O empresário Paul Symington decidiu retirar-se da liderança da Symington Family Estates, empresa que detém mais de mil hectares de vinha no Douro, região que, na sua opinião, "só tem um futuro, de qualidade e nunca de volume".
Paul Symington, de 65 anos, tem origens escocesas, nasceu em Massarelos, no Porto, e ganhou notoriedade como líder de um grupo familiar produtor de vinhos do Porto de alto gabarito, como o vintage Dow's 2011, premiado com 100 pontos pela revista Wine Spectator.
A Revista de Vinhos - A Essência do Vinho distinguiu-o com o Prémio Homenagem deste ano, que lhe deverá ser entregue hoje na cerimónia "Os Melhores do Ano", na Alfândega do Porto, pelos seus "40 anos devotados à Symington Family Estates, à evolução do Porto e do Douro e à afirmação do vinho português no mundo".
Um dos aspetos positivos destes 40 anos de "muitas mudanças" foi o "crescimento sustentado nas vendas dos vinhos do Porto de qualidade superior", salientou Paul Symington em entrevista à agência Lusa.
"Outros vinhos generosos olham para nós com muita inveja", acrescentou.
O empresário e gestor considera que "o Douro está nitidamente melhor do que há 40 anos", porque "as vinhas estão muito melhores, as adegas foram modernizadas, os acessos são melhores, há uma nova geração de pessoas formadas em viticultura e enologia e existe uma nova vertente, que são os grandes vinhos tintos e brancos".
Na sua opinião, contudo, nem todos entenderam que o Douro é "completamente diferente das outras regiões", pois tem uma "produção média de 4,3 toneladas de uvas por hectare", o que compara mal com as "7,7 toneladas" de Espanha e de França ou, pior, com as 11,7 da Austrália e as 13,3 do Chile.
"Com um rendimento tão baixo e custos tão altos, o Douro só tem um futuro, de qualidade e nunca de volume. Mas muitos continuam a insistir em vendas de grandes quantidades e de preços baixos. O Douro tem de mudar o seu rumo", alertou.
Segundo Paul Symington, o problema prende-se com o "sistema regulamentar que foi criado nos anos 1930" e que, "simplesmente, não está a funcionar", desde logo porque "criou condições para que muitos vinhos do Douro sejam vendidos em Portugal e no estrangeiro a preços iguais aos das regiões viticultoras mais baratas do mundo".
"Estas outras regiões têm rendimentos elevadíssimos e custos que são muito menos de metade dos do Douro", reforçou, alegando que a região corre riscos se nada for feito.
Ainda assim, disse "acreditar fortemente no vinho do Porto e nos vinhos Douro DOC [Denominação de Origem Controlada], mas desde que o sistema seja regulamentado e reformado" e, também, que "o Douro vai ser visto, cada vez mais, como uma região que produz dois grandes vinhos".
A nível pessoal, o empresário destacou a designação como Homem do Ano da revista Decanter em 2012 como um dos marcos da sua carreira, ainda mais pelo facto de o pai, também nascido no Porto, em 1925 (a mãe é portuguesa, de Sintra), "ainda estar vivo na altura" e o ter acompanhado a Londres para a cerimónia.
Oriundo de uma família com séculos de tradição no vinho do Porto, é a este vinho que se sente mais ligado, vendo nele "a beleza do Douro, uma história incrível e ímpar e uma qualidade única".
"É só abrir uma garrafa de um vintage como um Graham's 1963 ou um Dow's 1945", exemplificou, referindo-se a dois vinhos da sua empresa.
Questionado sobre as razões da sua retirada, explicou que resolveu ser fiel à "tradição familiar de se reformar aos 65 anos".
"Mas, como é óbvio, vou continuar a deter uma parte da nossa empresa, vou continuar com a minha Quinta das Netas, no vale do Pinhão, no Douro. E continuo ligado de perto aos meus primos que, entretanto, assumiram a liderança da nossa empresa", adiantou.
Paul Symington elege "o Dow's Vintage 1963" como o melhor vinho que já bebeu. "Foi um ano incrível e foi o primeiro vintage desde os anos 20 que teve forte procura internacional", justificou.
O prémio que a Revista de Vinhos - A Essência do Vinho decidiu atribuir-lhe deixa-o "satisfeito", porque, pelo menos, algumas pessoas consideram que fez "algo de jeito".
Agência Lusa
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