Há intérpretes, compositores e maestros. Já falámos em orquestras de jovens, em músicos que abrilhantavam revistas e saraus. A música estava presente nas festividades cívicas, nos "arraiais" e em certas cerimónias religiosas.
Não esqueçamos ainda as manifestações musicais de cariz popular. Referimos grupos “folclóricos” que, com as suas cantorias, eram vistos como uma das principais atrações do programa das projetadas e “fenomenais” festas reais.
No campo musical, temos notícia, em 1908, por exemplo, da orquestra do cónego Firmino Oliveira. A atividade cultural dos estudantes manifesta-se na existência de uma Tuna, presente numa receção feita ao Governador Civil. A banda de Izeda, afeta aos republicanos, faz a sua aparição, com frequência, na Cidade.
Era necessário criar e beneficiar espaços que permitissem uma maior oferta para a exibição de bandas, de orquestras e de grupos musicais. Já falámos de um coreto de madeira; agora é anunciada, em março de 1910, a realização de uma festa, num outro coreto, promovida pelos cavalheiros que subscreveram a construção. Situado na Praça da Sé, era mais um "equipamento" para a realização de espetáculos. É, também, uma iniciativa que atesta o que era a participação cívica dos cidadãos empenhados no "progresso" da terra.
As bandas militares exibiam-se em variadas circunstâncias. Audições musicais, a cargo das orquestras regimentais, deviam incluir mesmo programas de “música erudita”. Nos primórdios de 1911, realizavam-se concertos às quintas e aos domingos no coreto da Praça da Sé, pela banda regimental de Infantaria n.º 10 – era inverno… e os espetáculos deviam ser à prova de frio. Regista-se um agradecimento ao coronel Chedas, em nome dos apreciadores da boa música.
Vamos referir, com mais ou menos pormenor, algumas das celebrações comemorativas, desses ritualismos celebratórios que tinham, sobretudo, uma dimensão cívica. O principal objetivo passava pela alimentação e pela “recriação” de memórias. Era preciso mobilizar as populações e acendrar-lhes a militância cívica e o fervor patriótico. Embora apresentassem especificidades próprias, de acordo com os acontecimentos ou as figuras a consagrar, a celebrar e a rememoriar, incluíam cerimoniais, “ingredientes” e elementos mais ou menos estereotipados, que já haviam sido testados.
Em 1880, Bragança associa-se aos festejos comemorativos do Centenário de Camões, que decorreram nos dias 8, 9 e 10 de junho. A Praça das Eiras do Arcebispo é rebatizada com o nome do épico.Porque em África havia heróis que davam o seu sangue para construir um “novo Brasil” e porque os construtores dessa saga tinham que ver com Bragança, na agenda cívica da Cidade vai ser dada grande relevância às homenagens e festividades em honra dos heróis do batalhão expedicionário de Caçadores n.º 3, que se haviam coberto de glória a combater os “selvagens”. A 1 de fevereiro de 1896, no seu regresso a casa, a comunidade brigantina não se poupa a esforços para os receber e vitoriar. Diz-se mais à frente, em 1906, para elogiar e conferir brilho aos festejos realizados para celebrar a chegada do comboio, que estas festividades foram comparáveis às que se promoveram por “ocasião do regresso do batalhão expedicionário.”
Há passagens que celebram esses “valentes”: “Aí vêm. Voltam ao ponto de partida os que em longínquas terras foram honrar o nome português, que vinha muito amesquinhado em tudo. Vêm como heróis, e nem outro nome podem ter os que agora entram, e pena é que não venham todos os que foram. Mas uns perderam a vida no campo de batalha, outros sucumbiram às traições do clima e onde a luta é por demais desigual, e outros, finalmente, e destes bastantes, ainda ficaram no seu posto de honra, guardando os redutos que todos haviam tomado, e firmando as conquistas feitas... Honra, pois, e glória para os que agora vêm e para os que ficaram no cumprimento desse sacratíssimo dever. Bem-vindos a Bragança”.
“Vai chegar ao seu quartel o 2.º batalhão do 3 de Caçadores, e, apesar do cansaço de tão dilatada viagem, marcha com passo firme e cadente porque conhece que cumpriu o seu dever, e que, cumprindo-o, concorre para a Pátria conquistar lá fora um bom nome, e por ver que até as terras de somenos importância felicitam um tão desusado arrojo, que é superior às nossas forças descrevê-lo”.
Título: Bragança na Época Contemporânea (1820-2012)
Edição: Câmara Municipal de Bragança
Investigação: CEPESE – Centro de Estudos da População, Economia e Sociedade
Coordenação: Fernando de Sousa
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