(colaborador do "Memórias...e outras coisas...")
O tio Abel morava numa casa junto ao rio Fervença em Bragança. Comerciante rico no mister de comprar e vender tudo o que o negócio recomendasse. Coisas de judeus. Já frequentava o Cube de Bragança e tratava o Director do Banco de Portugal, o Comandante de Infantaria 10 e o Governador Civil por tu cá, tu lá, por isso, o tio Abel era respeitado na cidade e amigo de ajudar a desembaraçar as teias burocráticas dos bancos e das Finanças.
O tio Abel tinha um sobrinho chamado Serafim, a quem comprou um macho e mandou pelo mundo a negociar.
- Saiu-me fino este Serafim!
Dizia o tio Abel no orgulho de judeu velho e terminava a frase sempre da mesma maneira, piscando um olho miudinho e acendendo um cigarro:
- Este diabo faz dinheiro de tudo! E sorria matreiro.
Todos os dias estava no Jardim José de Almeida um velho mendigo que governava a vida a tirar retratos à lá minute… e já tinha fotografado toda a família do tio Abel que acediam à fotografia para ajudar a governar a vida ao homem do mundo. Assim na roda das fotográficas por caridade, também tocou a vez ao jovem Serafim.
Aqui o tio Abel primou, o rapaz merecia. Encomendou para o Serafim um fato novo, um boné e o homem dos retratos foi chamado a casa.
- Ora vamos lá então! Dizia o retratista.
- Vamos pôr um braço apoiado! Como no cinema! Cigarro na outra mão… que luxo… isso mesmo!... Olhe para a minha mão… não mexa… já está!
E ali estava o meu pai… Serafim doa Anjos Calado… retratado… para sempre... à espera que eu nascesse… para contar a história!
… aqui fica meu pai… meu menino!
Publicou com assiduidade artigos de opinião e literários em vários Jornais. Foi diretor da revista cultural e etnográfica “Amigos de Bragança”.
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