De postura inquieta e com expressão frequente de riso, Mário Amadeu Cisa é de poucas palavras mas conta com prontidão as suas lembranças de pequenino. De vez em quando num tom eloquente vai explicando mais ao pormenor mas rapidamente termina com um “a vida era assim”.
Terminou a escola, num tempo em que a desordem era punida de forma severa, “tínhamos uma professora rija, mas boa professora, batia-nos com a régua, pois claro, mas nós também merecíamos”. Os estudos não avançaram. Teve que se dedicar ao trabalho no campo para ajudar o seu pai. Tinha 12 anos. “Tínhamos que ir para o campo porque a vida era árdua, de maneira que tinha que ser assim”. Fez o serviço militar. Esteve na Guiné. De todos os lugares em África em tempo de Guerra, talvez o mais difícil. “Eu só saí uma vez ou duas para o mar. Aquilo era complicado, era. Estive lá ainda no tempo do Spínola, um homem excecional”. Não sabe ao certo quando regressou, mas diz, que no 25 de Abril já estava em Portugal. Lembra-se de estar a ouvir rádio e a escrever uma carta.
Longe de Poiares, a sua terra, esteve também na Suíça e no Luxemburgo, no tempo em que emigrou e trabalhou como trolha. “Estive três anos na Suiça ,estive quase a atingir o premi B, porque ali há um sistema um bocado apertado. É o premi A, o premi C e coisa e tal, pronto. De maneira que depois resolvi vir embora, a minha mulher faleceu e agora ando por aqui a boiar, pronto, estou sozinho”. Agora sozinho, aos 67 anos, vai cuidando de uma pequena propriedade, “vai dirigindo a coisa à maneira do possível”, explica, e vai plantando umas “batatinhas”, couves e alfaces, “enquanto tiver saúde”.
“A vida era assim” ,remata, como quem não quer aprofundar muito os assuntos que a memória não quer lembrar.
Joana Vargas
Gabinete de Comunicação da CM de Freixo de Espada à Cinta
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