Tinham passado alguns anos desde a batalha que marcou a história de Outeiro. As cicatrizes do conflito ainda estavam visíveis em algumas casas e ruas, mas a aldeia prosperava novamente.
Tomé, agora homem feito, caminhava pelas ruas, observando os jovens a praticarem movimentos com lanças e espadas de madeira, sob o olhar atento de João que sorria discretamente, lembrando-se do garoto que, anos atrás, tremia ao empunhar a espada pela primeira vez. O medo tinha-se transformado em confiança, e a coragem de cada aldeão tinha sido um exemplo para a próxima geração.
Maria, com cabelos ligeiramente grisalhos, percorria as casas e o campo, cuidando da saúde de todos e ensinando os mais jovens sobre ervas, curativos e cuidados com os feridos. A sua presença transmitia segurança, mas também lembrava que o cuidado e a compaixão eram tão essenciais como a força nas batalhas.
João treinava um grupo de adolescentes, ensinando-os a conhecer os trilhos da aldeia, as árvores, as pedras do vale. Explicava como o conhecimento do terreno poderia salvar vidas e como a estratégia e a coragem caminhavam juntas. Os jovens escutavam atentos, absorvendo todas as palavras, todos os gestos, as lições herdadas de homens e mulheres que tinham feito a Matança de Outeiro.
O velho Tiago já não caminhava pelas ruas com a mesma firmeza de outros tempos, mas o seu espírito permanecia. Sentava-se à sombra do canhão sobre o cavalete, agora limpo e polido, e contava histórias da batalha às crianças e jovens que se reuniam à volta dele, com os olhos a brilhar de fascínio.
- Lembrem-se sempre, dizia Tiago, a Matança não é só um nome. É coragem, união e memória. Não deixem que o tempo apague isso.
O canhão permanecia como símbolo da bravura da aldeia, mas a verdadeira essência da Matança vivia em Outeiro, nas pessoas e na memória coletiva.
Tomé, Maria e João percebiam que o seu papel ia para além da proteção física da aldeia. Eram eles os guardiões da história, responsáveis por transmitir aos mais jovens o que significava coragem, sacrifício e amor pela terra. As histórias contadas à noite sobre a batalha eram uma semente para que a memória da Matança jamais se apagasse.
A memória é o elo que une os vivos aos que já partiram
À medida que o sol se punha sobre a colina da Matança, Tomé, Maria e João observavam o horizonte. A aldeia respirava, forte e viva, e as sombras alongadas do crepúsculo lembravam-lhes que o legado de Outeiro era eterno. A Matança permanecia, como um campo de batalha, mas também como símbolo de coragem, resiliência e memória, um farol para todos os que viriam depois, lembrando que, mesmo diante da morte e do medo, um povo unido jamais se rende ou cede.
Outeiro continuava a viver, a ensinar e a inspirar, contando a mesma verdade. A bravura de um povo não se mede apenas na guerra, mas na força da sua memória e na coragem de quem mantém viva a história.
FIM

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