o teve.
Sempre que recordo o episódio supra, lembro-me das duas bofetadas que ficaram indelevelmente marcadas na minha memória. A maioria das pessoas recorda, “…do Bem, se algum houve”, o amor da sua vida, o filme da sua vida, as férias da sua vida, a música da sua vida, etc,. Eu recordo, sem magoa ou qualquer trauma, essas duas humilhantes e injustas lambadas. O curioso é que nenhuma delas, consumadas em momentos diferentes, foram dadas pelos meus pais ou pela minha professora primária. Só acontecera – azar dos Távoras - , porque me encontrava no lugar errado à hora errada.
Tinha 12 anos. Era aluno do primeiro ano do Ciclo Preparatório, matriculado na turma M. Foi no início do lectivo. Fui tomado de amores por uma donzela do mesmo ano, da turma B, de seu nome Clara. Tinha uma beleza angelical, poética. Parecia a Branca de Neve. Recordo-me de ter tocado a campainha para um dos intervalos da manhã. Como, nestas idades, as crianças se querem ver fora da sala o mais rápido possível, a saída é feita aos atropelos. Não sei qual o motivo, mas fui o último a sair. Quando o faço, dou-me conta que, no mesmo corredor, a Clarinha estava a chorar, por lhe terem atirado com os livros ao chão. A minha pessoa, qual Cavaleiro da Távola Redonda, vem em socorro da “amada”, ajudando- a apanhar os “manuais” - como agora se diz. Levanto-me, e qual não é o meu espanto, o professor Amaral, que ali passava no momento, dá-me um  estaladão,  e, por uma orelha, leva-me ao Conselho Directivo. Mal entro no gabinete, o Presidente, o Dr. Abreu, que era meu professor de Português, olhou, perplexo, p´ ra mim, tal era a estranha da presença do “cliente”, e observou: “Tu por aqui, Francisco – assim me chamava ele?! Não é de ti!”. É evidente que o Dr. Abreu sabia que aqui o Francisco jamais o desiludiria. E assim se absolveu o réu, inocente!
A primeira bofetada, episódio que teve como palco o passeio junto ao antigo quiosque do senhor Costa, mesmo à saída do Ciclo, foi, em relação à primeira, espaçada no tempo por alguns meses – julgo que em Maio desse ano de 74.
Saía eu da “fatídica” Escola (risos), no final do último tempo lectivo, e vejo uma criança, com 2/3 anos, a chorar, porque o gelado que estava a chupar - de cone -, mas não o do Néné! (risos) – lhe tinha caído ao chão, resultado da queda que tinha dado. Mais uma vez, e no apelo ao mais básico dos sentimentos humanos, a solidariedade, fui consolar aquele miúdo (criança, tal como eu), ajudando-o a levantar. Qual o prémio com que fui contemplado pelo nobre gesto? Uma estrondosa lambada do progenitor, o Sr. Queirós, dono duma fábrica de bolos nos Batocos. 
Nunca pensei vingar-me dos meus “agressores”. Como não fiquei traumatizado, nem precisei de ir ao psicólogo, a ”ferida” foi sarando naturalmente. Pois, ainda que já tenham decorrido quase 50 anos sobre estes dois episódios, não os consigo ver senão com uma certa piada.
 
António Pires


António Pires
, natural de Vale de Frades/S. Joanico, Vimioso. 
Residente em Bragança.
Liceu Nacional de Bragança, FLUP, DRAPN.

Sem comentários:

Enviar um comentário