A população de São Pedro da Silva, no concelho de Miranda do Douro, recriou no Domingo, dia 22 de dezembro, o tradicional peditório para a Festa em honra de Santa Luzia, que consiste num antigo ritual protagonizado pelos mascarados “O Velho e a Galdrapa”, cuja missão é ir de casa em casa, recolher as dádivas e convidar as pessoas a festa.
A festa em honra de Santa Luzia, com o ritual do Velho e da Galdrapa é uma das festas de solstício de Inverno, no concelho de Miranda do Douro.
Para o presidente da União de Freguesias de Silva e Águas Vivas, Silvino Silva, a Festa de Santa Luzia, animada com o ritual do peditório é uma marca identitária da aldeia que importa preservar e promover.
“A freguesia de Silva, em conjunto com a associação cultural e recreativa local e o município de Miranda do Douro, estamos a trabalhar para preservar e promover esta festa de solstício de inverno, na região e no país. Para isso, procuramos envolver a população local, convidando todos a participar na festa e a conviver no almoço comunitário. Simultaneamente, estamos a trabalhar para tornar a festa mais interessante e apelativa para quem nos visita. E este ano, inauguramos o mural com os mascarados do “Velho e a Galdrapa” e foi apresentado um livro de contos sobre estas festas de mascarados na região”, indicou.
Em representação do município de Miranda do Douro, o vereador, Vitor Bernardo, felicitou a população de São Pedro da Silva, pela recuperação desta antiga tradição, que vem enriquecer o património cultural do concelho.
“A festa de Santa Luzia, com o ritual do Velho e a Galdrapa, em conjunto com as festas de solstício de Inverno das aldeias de Constantim (27 a 29 de dezembro) e de Vila Chã da Braciosa (1 de janeiro) são um património cultural valiosíssimo, que importa preservar e dar a conhecer. Para o município de Miranda do Douro, a cultura é um importante fator de desenvolvimento turístico, social e económico, em particular nestes meses de dezembro e janeiro”, justificou.
Sobre a candidatura apresentada pelo município de Miranda do Douro, das Festas de Solstício de Inverno, ao Inventário do Património Cultural Imaterial, o etnógrafo, Mário Correia, indicou que as três festividades estão a ser analisadas separadamente.
“Acredito que a Festa de Santa Luzia ou do Velho e a Galdrapa, em São Pedro da Silva; a Festa de São João Evangelista ou Fiesta dos Moços, em Constantim; e a Festa do Menino – Fiesta De L Menino, em Vila Chã da Braciosa, lá para meados de 2025, vão ser aprovadas e inscritas no Inventário Nacional do Património Cultural Imaterial”, indicou.
De acordo com Alfredo Cameirão, da Associação Cultural e Recreativa de Silva, a tradição do peditório para a Festa em honra de Santa Luzia, feito pelos mascarados do Velho e da Galdrapa, foi desaparecendo a partir da década de 1960, devido ao êxodo populacional provocado pela emigração para França e para as ex-colónias, em África
“Na década de 1990, houve uma primeira tentativa de recuperar esta antigo ritual da festa de Santa Luzia. Mas foi a partir de 2013, com exceção dos dois anos da pandemia, que conseguimos voltar a realizar, ininterruptamente, o peditório encenado pelas figuras mascaradas do Velho, e Galdrapa e os Bailadores”, explicou.
Matilde Anes, emigrante em Pamplona, Espanha, aproveitou esta altura do ano para regressar à aldeia natal e participar no ritual do Velho e da Galdrapa. Disse recordar-se desta tradição desde a sua infância, tempos em que as famílias ainda matavam o porco para depois fazer o fumeiro.
“Naquele tempo, o peditório para a festa em honra de Santa Luzia era realizado por estas figuras mascaradas, o Velho e a Galdrapa, que nas visitas às famílias, entravam pela casas adentro e sorrateiramente roubavam chouriças, alheiras e salpicões, para no final fazer um leilão no adro da igreja. Durante tarde, a festa continuava com um baile”, recordou.
Teodoro, outro ex-emigrante, decidiu regressar definitivamente a São Pedro da Silva, após 50 anos de trabalho, em França. Ao receber em sua casa, a visita das figuras mascaradas do Velho e e Galdrapa, ofereceu-lhes uma chouriça e um salpicão.
“Regressei a Portugal, há dois anos, para me instalar em São Pedro da Silva, onde estou criar cavalos. Gosto muito de viver na aldeia e dou os parabéns à organização pela recuperação desta antiga tradição na festa de Santa Luzia”, disse.
Victor Diez e Rosa Villace, vieram de Léon (Espanha), para conhecer e participar na festa do Velho e da Galdrapa, em São Pedro da Silva. O casal de espanhóis disse interessar-se pelo património cultural imaterial comum nos dois lados da fronteira.
“Estamos a documentar todo o saber que está na origem destas festas de inverno, no nordeste transmontano”, disseram.
Este ano, a festa de solstício de inverno, em São Pedro da Silva, teve como novidades a inauguração do mural dedicado aos mascarados “O Velho e a Galdrapa” e a apresentação do livro de contos “Pretérito Imperfeito”.
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