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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

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COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

sexta-feira, 16 de agosto de 2024

A Escola da Estação e a Igreja da Sé - A Escola da Estação e os garotos que a frequentaram

 Por: António Orlando dos Santos (Bombadas)
(colaborador do "Memórias...e outras coisas...")


A Escola da Estação e a Igreja da Sé

Estas duas instituições estavam ligadas no meu entendimento, como se os recursos humanos, que se apresentavam como autênticos baluartes e mais que pareciam os servos da casa do Imperador do Reino da China. 
O Senhor Machado a quem nós chamávamos de Machadinho e ele condescendia e limitava-se a resmungar e a dar-se como vencido na sua batalha de aturar todos os galfarros que vinham de todos os bairros do lado sul da cidade, Coxa, Loreto de Cima & Debaixo, Boavista, Caleja e toda uma retaguarda de gabirus que lhe moíam a paciência.
Eu particularmente achava que nós estávamos a abusar do pobre Machadinho, mas a vontade de nos controlar já havia morrido e já falhavam os seus movimentos, que o obrigavam a ter de se controlar para não cair. A garotada compreendia que o Machadinho estava doente e nenhum de nós lhe tocava com um dedo que fosse, limitando-nos a fazermos-lhe perguntas que o aborreciam e o tiravam do sério.
Não posso pensar hoje neste homem sem que pense igualmente nele quando nós garotos, mal-educados lhe atazanávamos a paciência e ele respondia que se não nos portássemos bem para com ele o Senhor nos castigaria.
Dos pecados que cometi em companhia da galfarrada do meu tempo e as chatices que lhe causamos das quais eu peço perdão ao Altíssimo por mim e todos os que como eu pecamos contra Deus por todo o mal àquele que foi Sacristão da Sé por mais de cinquenta anos.
A tia Rosa era irmã do Machadinho e era ela que fazia a limpeza na Igreja da Sé. Quando eu me recordo do meu tempo de menino e dela vem-me à ideia a Senhora Rosa e a sua figura no mínimo original: Usava invariavelmente um casaco de homem no qual trazia nos bolsos uma quantidade inumerável de chaves que tilintavam e lhe alargavam os bolsos dado as chaves serem todas grandes e ferrugentas. Havia quem dissesse que as havia recolhido das vestes de S. Pedro numa ocasião em que foi necessário mudar-lhe as santas vestes porque a traça lhe havia delido as que trazia há um tempo demasiado longo.
Bom, muitos eram os motivos típicos do imaginário que lhe construíram os adultos e os mais novos que ela ignorava limitando-se a beber mais um copo que lhe humedecia a garganta e a fazia aumentar a sua sede, que ela saciava com uns copos que eram a sua sede e cansaço ! Era uma mulher de armas e que tinha uma tarefa nobre e delicada que ela cumpria dedicadamente e com humildade e nobreza.

A Escola da Estação e os garotos que a frequentaram.

Quando no ano 1956 pela mão de minha mãe, me aproximei da Escola da Estação o edifício estava pintado de amarelo ocre de um tom que lhe dava uma semelhança com as flores amarelas do Outono. Na minha inocência achei que dentro houvesse algo de diferente se comparado com o mundo que cá fora que eu vira e desfrutara. Constituíam o quadro de docência a D. Beatriz Monteiro, que estava ladeada pela D. Aninhas de Castro e por D. Maria de Lurdes Almeida que era a mais nova na fila que me coube vi que estava uma senhora já de idade mas que possuía um rosto sereno e um leve cabelo cor de prata com laivos de dourado.
Era essa a minha professora que me haveria de ensinar as letras, os números e a composição que ainda hoje me guia pois a ensinança foi de qualidade e o aluno conseguiu levar a carta a Garcia. A D. Isabel permanece no meu pensamento como a responsável pela minha paixão pelas letras que por sortilégio hoje tenho possibilidade de poder desfrutar. Dos meus amigos que fizeram a Escola comigo e ainda hoje o são, pois sempre que o acaso nos junta somos todos como nos tempos da Escola da Estação. Este parágrafo foi alvitrado por ela na altura como um incentivo que nos motivasse nos estudos e na vida do dia-a-dia após que a nossa vida se encaminhasse para os estudos ou na vida comercial ou operária. Acontece que a vida não é propriamente o que desejamos.
Segui o caminho que Deus destinou e arquei com compromissos que cumpri dentro da minha disponibilidade.
Quando deixei a Escola a minha vida passou a ser absorvida pelo trabalho que penso soube aprender e melhorar tendo feito o meu dever e até hoje a D. Isabel Belchior foi a pessoa que mais influência positiva na minha vida. O título desta crónica pode parecer descabido mas eu resolvi que fosse assim porque o edifício da nossa Escola lá continua, hoje de branco, austero q.b. com o seu arco de entrada e com uma dignidade que lhe advém da antiguidade e do risco do Arquiteto que o seu passado lhe confere.



Bragança, 14 de Agosto de 2024
A. O. dos Santos
(Bombadas)

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