Por: Fernando Calado
(colaborador do Memórias...e outras coisas...)
Cumpriu-se o ciclo. E não peço muito à vida. Só quero, em cada ano, ver de novo a minha cerejeira vaidosa de cerejas e as roseiras surgirem do silêncio invernal num cântico de rosas. E isso me basta… Por isso, o ciclo cumpriu-se de novo no milagre de uma infinidade de cerejas e no esplendor de milhares de rosas. Isso me basta…
Depois na minha aldeia ninguém tem grandes certezas e como eu espreitam os astros…rezam aos santos…vão à bruxa…encomendam as almas…fazem penitência e transcendem-se na folia da festa...e desconfio que são felizes…pois, como eu, somente, esperam que os ciclos se cumpram no milagre da batata nova, do morango escarlate, da pera discreta, do figo temporão, do poema em linguagem de trigo e centeio…no ouro feito azeite…no beijo da fonte de águas cristalinas…e desconfio que são felizes!
Por isso, todos os dias regresso ao paraíso…o cão dorme tranquilo à espera do dono e sorri como a gente…os vizinhos falam das dores do corpo e da alma…mas sem azedume como quem respeita as leis da natureza…e eu, como quem entende a sabedoria milenar, de novo ganho um nome de gente…para além da crueza dos títulos profissionais…
Ma minha aldeia somos todos iguais…e acho que ninguém tem grandes certezas…e quando alguém…em tempo de promessas e de sonhos promete mais do que aquilo que pode…nós sorrimos e somente pensamos alto como o Tio Vila Real que era o pobre mais pobre das redondezas: - Quando a esmola é muita desconfia o pobre!
…por isso vou à horta espreitar o renovo…apanho dois cogumelos no sossego do monte…pergunto ao vizinho se será boa lua para engarrafar o vinho…e depois de comer vou-me deitar…como se todo o mundo fosse uma coisa muito bonita…e certinha…à medida da minha aldeia…
…por favor, deixem-me sonhar!
Depois na minha aldeia ninguém tem grandes certezas e como eu espreitam os astros…rezam aos santos…vão à bruxa…encomendam as almas…fazem penitência e transcendem-se na folia da festa...e desconfio que são felizes…pois, como eu, somente, esperam que os ciclos se cumpram no milagre da batata nova, do morango escarlate, da pera discreta, do figo temporão, do poema em linguagem de trigo e centeio…no ouro feito azeite…no beijo da fonte de águas cristalinas…e desconfio que são felizes!
Por isso, todos os dias regresso ao paraíso…o cão dorme tranquilo à espera do dono e sorri como a gente…os vizinhos falam das dores do corpo e da alma…mas sem azedume como quem respeita as leis da natureza…e eu, como quem entende a sabedoria milenar, de novo ganho um nome de gente…para além da crueza dos títulos profissionais…
Ma minha aldeia somos todos iguais…e acho que ninguém tem grandes certezas…e quando alguém…em tempo de promessas e de sonhos promete mais do que aquilo que pode…nós sorrimos e somente pensamos alto como o Tio Vila Real que era o pobre mais pobre das redondezas: - Quando a esmola é muita desconfia o pobre!
…por isso vou à horta espreitar o renovo…apanho dois cogumelos no sossego do monte…pergunto ao vizinho se será boa lua para engarrafar o vinho…e depois de comer vou-me deitar…como se todo o mundo fosse uma coisa muito bonita…e certinha…à medida da minha aldeia…
…por favor, deixem-me sonhar!
Fernando Calado nasceu em 1951, em Milhão, Bragança. É licenciado em Filosofia pela Universidade do Porto e foi professor de Filosofia na Escola Secundária Abade de Baçal em Bragança. Curriculares do doutoramento na Universidade de Valladolid. Foi ainda professor na Escola Superior de Saúde de Bragança e no Instituto Jean Piaget de Macedo de Cavaleiros. Exerceu os cargos de Delegado dos Assuntos Consulares, Coordenador do Centro da Área Educativa e de Diretor do Centro de Formação Profissional do IEFP em Bragança.
Publicou com assiduidade artigos de opinião e literários em vários Jornais. Foi diretor da revista cultural e etnográfica “Amigos de Bragança”.
Cumpre-me fazer saber ao iminente colega das letras, do quanto seu presente texto me emocionou!
ResponderEliminarDe certo modo, vi-me aldeão / caipira brasuca, sentindo todas as saudades de um tempo que se esvai por entre
nossos dedos, deixando tão somente
a certeza de que, cada um, a sua maneira , quando escrevemos fazemos com que o amor surja entre jorros de carinhos.
Parabéns nobre colega!
Parabéns ao povo transmontano, que possui entre seus pares, pessoas com tanta sensibilidade e competência.