O arquitecto Gonçalo Ribeiro Telles criticou a falta de visibilidade dos decisores políticos no que respeita ao ordenamento do território e defendeu a urgência de se voltar a harmonizar a cidade com o campo.
Falando no âmbito Conferência da ONU sobre Desenvolvimento Sustentável Rio + 20, que decorrerá no Rio de Janeiro, Brasil, até 22 de Junho, Ribeiro Telles recordou que a «cidade esteve sempre ligada ao campo, à área do território que a envolve e de que depende quer quanto à água, quer quanto a alimentos, quer quando a recreio».
«Esse aspecto perdeu-se com o mecanicismo e com uma visão social completamente sectorial em que o que interessa é a exploração do trabalho», disse o especialista.
Para o arquitecto, a cidade do futuro «necessita de uma interligação com o campo» e «o campo de que a cidade mais directamente depende é a horticultura».
«Hoje não se explica uma situação de planeamento urbano e expansão urbana sem paralelamente se ter uma política de sustentabilidade através da horticultura que tem funções de produção económicas, de recreio e de cultura», afirmou.
No entanto, frisou que «esta mentalidade não conseguiu ainda vencer em muitos dos decisores do planeamento» e admitiu que será uma tarefa «muito difícil porque é necessário que as classes da decisão tenham um conhecimento do que é a vida humana da actualidade», que, na sua opinião, «não têm».
Segundo o arquitecto, tal é também visível nos planos directores municipais que, em muitos casos «não têm os objectivos da relação cidade-campo».
Gonçalo Ribeiro Telles admitiu que tem sido feito algum esforço para contrariar essa situação, mas classificou-o de «muito inglório» e exemplificou: «basta ver a facilidade com que solos de grande capacidade para a produção agrícola estão neste momento a ser ocupados pela expansão urbana».
O arquitecto sublinhou que a maior parte das vezes esses «volumes urbanos ficam vazios ou quase vazios».
«Há crescimento daquele solo plano, que é o que mais interessa à agricultura e esse está a ser ocupado muitas vezes pela expansão urbana, com o desaparecimento da sustentabilidade necessária e economicamente viável dos espaços de recreio que as populações necessitam», acrescentou.
Questionado se as cidades estão planeadas para fazer face a catástrofes naturais, o especialista ironizou que «o que se teme não são os desastres em relação à população, são as catástrofes em relação ao dinheiro empatado que não rende» por os edifícios estarem vazios.
E acrescentou que, se ocorrer outro sismo em Lisboa, «também não há problema porque se [os edifícios] estiverem vazios de população podem cair à vontade».
«Talvez deixem entulho onde se possa vir mais tarde a fazer agricultura», concluiu.
Também o vice-presidente da Associação Portuguesa de Arquitextos Paisagistas (APAP), Luís Cabral, defende que «a ecologia deve estar presente nas cidades porque ela existe mesmo que rompida».
Afirmando que as «cidades se localizaram em sítios que alimentavam as pessoas», o arquitecto disse que «esquecer de onde provêm é um erro em que os autarcas persistem».
«Mas não é de todo uma oportunidade perdida, é uma oportunidade para repensar e recuperar as cidades neste sentido», adiantou.
«Há aspectos que dantes eram sempre encarados porque a escala temporal era muitíssimo maior e as pessoas não construíam as casas nos leitos de cheias e havia uma memória de gerações que hoje em dia a voracidade financeira e de construção esquece e apaga. Mas, volta e meia, aparecem sinais disso como o que aconteceu no vale de Alcântara com um autocarro a entrar para dentro do vale», frisou Luís Cabral.
Apesar de considerar que os políticos «estão pouco sensibilizados ou pouco interessados» nesta matéria, o arquitecto ressalvou que alguns «repararam que se estava a construir demais e avançaram mais na recuperação do património edificado do que na construção desenfreada».
Para o vice-presidente da APAP, Portugal «ainda está a tempo de melhorar as condições» porque «vêem-se casos de sucesso e de recuperação bem-feitos em várias ocasiões».
Por seu lado, o engenheiro José Vieira defendeu que se devia dotar as cidades de «infra-estruturas resilientes, que sobrevivam a desafios desse género [catástrofes naturais]».
Como exemplo, disse que, para combater situações de seca, os edifícios deviam de ter planos de segurança de água ou reutilização da água da chuva.
in:cafeportugal.net
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