Das primeiras notícias referentes à sacralidade do local, «As Memórias de Bragança», de José Cardoso Borges (1621), referem que «no mais alto se vê a ermida de S. Bartolomeu, que por este nome o faz conhecido e também pelos muitos mananciais de excelente água em que se desata». Relativo a 1634, o Abade de Baçal dá notícia que o Bispo de Miranda, D. Jorge de Melo, mandou que se procedesse a obras na ermida. Mais tarde,, até meados do século XX o promontório do cabeço esteve em relativo estado de ignorância e a ermida em degradação. Até que certo dia um caçador, quando ali comia a merenda, lhe aflorou a ideia de potenciar o espaço com vista panorâmica para a cidade, reconstruir o templo e fazer renascer a romaria. Dito e feito, João da Cruz Dias Parente (1913-2001), administrador do Hospital da Santa Casa da Misericórdia de Bragança, desenvolveu os melhores ofícios para congregar vontades institucionais e particulares de modo a tornar o monte de São Bartolomeu um lugar religioso, turístico e lúdico.
O projeto paisagístico foi assumido pelo arquiteto Albino Mendo, colega de Liceu de Dias Parente, e as obras custeadas pela Câmara Municipal de Bragança e as juntas de freguesia de Samil e de São Pedro. Em 1947, estava organizada a comissão de Festas, presidida pelo mentor. Foram então construídas a casa da mordomia, da quermesse e de guarda do fogo-de-artifício e procedeu-se à inauguração do miradouro pelo Governador-civil, cabendo ao padre Luís Ruivo os ofícios litúrgicos. No ano seguinte, inauguraram-se dois coretos (só subsiste um) e, em 1949, iniciou-se a construção da icónica escadaria voltada para o castelo a Norte, dando acesso pedonal ao santuário a partir da «Estrada do Turismo». No lado oposto, em 1951 rasgou-se a estrada para acesso de pessoas, viaturas e animais. Com um novo e mais personalizado templo religioso, inaugurado em 1955, o alto de São Bartolomeu ganhou nova vida e recolocou-se no mapa da cidade. A festa, celebrada a 24 de agosto, tornou-se muito concorrida por romeiros da cidade e aldeias limítrofes. Celebrada dois dias depois da solenidade de Nossa Senhora das Graças, as festividades quase se fundiam. Mas a partir de finais do século XX o fulgor religioso esvaiu-se e o espaço perdeu funcionalidade!
Sobrelevada e como que a velar a urbe, a Igreja assenta numa primeira estrutura que serve interiormente de arrumos. O edifício tem dois volumes assimétricos, o correspondente à nave e o relativo ao altar-mor, mais baixo e estreito e orientado para Nascente. É de linhas direitas, rebocado e pintado de branco e telhados de dupla água com quatro pináculos piramidais nos cantos. A frontaria, com escadas laterais de acesso, porta de ferro e cinco janelas emolduradas em arcos de volta perfeita, termina em empena interrompida pelo campanário. Este é de dupla sineira em vãos de arco de volta perfeita, com pináculos piramidais na cornija, onde assenta pequena estrutura triangular, com vão para uma terceira sineira. É coroado por cruz de ferro em calha. As fachadas laterais são rasgadas por duas janelas gradeadas e a posterior é cega, a terminar em empena, centrada por pequena cruz de pedra.
No interior do templo, bem iluminado por nove pontos de entrada de luz, sobressai singelo altar-mor, elevado por plataforma de mármore. A talha é pintada a branco e a mesa, em forma de urna, tem filamentos e elementos fitomórficos a dourado. O retábulo, à face, é em meia-lua, sendo o nicho, que acolhe o Orago São Bartolomeu, definido por decoração vegetalista. De veste azul e manto vermelho com bordado dourado, a mão que segura a Sagrada Escritura prende o Demónio por corrente, enquanto o pisa. A mão direita ergue a arma do martírio.
Ver e ser visto, do Santuário de São Bartolomeu descortina-se uma vista ímpar da cidade.
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