“Com o esforço de todos estamos a conseguir controlar a praga”, afirmou à agência Lusa José Gomes Laranjo, investigador da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD) e presidente da Associação Portuguesa da Castanha (RefCast), que tem sede em Vila Real.
A vespa das galhas do castanheiro assolou os soutos e ameaçou a produção de castanha que é fonte de rendimento para muitas famílias. A sua dispersão já era esperada quando foi detetado o primeiro foco de infestação em território nacional, em 2014.
Desde 2015, segundo salientou o investigador, foram realizadas 3.183 largadas em 116 municípios, numa área estimada de 25 mil hectares de castanheiro dos territórios de Trás-os-Montes, Douro, Minho, Beiras, Douro Litoral e Madeira.
Os parasitóides ‘Torymus sinensis' são insetos que se alimentam das larvas que estão nas árvores e são capazes de exterminar a vespa.
Esta vespa deposita os seus ovos nos gomos do castanheiro durante os meses de julho e agosto, tornando-se na primavera seguinte visíveis através do aparecimento das galhas, que são pequenos invólucros com as larvas no interior.
Este ciclo está a ser combatido com a largada dos insetos “bons” nos meses de abril e maio que, ao propagarem-se no mesmo espaço, vão parasitar as larvas existentes no interior das galhas, travando a formação de novas vespas.
Em 2022 foram realizadas cerca de 700 largadas, em 60 concelhos (Continente e Madeira). No ano passado a luta biológica abrangeu 89 municípios e foram realizadas à volta de 1.000 largadas.
“A tendência é diminuir ainda mais, porque nós estamos a distribuir, pelas várias áreas da castanha, no país, um novo inseto que se vai instalar, criar a sua população e que, depois, vai parasitar a praga. Portanto, uma vez instalado nós não precisamos de andar sistematicamente a fazer largadas. O processo começa a ficar estabilizado”, explicou José Gomes Laranjo.
O especialista adiantou que, de acordo com a monitorização que é feita anualmente, “o parasitóide está instalado” e que, agora, é preciso “deixar o tempo passar para que, ano após ano, a população do parasitóide se multiplique, cresça e ganhe predomínio sobre a vespa”.
José Gomes Laranjo fala em quebras pontuais de produção, mas frisou que a nível nacional “não foram sentidas quebras de produção por causa da vespa”.
“E isto é, já de si, a grande vitória do trabalho feito por toda a gente desde 2015”, sublinhou, apontando que o “apoio dos municípios foi decisivo”.
Em 2014, temia-se que as perdas na produção pudessem atingir os 80%, o que constituiria uma séria ameaça à sustentabilidade do setor.
As previsões estavam, segundo o investigador, fundamentadas naquilo que se tinha passado em Itália, onde a redução da produção atingiu, precisamente, os cerca de 80%.
“Nós atacamos a praga logo no ano seguinte a ela ter aparecido”, afirmou.
O plano está a ser concretizado no âmbito do protocolo Biovespa, que envolve a RefCast, produtores, autarquias e os serviços do ministério da Agricultura.
Atualmente é possível fazer a georreferenciação das largadas através de uma aplicação de telemóvel que permite inserir imediatamente a informação, que fica disponível numa base de dados acessível através da página na Internet soscast.eu.
Aos produtores é também aconselhado não lavrar os soutos, não queimar a lenha de poda onde estão as galhas com os parasitóides e não aplicar inseticidas.
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