O Jornal Nordeste sabe que a reunião dos associados, no dia 12, foi palco de uma discussão acesa, que terá tido origem no pedido de explicações sobre a aquisição, por parte do gerente da entidade, de três terrenos que eram explorados pela cooperativa. As propriedades rústicas estavam, desde 1970, abrangidas por um contrato de cedência de exploração, entre a cooperativa e os proprietários, e só podiam sair deste regime caso fosse paga uma indemnização pela retirada das terras, determinada pelo valor das benfeitorias calculadas pela cooperativa. Esta entidade de gestão agrícola tinha direito de preferência do terreno, mas não o terá exercido.
O presidente da mesa da assembleia pediu à direcção que fosse retirado das funções o gerente e que lhe fosse instaurado um processo disciplinar, sob pena de a situação “afectar gravemente a credibilidade da cooperativa e inquinar a relação de confiança entre dirigentes e entre estes e os associados, no caso de ficarem dúvidas quanto à isenção e exemplaridade das suas actuações e comportamentos”. Joaquim Ribeiro considera mesmo que há “indícios fortes da prática de actos não permitidos por lei e causadores de prejuízos pecuniários e reputacionais sérios à cooperativa”. Depois de todos os elementos da direcção terem apresentado a demissão, a 17 de Janeiro, a mesa da assembleia decidiu aceitar o pedido, mas diz não aceitar os motivos.
Não comentando o que se passou na última assembleia, o presidente da direcção, que está à frente da cooperativa há 14 anos, Eduardo Tavares, explicou que apresentou a demissão, a par dos restantes membros, porque se está a aproximar a apresentação do relatório de gestão, em Março. “Entendíamos que este é o momento ideal, de forma até antecipada, para promover uma reflexão e discussão interna para poder permitir que haja novas pessoas, novos projectos e ideias para levar por diante esta importante instituição do concelho”, afirma o responsável.
O também presidente da câmara de Alfândega da Fé afirma que “aguarda com expectativa que seja feito esse acto eleitoral”. Apesar da demissão, a direcção deixa “uma palavra de tranquilidade aos associados”, garantindo que “tudo fará para que a instituição continue a trabalhar de forma normal”.
Apesar do debate aceso na última assembleia, Eduardo Tavares entende que não se tratou de “nada de anormal” e acrescenta que “a cooperativa sempre viveu destes momentos” e que a “discussão à volta das questões da agricultura, do rendimento, do azeite e dos pesos é normal”. Acrescenta que “há momentos de altos e baixos, discussões e querelas” por vezes nas cooperativas, mas que “não vale a pena dar grande valor”, considerado que o importante é a estratégia para a instituição.
Na próxima Assembleia Geral, marcada para dia 16, será discutida a constituição de uma comissão administrativa, com poderes de gestão corrente, que possa fazer uma auditoria às contas da cooperativa, apresentar queixas no Ministério Público em relação aos factos apurados, instaurar procedimento disciplinar ao gerente da cooperativa, com o propósito de proceder ao seu despedimento com justa causa, que tenha ainda a função de investigar as decisões de entrega de terras ao longo dos últimos dez anos e de preparar o próximo acto eleitoral.
Jornalista: Olga Telo Cordeiro
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