Teodoro, uma criança obcecada com simetrias, e Lameira, uma aldeia com a forma de um T, mas, que, vista de cima, faz lembrar uma cruz gamada. Abrem-se assim as surpreendentes pouco mais de 150 páginas de Trás-os-Montes, romance vencedor do Prémio Literário Revelação Agustina Bessa-Luís 2011.
Tiago Patrício, 32 anos, começou a escrevê-lo aos 19, a partir das suas memórias de infância e adolescência passadas naquela região. Retomou-o em 2010, reescrevendo-o para o referido concurso, já depois de se formar e de trabalhar como farmacêutico, de começar a escrever poesia e peças de teatro, de integrar por várias vezes o programa Jovens Criadores, de passar por várias residências artísticas e de criar o blogue Cartas de Praga. Como resultado, surgiu este romance concentrado na velocidade da narração e na intensidade dos retratos e dos gestos das personagens.
É, antes de mais, audaz a opção do autor em evocar a presença do Mal no mundo da infância. Em Trás-os-Montes, como em Jardim de Cimento, de Ian McEwan, ou Olho de Gato, de Margaret Atwood, a relação privada entre as crianças é um território onde a maldade está presente, mais do que como imitação ou reflexo dos gestos dos adultos, como forma de descoberta, de afirmação ou de aliança. Após uma série de pequenas transgressões, Teodoro e os seus amigos Edgar e Óscar cometem um acto de violência atroz sobre outra criança (o romance termina com uma outra morte).
Avançamos em retrospectiva até o conhecer e aos seus contornos e conhecermos o universo mental e quotidiano, as dores, as perdas e os sonhos de cada uma destas crianças (também de Raquel, irmã de Óscar) e o seu lugar naquela aldeia em forma de cruz. Trás-os-Montes não é uma tragédia moral nem um romance de análise psicológica. É, sobretudo, uma história bem contada e gerida, com uma voz e uma intencionalidade pouco frequentes numa primeira obra.
Por: Filipa Melo
Sol
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Congratulo-me com a publicação de mais uma obra de um autor de Tras os Montes.
ResponderEliminarUm livro a ler com muita atenção, pelo tema que trata.