Por: Fernando Calado
(colaborador do "Memórias...e outras coisas...")
Se houvesse um tempo, o ano de 2017 estaria mesmo à beira da morte, estranhamente solitário, numa agonia dolorosa, sentindo a ingratidão da humanidade que ruidosamente celebra o nascimento do novo ano de 2018. O ano de 2018 ainda é um tempo sem história, sem ontem, só um imenso deserto, ainda sem chegadas nem partidas. Um ano sem emoções.
Mas o tempo é esta continuidade imensa... somente marcado pelo sol que se levanta magnífico, brilhante, vestido de lavado para ir beijar as flores e à tarde regressa feliz, do campo, para sua casa. Uma rotina sem ontem, nem amanhã, sem relógios, sem calendários, sem dias, sem meses, sem anos, sem séculos…sem pressa, até quando o sol se canse, apague o lume e vá descansar.
… e o Universo se cala e aguarda no tempo sem tempo, o infinito, o renascer de novo das cinzas do sol, dos planetas e tudo recomeça… e para sempre.
… mas na minha humanidade regresso ao ano de 2017 para agradecer, virado para o sol, para o magnífico sol, o privilégio de mais um ano. O meu tempo não se marca pelo calendário da mesquinhez política, marca-se pelo tempo das rosas, das maçãs, dos morangos, da horta em parto de novidade… o meu tempo marca-se pela chegada, pela fonte onde bebemos água e era tão fresca… pelos olhos das crianças marcando o futuro, por tanta gente bonita que acredita na vida e encontrei à beira dos meus livros… à beira da surpresa, por tudo … o ano de 2017 foi um bom ano!
… eu sei… os desempregados perdidos nas praças infindas do desespero, os jovens sem futuro à beira da emigração… da partida e ficam os sonhos, eu sei das falências e duma vida que parou, sem horizontes… eu sei dos doentes que roem as unhas nas longas esperas das urgências… eu sei… eu sei dos encontros e desencontros… eu sei!
… para todos as minhas lágrimas fraternas e humanas… Um dia… nascerá uma flor e será verde… e sairemos todos à rua agarrando a esperança… nem que seja a última esperança!
… desejo a todas as minhas amigas e amigos um bom ano de 2018!
Fernando Calado nasceu em 1951, em Milhão, Bragança. É licenciado em Filosofia pela Universidade do Porto e foi professor de Filosofia na Escola Secundária Abade de Baçal em Bragança. Curriculares do doutoramento na Universidade de Valladolid. Foi ainda professor na Escola Superior de Saúde de Bragança e no Instituto Jean Piaget de Macedo de Cavaleiros. Exerceu os cargos de Delegado dos Assuntos Consulares, Coordenador do Centro da Área Educativa e de Diretor do Centro de Formação Profissional do IEFP em Bragança.
Publicou com assiduidade artigos de opinião e literários em vários Jornais. Foi diretor da revista cultural e etnográfica “Amigos de Bragança”.
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(Henrique Martins)
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