Número total de visualizações do Blogue

Pesquisar neste blogue

Aderir a este Blogue

Sobre o Blogue

SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite, Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues, João Cameira e Rui Rendeiro Sousa.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

quarta-feira, 15 de outubro de 2025

Outra vez a “tchuba” e… trocamos os «vês» pelos «bês»?


 Vamos ver… Ou, honrando a genuína pronúncia a que me habituei, “bamus a bere” (e, um destes dias, já cá virei para expor a opção da utilização do [u] ao invés do [o], ou o do uso da paragoge do [e] – que tudo tem uma explicação…). Por hoje, fico-me pelo “boi e à baca”, ou pelo “bou a Biana”, ou pelo “barri co’a bassoura”… “Bô?!”… 

Do que conheço dos idiomas falados na Península Ibérica, o Português é o único no qual se pronuncia o [v] como [vê]. A letra existindo em Castelhano, em Galego, em Asturiano, em Aragonês, em Catalão e em Basco, em todas elas se pronunciando, no entanto, como [b] ou [β], dependendo da posição que a palavra ocupa numa frase. Correspondendo o fonema [β] a uma forma mais suave e rápida de pronúncia. Como tal, o som [vê] não existe na Península, para lá do Português. Existindo, igualmente, nas outras duas Línguas latinas que conheço, o Francês e o Italiano. 

Feita esta introdução, para os interessados, só trocamos os [vês] pelos [bês] caso falemos em «língua fidalga», o Português. Fenómenos fonológico que toma o curioso nome de betacismo… “Todabia”, antes de falarmos Português, outros idiomas se falaram pela nossa região. A começar pelos pré-romanos, dos quais pouco ou nada sabemos, substituídos que foram pelo Latim. Porém, no Latim, não obstante existir a letra [v], a mesma não se pronunciava como [vê], mas sim com um som assemelhado a [u]. Ou seja, o vinho, em Latim «vinus», era pronunciado como «uinus», sendo que o som [u] era muito semelhante àquele que sai quando pronunciamos o nome da aplicação «WhatsApp» ou, para quem conheça o Inglês, a palavra «window». Assim como «villa», se lia como «uila»... 

Sem entrar em muitos detalhes, no Latim, o [u] e o [v] alternavam nas palavras, possuindo, todavia, o mesmo som. Provavelmente já deverão ter visto a célebre «Domus Municipalis» grafada, em alguns escritos, como «DOMVS MVNICIPALIS». Ou, para quem conheça a entrada lateral do edifício da Câmara Municipal de Macedo, por lá consta a gravação «TRIBVNAL». Inscrição essa que, quando catraio era, sempre contestava, afirmando que, para lá de mal escrita, se leria «trib’venal». Outras histórias…

Entretanto, nos primeiros tempos dos idiomas nascidos a partir do Latim, o som [vê] não existia, apenas o [bê]. Posteriormente, o tal [v] latino, pronunciado como [u], evoluiria para um som semelhante ao fonema [β], anteriormente mencionado. Só muito posteriormente, se convencionou, na Língua Portuguesa, a adopção do som [vê] para a letra [v]. Muito depois, por exemplo, das primeiras edições d’«OS LVSIADAS», que assim surgia escrito, tal como o seu autor aparecia como «LVIS». E só já entrado o século XVIII é que começou a haver uma perfeita distinção na pronúncia do [v] e do [b]. Distinção esta aplicada pela «norma culta» emanada a partir da capital, mas que apenas teve aplicação efectiva nas regiões do centro-sul de Portugal. Os chamados «dialectos setentrionais» persistiram na não distinção entre o [v] e o [b]. 

«Dialectos setentrionais» nos quais se inclui a, agora, Língua Oficial, o «nosso Mirandés». Língua essa em cujo alfabeto a letra [v] nem sequer existe! Para os que, eventualmente, o desconheçam, o «Mirandés», até bem tarde, era falado numa franja territorial muito mais alargada do que a actual, na qual se incluíam, no total ou em parte, a quase globalidade dos concelhos do distrito. Como tal, por históricas e linguísticas razões, não podemos trocar o que não temos, o [v], por aquilo que, efectivamente, sempre tivemos, o [b]. Então, “biba” esta tão nossa distinta forma de falar e, em simultâneo, se em Português for, viva!

Esperando, com estas incursões, dar um humilde contributo para o incremento no conhecimento sobre a «língua tcharra», fala essa que em muito antecedeu a chegada da «língua fidalga» a estas bandas. Mantendo que muito orgulho também tenho na tal de «língua fidalga», a tão nossa Língua Portuguesa. Porém, na «língua tcharra» não tenho orgulho… O que tenho tenho mesmo, é “proa”!

Rui Rendeiro Sousa

Sem comentários:

Enviar um comentário