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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

segunda-feira, 25 de junho de 2012

Trás-os-Montes - Uma realidade rural contada por crianças

A realidade rural na Somália, em França, na Argentina… não será muito diferente de Portugal. Quem tem terra, a chamada terra de onde de lá nunca se saiu ou de quem diz «vou passar férias à terra», conhece bem esta existência. Concretizando, a terra de que aqui falo é «Trás-os-Montes», descrita eximiamente por Tiago Patrício.
A Gradiva tem agora nas livrarias o seu primeiro romance, distinguido com o Prémio Literário Revelação Agustina Bessa Luís 2011.
Numa aldeia de Trás-os-Montes vivem quatro crianças – Teodoro, Raquel, Edgar e Óscar. A aldeia tem a forma de uma cruz, tem duas igrejas, dois cemitérios, duas estações de comboio e um comboio a vapor. Depois há o campo, as hortas, os lameiros e os palheiros onde o gado passa a noite.
As crianças vão à escola e depois têm o resto do tempo livre, excepto algumas tarefas a cumprir. Depois da lida, seja na mercearia, na quinta ou em casa, ficam na rua até anoitecer e serem chamados para jantar. Enquanto isso, com tanto tempo por sua conta, aventuram-se nas coisas dos adultos. Experimentam fumar, roubam revistas pornográficas que vão lendo às escondidas junto ao riacho, conduzem carros, ateiam incêndios e até simulam um funeral.
Nesta realidade, é fácil arranjar caçadeiras. Matam-se pássaros e outros animais. As crianças aqui são cruéis, com os animais e com elas próprias. Mas é assim que são educadas e é assim que crescem.
Neste enredo de Tiago Patrício, também há espaço para enamoramentos, avós muito velhinhas, mães e pais que emigraram para parte incerta, e gente bruta que não sabe ser de outra forma. Pessoas que não conhecem o gesto de um afecto, talvez porque nunca o tenham recebido. Pessoas que trabalham a terra de sol a sol e que à noite resguardam-se junto à lareira enquanto desmancham camisolas velhas para aproveitar a lã para fazer novas. Os miúdos, no exterior, a brincar nos lameiros, inventam expedições, enquanto brincam com côdeas de pão na mão e apanham fruta das figueiras.
À noite, as mulheres ficam em casa. Os homens vão para o café. Ali, naquela aldeia, o tempo, quem o dita, é o Sol, e as colheitas, e a passagem do comboio e o sino da igreja. É o quotidiano de uma pequena aldeia de Trás-os-Montes que cabe num pequeno romance. Pequeno mas notável na sua forma descritiva, sucinta e incrivelmente fidedigna do que continua a ser o Portugal rural.

Sandra Gonçalves in DD

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