30.julho.1890 – 13.novembro.1890
TORRE DE MONCORVO, 27.2.1842 – TORRE DE MONCORVO, 26.6.1922
Médico.
Licenciado em Medicina pela Universidade de Coimbra.
Procurador à Junta Geral do Distrito de Bragança. Governador civil de Bragança (1890,
1891-1892, 1893-1894, 1904, 1906 e 1908-1909). Deputado (1902-1904). Presidente da Câmara
Municipal de Torre de Moncorvo (1914-1918).
Natural de Torre de Moncorvo.
Filho de Luís José Ferreira Margarido e de Ana Benedita de Amaral.
Agraciado com a Carta do Conselho (1895), à qual renunciou.
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Ferreira Margarido ingressou na Universidade de Coimbra em outubro de 1858, no curso de Matemática. Em 1861, matriculou-se em Medicina, na mesma Universidade de Coimbra, concluindo o bacharelato em 1866.
Em 1868, depois de defender a sua tese, Breves considerações acerca do garrotilho e do seu tratamento, na Escola Médico-Cirúrgica do Porto, foi nomeado médico municipal de Figueira de Castelo Rodrigo, sendo transferido em fevereiro de 1871 para idêntico cargo em Mértola, onde foi também subdelegado de saúde, até 1876. Neste ano, foi transferido para a sua terra natal, Torre de Moncorvo, onde permaneceria até falecer. Em Moncorvo, foi também, durante dezenas de anos, médico-cirurgião.
Quanto ao seu percurso político, em 1880 ingressou no Partido Regenerador, tornando-se de imediato um vulto primacial desse partido, devido à sua extrema popularidade, nomeadamente enquanto chefe regenerador em Moncorvo, onde foi diretor político do jornal Moncorvense. Começou por ser nomeado procurador à Junta Geral do Distrito de Bragança, e nas eleições de 6 de outubro de 1900 foi eleito para a Câmara dos Deputados, pelo círculo de Bragança, para a legislatura de 1902-1904 ( juramento a 24.2.1902). Interveio uma única vez no Parlamento, para declarar que, se tivesse estado presente, teria votadon favoravelmente os projetos de lei relativos ao convénio com os credores externos e aos caminhos-de-ferro de Bragança e Vila Real.
António Joaquim Ferreira Margarido foi o governador civil do distrito de Bragança com o maior número de mandatos, tendo sido nomeado por seis vezes, entre 1890 e 1908, a traduzir a sua competência no cargo e a sua reputação no nordeste trasmontano.
Foi nomeado pela primeira vez por decreto de 30 de julho de 1890, tomando posse a 1 de setembro do mesmo ano, na presença do governador civil substituto António Claudino Fernandes Pereira (exoneração a 13 de novembro seguinte); segunda vez por despacho de 16 de julho de 1891, tomando posse a 28 do mesmo mês (exoneração a 7.4.1892); terceira vez por despacho de 14 de dezembro de 1893, tomando posse a 1 de janeiro de 1894, na presença de Tomás de Sá, governador civil substituto em exercício (exoneração a 13.12.1894); quarta vez por decreto de 24 de setembro de 1904 (exoneração a 18.10.1904); quinta vez por decreto de 22 de março de 1906, tomando posse a 4 de abril seguinte (exoneração a 17.5.1906); sexta e última vez por decreto de 22 de fevereiro de 1908, tomando posse a 9 de março do mesmo ano (exoneração a 14.1.1909).
Em 2 de janeiro de 1914, a um mês de completar 72 anos de vida, tomou posse como presidente da Câmara Municipal de Torre de Moncorvo, cargo em que permaneceu durante quatro anos, até janeiro de 1918.
Manteve-se, contudo, militantemente monárquico até ao fim dos seus dias – pese embora, em fevereiro de 1911, tenha manifestado “oficialmente” a sua adesão à República, durante uma visita de João de Freitas a Moncorvo –, a tal ponto que foi em sua casa que os “velhos monárquicos” de Torre de Moncorvo reuniram aquando da malograda Monarquia do Norte, em janeiro de 1919, após ser proclamada no concelho a restauração monárquica, para ali ser decidida a nova composição da Câmara local.
Faleceu naquela mesma casa, três anos mais tarde, a 26 de junho de 1922, aos oitenta anos, solteiro e sem descendentes. Mais tarde, foi homenageado por Torre de Moncorvo com a atribuição do seu nome a uma rua central da vila, a Rua Dr. Margarido, designação que ainda hoje mantém.
Artigo de opinião a propósito da nomeação de Ferreira Margarido para o Governo Civil de Bragança (1890)
O Governador Civil
É certo como podem ser certas as coisas humanas, e especialmente as coisas políticas, que vai ser muito brevemente nomeado governador civil deste distrito o Sr. Dr. António Ferreira Margarido; não obstante a guerra que lhe tem sido feita pela gente “charulácea”, o Governo sustenta a promessa que lhe fez por ocasião das eleições.
O Sr. Charula deu-se a perros por não ficar ele governador civil efetivo pelo menos três meses.
Alegava os seus bons serviços, mostrava a sua grande influência, apontava os recursos de que sabia usar para vencer eleições; e demonstrava que sem ele o partido “charuláceo”, perdão, o partido “firmináceo”… mau – o Partido Regenerador ficaria reduzido a zero multiplicado por qualquer quantidade finita, que representasse a corte do Sr. Margarido.
Tentou o Sr. Charula primeiramente as negociações: que remédio senão curvar-se a gente para alcançar as honras! É muito verdadeira a frase do evangelho – “os últimos serão os primeiros” –; e efetivamente, cá na nossa sociedade, quem mais se roja é quem mais se levanta.
Não deram porém as negociações resultado algum, mas o Sr. Charula nem por isso desistiu do seu plano. Escreveu-se uma representação, que em frase bombástica mostrava que o Partido Regenerador do distrito seria ferido no coração pela preterição do Sr. Charula; e os administradores de vários concelhos e alguns políticos rançosos assinaram essa peça de oratória pirotécnica. Nada importou: sobre os nomes dos administradores de Bragança, Vinhais, Vimioso, Macedo e Mirandela, prevaleceu o acordo feito na época eleitoral; a rubrica do juiz de direito de Mogadouro, a escrita do comissário de polícia e as assinaturas dos vários asteroides que satelitam Charula não fizeram demover de seu rumo o astro maior da política do norte – a cabeça do Sr. Lopo Vaz.
É ponto assente: o Dr. Ferreira Margarido tomará posse do lugar de governador civil deste distrito até ao dia 20 deste mês.
Pela nossa parte, não gostamos nem desgostamos, “antes pelo contrário”; e apenas estamos ansiosos por ver as “caras de confiança” com que ao novo governador se apresentarão os administradores do concelho, que insinuaram para o ministro que o Dr. Margarido não era da confiança do Partido Regenerador do distrito.
Como se deve patentear bem a cor amarela nos sorrisos que se esforçarão por mostrar-se prazenteiros! E se ainda os cumprimentos houvessem de ser feitos a Margaridas … mas a Margaridos! Já é estar com a macaca!
Fonte: O Nordeste, 2.º Ano, n.º 9, 8.7.1890, página 1.
Fontes e Bibliografia
Arquivo Distrital de Bragança, Autos de Posse (1845-1928).
Arquivo da Universidade de Coimbra, documentos vários.
Diário da Câmara dos Deputados, 1902-1904.
O Mirandez, 10.12.1894.
O Nordeste, 2.º Ano, n.º 9, 8.7.1890.
ALVES, Francisco Manuel. 2000. Memórias arqueológico-históricas do distrito de Bragança, vol. VII. Bragança:
Câmara Municipal de Bragança / Instituto Português de Museus.
MÓNICA, Maria Filomena (coord.). 2004. Dicionário Biográfico Parlamentar (1834-1910), vol. II. Lisboa: Assembleia da República.
Publicação da C.M. Bragança
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