No Estabelecimento Prisional de Bragança, longe da família, há reclusos que aproveitam os dias de hoje e de amanhã para reflectir. É o caso de José Bernardino. “Pensar no que se fez e no que nos trouxe aqui. Quando alguém comete um erro tem de o pagar. É um momento de reflexão. Não estou revoltado. Estou a cumprir o que me calhou”.
Com 63 anos, o recluso chegou à cadeia este ano e este é o primeiro Natal que vive longe de quem mais gosta. Ainda assim, amanhã tem uma visita especial. “Eu falo com a família que me é próxima antes e depois do Natal. É só na noite de Consoada que não falamos. E dia 25 tenho visita da minha esposa”.
Ao contrário deste recluso, há alguns que passam a quadra em casa. Estão autorizados a sair da cadeia alguns dias mas, antes de irem embora, o Estabelecimento Prisional celebra a festa de Natal, de forma a que todos estejam juntos. A festa deste ano já aconteceu, na sexta-feira, e contou com animação pela tarde fora.
Abílio Carvalho é um dos reclusos que pertence ao grupo de música da prisão de Bragança e que abrilhantou a festa. Este ano passa o Natal em casa. É a primeira vez que o faz desde que está preso e pode estar com a mulher e o filho, de quatro anos. E até vem aí um novo membro… “A minha companheira está grávida de quatro meses e é bom passar o Natal com a família. Já fui mais vezes a casa, já tenho precárias desde Março, mas é a primeira vez que vou a casa no Natal. Estou com muitas expectativas”.
Abílio Carvalho tem 25 anos e está preso há três. Os outros natais passou-os longe da família e garante que é muito diferente. “Aqui, longe da família é mais triste. O Natal aqui é um bocado complicado”.
Tal como este recluso, Manuel Bernardo também vai, pela primeira vez, a casa no Natal. É de Madrid e como não pode sair do país, a família, que tem em Espanha, ruma a Bragança para o ver. “Já fui três vezes a casa mas este é o primeiro Natal. Estou contente com a emoção de sair. Os meus filhos e irmãos vêm a Bragança só para estarem comigo, para passarmos o Natal todos juntos”.
Manuel Bernardo está há cinco anos sem passar o Natal com a família. Os últimos foram na prisão e, claro, é muito diferente. “Aqui é um bocado triste. Pensamos na família e vemo-nos aqui sozinhos. Aqui não se faz nada. Comemos e acabou”.
Na prisão, a festa de Natal acontece todos os anos. O director do Estabelecimento Prisional de Bragança, Nuno Pires, assume que o que é mais importante não falta nem pode faltar a estes reclusos. “Têm aconchego, têm tudo, o básico, o que lhes faz falta, alimentação, cama, mesa, têm tudo, até alimentação de qualidade e relacionada com a época que se está a tratar. Portanto, alguns sentem o conforto que não terão, eventualmente, muitas vezes, em casa”.
Este ano, a festa na prisão, além do grupo musical da cadeia, recebeu o Grupo Terra Firme, que pertence à Associação Cultural e Recreativa do Bairro da Mãe d’Água.
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