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SOBRE O BLOG: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blog, apenas vinculam os respetivos autores.

segunda-feira, 10 de novembro de 2014

MEIO MILHÃO DE TRANSMONTANOS NO GRANDE PORTO

Em 30 de Outubro de 1984 foi celebrada, no sétimo Cartório Notarial do Porto, a escritura da Casa Regional dos Transmontanos e Alto-durienses, residentes na área do chamado Grande Porto. Antes desta Casa Regional, funcionara na Invicta capital do Norte, o Clube dos Transmontanos que não chegou a legalizar a Comunidade. Também por essa altura se tentou a fundação da Casa de Barroso que visava congregar em colectividade os naturais dos concelhos de Montalegre e de Boticas. Mas em ambos os casos os projectos não passaram disso.

O espírito de agregação e de solidariedade dos Transmontanos vem de longe. Habituados a viver à sua custa, quase escorraçados da cidadania urbana que os tratava como cidadãos de segunda, quantos ali nasciam, tinham de suportar as contingências comuns à raça humana e mais esse desígnio ancestral de lutarem contra o abandono contido no provérbio: «longe da vista, longe do coração». Sempre os Transmontanos foram conhecidos, onde quer que o destino os levasse, pela sua franqueza, pela sua hospitalidade, pelo instinto de defesa e de aventura, pela honestidade da sua maneira de viver e de conviver. A entre-ajuda estampou-se nos usos e costumes, nas tarefas do campo, nos hábitos rurais, nas leis solares, nos relógios de sol. Os antropólogos culturais, os etnólogos, os sociólogos, os gastrónomos, habituaram-se a catalogar esse espírito comunitário como factor distintivo de quem nasceu, viveu e se orgulhou de ser oriundo de Trás-os-Montes e Alto Douro. Nunca se intimidaram por isso, nunca aceitaram essa pretensa submissão, jamais sentiram complexos de inferioridade, embora alguns maldizentes sistemáticos, algumas vezes confundam, ostensivamente, a simplicidade dessa gente com o elo mais fraco da sociedade portuguesa. Muito pelo contrário: desde os alvores da nacionalidade Portuguesa sempre os habitantes de Entre Douro e Minho deram à Pátria tributos e contributos que fizeram dela um império que teve o mundo inteiro a seus pés. Nunca podemos esquecer que o Condado Portucalense, desde 868 até 1071, dependente do Reino da Galiza, o primeiro e, entre 1096 e 1128, já sob os desígnios dos Condes Portugueses (D. Henrique e seu filho Afonso) se situavam apenas entre os Rios Minho e Douro. Foi em Trás-os-Montes e Alto, mais o Minho que Portugal nasceu, fecundou e se fez o império que só pelo Tratado de Tordesilhas, foi repartido pela vizinha Espanha.

Com esta recapitulação historiográfica pretendo exaltar o Norte de Portugal que nunca parasitou do esforço do resto do país, antes foi solidário, fiel e coeso, ao contrário de fragmentos esporádicos de revoluções mal-nascidas que reivindicam para Lisboa e arredores aquilo que a todos deveria chegar por igual, ao mesmo tempo e na mesma proporção. 

A desproporcionalidade ética que os Nortenhos têm suportado desde há quase nove séculos faz  com que os Transmontanos através de gestos legítimos, como são as casas regionais, entrelacem ideias, boas vontades e tolerâncias cívicas contra aqueles que os tratam como cidadãos de segunda.

A Casa Regional do Porto, a exemplo das congéneres de Lisboa, Braga, Guimarães, Coimbra, Tomar, Viana do Castelo, Algarve e outras no estrangeiro continuam a existir para colmatar sucessivas injustiças flagrantes da vida nacional.

A Casa regional, com sede no Porto, nasceu há 30 anos que foram comemorados dia 8. Várias dezenas de associados, apesar da crise, marcaram presença. E ouviram dos representantes dos seus órgãos palavras de incentivo aos jovens, para que não esmoreçam no fervor que os mais velhos lhes transmitem. Com o peso dos seus 86 anos, ali esteve o Sócio nº 4, Eduardo Taveira da Mota, um empresário que seria o Champalimaud dos nossos dias se, como ali foi dito pelo sócio nº 1, não tivesse sido despojado dos seus bens materiais e morais, durante o PREC de triste memória. Suas filhas Secília e Sara gostaram de ouvir o apelo à juventude. E reavivaram a chama dos obreiros que há 30 anos fundaram a Associação e adquiriram a sede própria, abrindo esse espaço a quantos: autarcas, comerciantes turísticos, cooperativas, autores, pintores etc. quiseram divulgar as suas actividades. Esse objectivo que presidiu ao plano associativo vai manter-se.

Quando em meados de 1984 nos foi lançado o repto tínhamos lido em sondagens da época de que viveriam cerca de 500 mil transmontanos e durienses na área residencial do Grande Porto. Trinta anos depois temos consciência de que a desertificação Transmontana galopa a favor da região Portuense. São muitos os Barrosões, os Valpacenses, os Bragançanos que têm uma segunda residência na capital do norte. É uma triste realidade social. Se o Estado Novo não fez quanto deveria ter feito pelo país periférico, mesmo assim ainda fez muito mais do que a democracia tem (des)feito nestes 40 anos: escolas, aldeamentos e terrenos para os casais carenciados, repartições públicas, correios, casas do povo, centros de saúde, acessos viários, saneamento, iluminação eléctrica, de tudo se fez. Nos 40 anos de democracia tudo está a desmoronar-se: escolas, centros de saúde, repartições públicas, correios, televisão, cantoneiros, fornos do povo... e até o boi do povo foi trocado pela inseminação laboratorial.

Barroso da Fonte
in:diario.netbila.net

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