Segundo nos disse o tio Rebelo, de Real Covo (Valpaços), é costume os anos bissextos, como este, “prometerem muito e não darem nada”, acrescentando que “fruta, ‘cruzes’ e erva muita”.
É altura de se estrumarem as terras, das podas e das limpas. A nível meteorológico, todos estamos à espera da neve, porque a geada, o vento e o nevoeiro já atacaram, mas as previsões são para que a chuva continue a marcar a sua presença.
No passado sábado, pelo quarto ano consecutivo, estivemos no pavilhão multiusos de S. Julião de Palácios, para a transmissão do programa «Bom Dia Tio João», fazendo a promoção da V Feira Rural da Terra e Gentes da Lombada, que este ano contou com duas montarias ao javali, a primeira na quinta-feira, dia 23, tendo-se caçado 9 javalis e outra no Domingo, dia 26, com 25 animais abatidos. Neste certame também teve lugar o 5.º Concurso de Ovinos da Raça Churra Galega Bragançana e o 5.º Concurso de Cão de Gado Transmontano, assim como o habitual passeio pedestre, o trail Terras da Lombada, o passeio BTT, a chega de touros e a animação musical da «Escola de Gaiteiros e Tocadores da Lombada», da cantora «Cristiana Pereira», do grupo musical «Banda 4», o desfile dos «Caretos de Grijó» e uma noite de fados com o grupo «Fados D’Outrora».
Como habitualmente, no pavilhão multiusos teve lugar a exposição e venda de produtos da terra dos habitantes da União de Freguesias de S. Julião, Deilão e Vila Meã. Toda a gente ficou já com vontade à próxima feira.
Neste últimos dias festejaram a vida connosco a Luzia Afonso (52), das Quintas da Seara (Bragança); Aristides Veiga (71), de Caçarelhos (Vimioso); José Luís (44), de S. Pedro da Veiga do Lila (Valpaços); Luís Pires (25), de Milhão (Bragança); Isolino Amaral (70), (o rei do xau-xau), de Barqueiros (Mesão Frio); Glória Assunção (72), de Lodares (Vila Real); Sílvio Alves (36), de Ifanes (Miranda do Douro); Maria Rocha (72), de Parada (Bragança). Que tenham todos saúde para festejarem o seu próximo aniversário connosco.
Agora vamos conhecer a tradição do dia de S. Sebastião, na localidade de Caravela (Bragança).
Na aldeia de Caravela (região da Lombada, Bragança), ainda se realizam os conselhos, a chamada das pessoas da aldeia para realizar trabalho comunitário em benefício de todos. O sino toca para fazer a chamada a reunir na noite de véspera. Na manhã seguinte volta a tocar três vezes e, ao terceiro toque, o povo tem de estar já todo reunido. Antigamente, quem faltasse a conselho, tinha que pagar o que estava estipulado.
A tia Sara Reis, recordou-nos que “quando foi para pôr a água nas casas, cada morador teve de dar mais de 100 jeiras. Os emigrantes, por não se encontrarem na aldeia, pagaram em dinheiro o valor das suas jeiras. Actualmente o conselho ainda se reúne para limpar as poças do regadio e arranjar os caminhos. Já se faz menos, mas ainda se faz”.
No dia de S. Sebastião, 20 de Janeiro, numa tradição que já remonta há muitos anos, o povo de Caravela reúne-se para o acerto das contas anuais e para planear os afazeres do ano. Ainda segundo a tia Sara, “antigamente era o cabo de polícia que lia as contas. Hoje em dia é o representante da junta”. Também se recorda que “antes de haver a casa-do-povo, os chefes de família se reuniam no lagar comunitário da aldeia”. Agora é na casa-do-povo que se faz a reunião e neste dia só se trata dos assuntos relacionados com a aldeia. Todos têm o direito de falar e apresentar ideias. O representante da junta lê os gastos e as receitas que houve durante o ano. Também é neste dia que se prestam as contas das mordomias de Santo Antão, padroeiro de Caravela, S. Sebastião e Nossa Senhora da Alegria. São também nomeados os mordomos para o ano seguinte, arrematam-se as terras do povo e acertam-se os pormenores daquilo que não ficou completamente decidido durante o ano.
Durante a manhã lêem-se as contas do povo e da comissão fabriqueira, composta por três elementos. É também tempo de os novos mordomos de Santo Antão e S. Sebastião percorrerem a aldeia, de casa em casa, com uns cestos grandes de vime, a recolher as esmolas que cada pessoa quisesse dar, pois antigamente toda a gente matava e era tradição dar pés de porco ao S. Sebastião, as orelhas ao Santo Antão e alguns davam chouriças, pedindo protecção para os seus animais aos dois santos.
A tia Infância Marrão, também natural da aldeia, contou-nos que “há muitos anos, era costume as pessoas oferecerem a Nossa Senhora da Alegria, estrigas de linho” (meadas de linho).
Todos os bens oferecidos são leiloados nesse mesmo dia, durante a tarde, e os valores apurados revertem para as respectivas comissões organizarem as festas. Antigamente não era habitual realizar-se um jantar-convívio, como tem acontecido desde há alguns anos, em que cada pessoa leva a prova do seu fumeiro e a junta de freguesia contribui também com a vitela. O dia termina em grande, em são convívio, entre todos os habitantes da aldeia. Oxalá que esta tradição se mantenha por muitos anos, pois é sinal de que a aldeia não está desertificada, como acontece já com muitas outras.
Tio João
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