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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

quinta-feira, 26 de maio de 2022

UMA CARTA QUE ARREPIA

"Mãe escrevo-lhe para lhe pedir perdão. Perdoe-me mãe. Perdoe-me. 
Minha querida mãe desculpe a letra, mas choro tanto que mal consigo escrever. A Isabel e os meninos estão na sala e estão bem. Não consigo deixar de pensar em si mãe, rezando todos os dias de joelhos, com toda a minha fé, pedindo a Deus que nada lhe aconteça. Ainda não sei falar alemão, mas na fábrica também não é preciso, estou na secção de cortar chapa e com gestos lá me vou desenrascando. A nossa casinha aqui é pequena, mas dá para nós os cinco. Os meninos estão agora num infantário social e a Isabel já começou a trabalhar para uns senhores que têm uma Quinta. Ela não arranjou emprego na área dela mas está nas limpezas e como fala bem inglês e os donos da Quinta também, está a dar-se bem, melhor do que eu. Minha querida mãe sei que está aí sozinha e que não tem medo, mas perceber que está sozinha e sem apoio tritura-me o coração. Queria tanto estar aí mãe, tanto! A fazer o que quer que fosse, mas a senhora sabe bem que vim por causa dos meninos. Já não aguentava ver os armários vazios e os meninos a chorar para comer. Não aguentava ver a Inês a precisar de medicamentos e a ter de pedir dinheiro aos amigos. Minha mãe desculpe, por favor! Sei que me disse para vir, mas sei também que chora dia e noite. Desculpe mãe! Esta vida é tão curta que não deveríamos estar assim tão separados, não deveria ter a coragem de a deixar sozinha, não deveria ser tão cobarde assim. Choro, choro, choro muito minha querida mãe, pois amo-a tanto e não a consigo sequer ouvir! Se ganhar dinheiro juro que lhe compro um telefone em Agosto. Ouve mal, eu sei, mas basta atender e dizer "estou". Se ouvir a sua voz irei sofrer menos um bocadinho. Mãe desculpe, amo-a tanto. As lágrimas caem-me pelo rosto, as mãos tremem-me, as pernas quase perdem a força... mas sei que compreende o meu esforço, pelas crianças. Como gostava de ter um trabalho qualquer aí perto de si, dava tudo, poderia ser um trabalho duro, mas que desse para viver. Não aguentava mais a situação de desespero minha querida mãe e por isso vim, mas não sei se vou aguentar. Imagino-a sozinha, sem mim, a pensar no pai e a rezar para partir. Mas peço-lhe mãezinha, por favor, não parta já, aguente, deixe-me ganhar algum dinheiro para ir para ao pé de si. E prometo que nunca mais a deixo, prometo. É tão linda mãe e tenho-a no meu coração, a todo o instante. Amo-a tanto mãe. Estou aqui mas nunca saí daí do seu lado mãe, sente, não sente? 
Perdoe-me!"

Foto: Rui Pires
Texto: Paulo Costa

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