Vai de Roda - Ao meio com bigode, o Amílcar Sardinha |
Eu vinha da Secção de etnografia do TUP, com uma vontade imensa de fazer recolhas. E neste âmbito o Vai de Roda tinha uma abertura sem limites. Para mim era, na realidade, o Paraíso. Tinha pouca experiência de palco, quando cantava com o TUP até me tremiam as pernas. Depois, com o tempo a coisa foi passando... O Vai de Roda propunha-me cantares de apoio por exemplo (lembro-me do Tôco-Tôco), e sentia-me como em casa dos meus avós. Muitas coisas e tiques que tinha vinham daí, da infância. Mas o mais importante para mim era o trabalho de recolha.
O Vai de Roda era um dos pioneiros em recolha e divulgação da Música Tradicional, e eu fazia parte desse movimento imparável. Éramos loucos sonhadores "dirigidos" por Doutores como Ernesto Veiga de Oliveira, Michel Giacometti, J. L. Vasconcelos, Abade Baçal, Padre Mourinho, e tantos outros...
O LP de 83 surgiu quando o grupo começou a ser mais conhecido, através do programa da RTP (A Prata da Casa). Nesta emissão a equipa do Porto tinha dois elementos do Vai de Roda : o Tentúgal e eu próprio.
Nesta época início dos anos 80 esteve presente em várias emissões de rádio e televisão, e foi convidado para participar nas comemorações do V centenário da descoberta da Terra Nova.
Em relação ao primeiro disco (Vai de Roda), podemos dizer que é composto de temas do Norte do País : Beiras, Douro Litoral, Minho, e Trás-os-Montes.
Era um grupo conhecido pelos sons ambiente que tentava produzir (sons da água com caixas de ovos, som do vento com o demónio da floresta, peneira com milho para reproduzir o som do moinho, etc).
De salientar que alguns instrumentos que tocávamos eram feitos por nós, tais como trancanholas, castanhetas, demónio da floresta, sarronca, e outros. Já nessa altura era um grupo que abordava temas que faziam referência à ecologia, e tinha mesmo elementos que eram verdadeiros militantes.
Ainda no que diz respeito ao primeiro disco, todos os arranjos, aspecto gráfico e capa foram exercício do grupo. Havia várias pessoas da Escola de Belas Artes do Porto que faziam parte do grupo. Era um grupo de artistas e sonhadores...
Mas agora também se vão fazendo coisas bonitas no sentido da divulgação, recuperação e proteção da Música Tradicional.
A título de exemplo temos o Gaiteiro de Outeiro, Paulo Rodrigues que agarra com mestria todas as modinhas que ouviu ao nosso "Físico", quando era criança.
Bom, isto já passa do comentário que o Henrique pediu. Muita coisa teria a dizer, e contar histórias do nosso Vai de Roda.
Cá ficam para uma próxima oportunidade.
Para terminar só quero fazer referência aos elementos do grupo que participaram no disco, e dar-lhes um grande, grande abraço :
As raparigas estão primeiro:
Né Santelmo, Fernanda Ramos, Isabel Leal, Preciosa Branco, Gi, Paula, Isabel Afonso.
Os Garçons:
Abi Feijó, Mac Tentúgal, Carlos Adolfo, Agostinho Couto, Fernando Carvalho, Raul, Victor.
Beijos prás raparigas.
Amílcar Sardinha
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Companheiro. Muito obrigado. ficámos, com este teu, sucinto, contributo, a conhecer O Vai de Roda. Existe pouca informação sobre o grupo. Lembro-me muito bem da vossa participação na "Prata da Casa", programa que acompanhei muito de perto já que eu fazia parte da claque da equipa de Bragança. Importante a referência que fizeste ao Paulo Rodrigues... Um exemplo... Se te quiseres alongar sobre este tema, ou outro que entendas por bem, dispõe dos espaços que eu possa proporcionar. Grande abraço.
HM
Conheci-os através do meu amigo Avelino Tavares do Mundo da Canção.Tive o prazer de ter o Tentúgal como convidado em vários programas que apresentei.Seria muito interessante relançar em os trabalhos.Guardo com o maior carinho o meu lp do Terreiro da Bruxas.
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