Sequência dando à «Parte I», Castro de Avelãs parece ter sido um local central em épocas bastante recuadas. Os Romanos deverão tê-lo percebido, pois aí fizeram confluir as duas derivações da Via XVII que atravessam o norte do distrito. E parece a importância ter prosseguido através do período de permanência de Suevos e Visigodos por estas bandas, com referências, já no século VI, ao «pagus Vergancia», ou «Vergantia», noutras versões. Designação que se aplicava a uma terra, enquanto divisão eclesiástico-administrativa, a qual, por documentos posteriores, se pode presumir que não se situaria no local onde hoje se ergue a cidade de Bragança. Mas já lá iremos…
Será já por época Visigoda, no século VII, que poderá ter ocorrido a primeira fundação de um mosteiro em Castro de Avelãs, por influência de Frutuoso de Braga, ou de Dume, bispo Visigodo mais conhecido por São Frutuoso. Porém, a imposição da regra Beneditina terá ocorrido apenas no século XI, construído sendo o mosteiro com as características que hoje ainda são visíveis no que dele restou, no século XII, muito por influência dos seus patronos, os Bragançãos. Daí vinda a rocambolesca história de um Abade D. Mendo, que parece ter existido, ao qual se associou a fundação da estirpe dos Bragançãos, por um D. Mendo Alão, que terá raptado uma princesa arménia que ia em peregrinação a Santiago de Compostela… Que Castro de Avelãs também fazia parte dos Caminhos de Santiago… Adiante…
O mosteiro, sob a protecção dos Bragançãos, atingiria patamares inimagináveis. O seu poder estendeu-se, particularmente aos territórios dos actuais concelhos de Bragança, Macedo de Cavaleiros e Vinhais, onde detinham um património incomensurável. O seu poder era de tal ordem que concediam forais, algo que seria exclusivo dos reis! Ou os seus Abades nomeavam párocos beneditinos para diversas paróquias nas quais detinham o padroado. Ou detinham a capacidade para enfrentar reis, que receavam o poder dos Abades. Ou tanta coisa… Como, por exemplo, ao que tudo aponta, terem efectuado uma troca na qual se incluía a propriedade na qual nasceria… Bragança. A história do Mosteiro de Castro de Avelãs é fantástica!
Sabe-se, hoje, que as dimensões da igreja eram consideravelmente superiores, tratando-se de um templo de três naves. Adossado ao qual existia um claustro, e em cujo perímetro havia uma cerca do mosteiro, onde existiam, por exemplo, o Paço dos Dom Abades ou a Casa das Oficinas. Como tal, o que podemos ver hoje é uma pequeníssima amostra do que já foi. Como facilmente poderá imaginar-se, tal era o património detido pelo mosteiro, os seus rendimentos eram elevadíssimos (eram mesmo!). O que gerou a cobiça de alguns… E assim morreria o Mosteiro de Castro de Avelãs…
Muitos deverão saber que, bem recentemente, se celebraram os 480 anos sobre a criação da Diocese de Miranda. O que muitos não deverão saber é que essa criação foi feita à custa… dos rendimentos do Mosteiro de Castro de Avelãs! Isto é, para se criar uma nova Diocese era preciso aquilo «com que se compram melões». E, nessa época, já havia os «lobbies», os jogos de interesses e os «grupos de pressão». Naturalmente, os assombrosos rendimentos do mosteiro foram alvo da já referida cobiça. E não tardou a que o Papa decretasse a sua extinção, anexando as avultadas rendas do mosteiro à nova Diocese criada. “Ele hai cousas do catantcho”!…
O Cabido da Sé ainda por lá se instalou, mas não tardaria a abandonar as instalações, que já começavam a arruinar-se. Apenas porque o Bispo de Miranda autorização deu para a delapidação dos bens do mosteiro. Não só foram vendidos diversos materiais, como muitos foram cedidos, nomeadamente madeira e tijolos, utilizados que foram noutros edifícios, particularmente em Bragança. Alguns deles ainda existência têm, e por lá moram muitos materiais «roubados» do Mosteiro de Castro de Avelãs. O qual, entretanto, se arruinaria irremediavelmente. No final do século XVII, a igreja já se encontrava quase completamente em ruínas.
Até que, no século XVIII, para o Povo poder assistir aos ofícios divinos, necessário foi construir uma nova nave, a parte do corpo da igreja que hoje por lá se mantém. A qual também sofreria quase irreparáveis perdas, tal como a capela-mor, não tivessem sido intervenções, especialmente nos anos 60 e 70 do século passado, retratadas nas fotos que acompanham este texto. Parece ser uma sina esta desvalorização que fazemos em relação ao património… Com essa sina, e com certos modos de estar, quase se obliterou a história da mais majestosa instituição monástica que tivemos no distrito de Bragança.
Desejando que as memórias não se apaguem de vez...



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