Quintas de Rio Frio é um pequeno povoado pertencente à freguesia de Carragosa, juntamente com a aldeia de Soutelo da Gamoeda. Situado 11 km a Nordeste de Bragança e a 1 km a Sudeste de Carragosa – desvio da EN308-3. Existe como freguesia desde os alvores da nacionalidade, de onde emerge, curiosamente, a primitiva paróquia de Carragosa. Em verdade, no «Catálogo de todas as igrejas, comendas e mosteiros (…)», elencadas por Dinis em 1320-21 para taxação destinada a custear a guerra contra os mouros, a de Santa Marinha contribuía com 125 libras, enquanto a de Santa Maria de Carragosa com apenas 15 libras. Esta chegou a ser sufragânea daquela.
O mosteiro leonês de Moreruela administrava casais no povoado. Em 1517, a instâncias do rei D. Manuel I, o Papa Leão X concedeu ao Duque de Bragança, D. Jaime I, a conversão de 15 paróquias em comendas da Ordem de Cristo, das quais fazia parte a denominada Rio Frio de Carragosa. Com a instalação dos Jesuítas em Bragança, o lugar de Vale de Salgueiro, nos termos da localidade, passou para usufruto do Colégio do Bom Jesus, garantindo-lhe rendimentos de 860 reis. As «Memórias Paroquiais de 1758» apontam a ermida de Santa Marinha “fora do lugar” (de Carragosa). Situava-se então a 1 km da atual capela, hoje área de souto! Registe-se ainda que o General Francisco da Silveira, 1.º Conde de Amarante, herói nacional da Guerra contra os franceses e sucessor do General Manuel Sepúlveda como Governador de armas de Trás-os-Montes, foi seu comendador. Santa Marinha é orago único em templos católicos do concelho de Bragança. Mas de qual se trata? A de Braga e Águas Santas/Orense, séc. II; Antioquia, séc. III; da Bitínia, séc. VI-VII! Por ser mártir, atendendo a devoção peninsular antiga e à iconografia da imagem exposta no altar da Capela de Quintas de Rio Frio, depreendemos tratar-se de Santa Marinha de Antioquia.
A imagem, que se diz recuperada da antiga ermida, está coroada e tem como atributos a palma do martírio, o Livro Sagrado e um dragão aos pés. Conta-se que a donzela foi entregue pelo pai, um pagão socialmente relevante, aos cuidados de uma ama que, sem o saber, era cristã e assim a educou na fé. Mais tarde, o governador local Oliario pretendeu desposá-la. Recusou, assumindo-se cristã e virgem. Foi presa junto com um dragão, que afastou fazendo o sinal da cruz. Depois foi sujeita a humilhante interrogatório público e torturada, aparecendo um pomba que lhe colocou uma coroa na cabeça enquanto citava os santos Evangelhos. Por fim, foi degolada a 20 de julho de 290, aos 15 anos de idade. A capela, com adro em pedra datado de 1920, foi requalificada entre 2011 e 2017, altura em que as paredes em pedra rústica se sobrepuseram à alvenaria pintada de branco, com exceção do pequeno campanário. O pano frontal, em empena truncada, sobrelevado relativamente à cobertura da nave, tem portal de verga reta. A fachada direita rasga janela encaixilhada de vitral com imagem de Santa Marinha em tons de azul. Do lado esquerdo subsistem vestígios de porta entaipada.
O interior apresenta cobertura de madeira em masseira, pia de água benta adossada à parede fundeira e um reposteiro a cobrir a referida porta tapada. O altar eleva-se por supedâneo de madeira, com avançada mesa das celebrações em granito. Com retábulo de três eixos de estilo indistinto, policromado e decoração a dourado, tem mesa em forma de urna com frontal vegetalista e embasamento definido por gavetões a rosa. Centraliza o Orago Santa Marinha, com tela azul e floreados a rosa, de moldura recortada. Os eixos laterais, com imagens da Virgem Maria, são definidos por pilastras exteriores brancas e colunas interiores azuis de fuste liso com marca vegetalista, unidos por cornija. As colunas apresentam capitéis de simplificação coríntia e jónica. O ático, a branco, é de bordo recortado, com cartela cimeira e pilastras laterais sobrepujadas com vasos e volutas adossadas. “Pretendes que renuncie ao Céu e escolha em vez disso o pó da terra?”
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