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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

segunda-feira, 23 de dezembro de 2024

Mascaradas solsticiais são uma marca identitária

 No Norte e Centro do país, as festas das máscaras, associadas ao Solstício de Inverno, estão a ganhar uma nova identidade, graças ao cuidado das populações na preservação destas tradições ancestrais.


“Há um ressurgimento do orgulho pela identidade cultural”, disse o investigador Roberto Afonso, colecionador de máscaras populares. “Possivelmente, isso acontece em tempos de crise e, nos últimos anos, na atual conjuntura, levou a que as pessoas se apegassem às suas tradições, àquilo com que realmente as identificam e é seu. Estas tradições são tão nossas e da nossa terra, que podem ter ajudado neste reencontro”.

Segundo o investigador, as festas do solstício quase desapareceram com a emigração e a Guerra Colonial, e com ações posteriores, de alguns setores da sociedade, que procuraram impor ou seguir hábitos mais sofisticados, tidos como “de maior nível”.

“Esta tipo de manifestação cultural era considerada por alguns intelectuais como provincianas e para contrariar esta corrente, as populações meteram mãos à obra e fizeram ressurgir estas iniciativas e manter o seu orgulho neste legado que foi passando ao longo de gerações”, vincou Roberto Afonso.

As gerações mais novas são as responsáveis por este regresso das mascaradas portuguesas, “porque são elementos distintivos do país, onde o Nordeste Transmontano se destaca”, disse.

Das 45 mascaradas que atualmente se realizam em Portugal, 36 decorrem nos distrito de Bragança, onde o concelho do Mogadouro conta seis rituais, seguindo-se Bragança, Miranda do Douro, Macedo de Cavaleiros, Vimioso, Vinhais, Torre de Moncorvo, Mirandela e Alfândega da Fé.

De acordo com o investigador Roberto Afonso, as mascaradas portuguesas de inverno têm o seu arranque no dia 31 de outubro, na povoação de Cidões, Vinhais, com a Festa da Cabra e do Canhoto.

Seguem-se, em dezembro, a partir do dia 13, dia de Santa Luzia, as festas do Velho e da Galdrapa, em São Pedro da Silva (Miranda do Douro), prosseguindo depois, durante o ciclo dos 12 dias entre o Natal e a Epifania, as festas nos concelhos de Bragança (Aveleda, Grijó, Parada, Pinela, Rebordãos e Varge), Macedo de Cavaleiros (Arcas), Miranda do Douro (Constantim e Vila Chã de Braciosa), Mirandela (Torre de Dona Chama), Mogadouro (Bemposta, Bruçó, Tó, Vale de Porco, Valverde e Vilarinho dos Galegos) e Vinhais (Ousilhão, Rebordelo, Travanca e Vale das Fontes).

Neste período, de 26 de dezembro a 6 de janeiro, o período do solstício em que as máscaras assumem maior protagonismo, a maior parte das manifestações – sem sacrifício de outras evocações – é dedicada a Santo Estêvão, primeiro mártir do cristianismo, dito padroeiro dos rapazes.

Os festejos com mascarados prosseguem depois durante o Carnaval, em diversas localidades do país, sendo alguns mais mediatizados e turísticos, como é o caso do Entrudo Chocalheiro de Podence, em Macedo de Cavaleiros, reconhecido Património Cultural Imaterial da Humanidade, pela Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO), em 2019, e que já constitui um dos principais cartazes turísticos da região.

Outras manifestações, apesar da sua escala mais local, distinguem-se também pelas tradicionais máscaras, transgressoras e indiferenciadas entre si, e pelos trajes usados nos seus rituais.

“Sem tecer quaisquer considerações relativamente aos carnavais urbanos que assumiram já uma massiva dimensão comercial e mediática – Loulé, Madeira, Sesimbra, Torres Vedras, Ovar, Funchal, entre outros -, merecem especial menção algumas manifestações que vão acontecendo espontaneamente em diversas localidades e que mantêm traços de ancestralidade e genuinidade”, prosseguiu Roberto Afonso.

O investigador dá como exemplo os entrudos de Castro Laboreiro (Melgaço, Viana do Castelo, protagonizado por Farrangalheiros, mulheres que tapam a cara com rendas e usam um ‘garruço’ em forma de cone e tiras de papel coloridas), das Aldeias de Xisto (Góis, Coimbra), de Ílhavo (Aveiro), de Lagoa de Mira (Coimbra), de Lazarim (Lamego), o Entrudo Lagarteiro de Vilar de Amargo (Figueira de Castelo Rodrigo, Guarda), e os entrudos de Sambade (Alfândega da Fé), de Lagarelhos (Vinhais), de Vila Boa (Vinhais), de Vinhais, de Cardanha (Moncorvo) e de Santulhão (Vimioso).

As festividades deste período do ciclo de inverno culminam na quarta-feira de Cinzas, primeiro dia da Quaresma, dia em que a Morte e os Diabos saem à rua em Bragança, Edrosa (Vinhais) e Vinhais.

Fora do Solstício de Inverno acontece, atualmente, uma única festa com mascarados em Portugal, a 24 de junho, Dia de São João, na localidade de Sobrado (Valongo, Porto), designada de Bugiada e Mouriscada.

O investigador Antero Neto, responsável pelo ressurgimento de várias destas tradições no Planalto Mirandês, é da opinião de que há muitas destas mascaradas não será possível recuperar, alertando para o cuidado de não se cair em tentações de inventar.

“Não se pode cair na tentação ridícula de inventar, porque são [tradições] genuínas”, disse à Lusa o autor de diversas obras nos domínios histórico, antropológico e etnográfico do planalto mirandês. “A recuperação deste tipo de iniciativas tem de ser verdadeiramente documentada. Sou crítico destas atitudes que estão ser tomadas por algumas coletividades que apresentam este tipo de tradições adulteradas e não estudadas”, frisou o autor de “As Festas de Inverno e os Mascarados de Valverde”.

Para Antero Neto, a tradição oral das populações é o verdadeiro legado para a recuperação destas tradições milenares.

António Pinelo Tiza, membro da Academia da Máscara Ibérica, disse à Lusa haver igualmente um trabalho na região de fronteira para preservar estes ritos ancestrais ligados às máscaras solsticiais.

“As ‘mascadas’ na Península Ibérica estão vivas e reúnem à sua volta muitas pessoas, desde investigadores a grupos de mascarados, estando mesmo em curso um processo de reconhecimento a nível mundial destas tradições”, enfatizou.

Em Mogadouro, está patente, até ao próximo dia 23 de fevereiro, a exposição itinerante “Máscaras Rituais de Portugal – Coleção de Roberto Afonso”, ordenada cronologicamente, que estabelece um roteiro das mascaradas em Portugal.

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