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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

quarta-feira, 4 de dezembro de 2019

“Sinto-me feliz por, a cada dia, ter uma nova sensação e poder tocar e sentir coisas novas (…)”

PALOMBAR | COLABORADORES CESC PROJECT – SERVIÇO CIVIL ITALIANO
TESTEMUNHO VIRGINIA MICCINILLI
Trás-os-Montes tem encanto na chegada e na partida... quase a terminar a sua colaboração com a Palombar – Associação de Conservação da Natureza e do Património Rural, a voluntária italiana Virginia Miccinilli conta-nos, na primeira pessoa, como foi a sua experiência de vida e trabalho em território transmontano, e como sentiu e vivenciou o Planalto, as suas paisagens, a sua natureza, a sua cultura e as suas gentes. 
Virginia Miccinilli.
Virginia Miccinilli, de 24 anos, está há quase um ano a viver na aldeia transmontana de Uva, no concelho de Vimioso. É uma dos quatro jovens italianos que estão a colaborar com a Palombar este ano no âmbito de uma parceria da associação com o CESC Project – Serviço Civil italiano (www.cescproject.org).


O CESC Project pretende promover e desenvolver o serviço civil tanto em Itália, como noutros países, e atividades com foco na construção de uma cidadania consciente. Visa também contribuir para o desenvolvimento de uma convivência civil solidária e pacífica. O CESC Project desenvolve e implementa programas de cooperação internacional, voluntariado internacional e local.
Participação na peça de teatro “O Diário Secreto da Águia de Bonelli”.
O voluntariado e os valores a ele associados são essenciais para a Palombar. Os/as voluntários/as enriquecem e dão vida e dinâmica à associação, contribuindo de forma significativa, frequente e continuada para assegurar as seus ações, projetos e atividades nas áreas da conservação da Natureza e preservação do Património Rural. Todos os anos, a Palombar acolhe vários/as voluntários/as e colaboradores nacionais e internacionais que contribuem de forma ativa para a sua missão.  

“SENTI-ME ACOLHIDA E PUDE PARTICIPAR EM PROJETOS COM OS QUAIS SONHAVA DESDE HÁ MUITO TEMPO (…)”

TESTEMUNHO

No dia em que pus os meus pés pela primeira vez em Trás-os-Montes, era noite e chovia, mas ainda me lembro da paz que abraçava a aldeia de Uva, com o seu café e a sua capela. Embora não tão emocionante como no primeiro dia, agora que chegou o outono, volto a ter a mesma sensação: a chuva que cai lá fora, o silêncio e a luz da lareira como companhia.

 Desde aquele dia, passou quase um ano, um pequeno parêntese, é certo, quando comparado com uma vida inteira, mas nesse ano aprendi muito: pude saborear uma boa posta mirandesa, aprendi a identificar, em pleno voo, um grifo e um milhafre, a reconhecer uma verdadeira ginjinha e a desfrutar de todas as belezas guardadas debaixo de um céu sem fim. 

 Há dias em que o pôr do sol pinta a paisagem com cores que só vi até então nos quadros de pintores impressionistas, há noites que, quando sobes num monte perto de casa, sentes-te observado por biliões de estrelas no firmamento. Os rios envolvem-nos e arrefecem o ambiente, um chá com castanhas aquece o corpo. 

 Além da paisagem que sempre preencheu os meus olhos e os meus pensamentos, sinto-me feliz por, a cada dia, ter uma nova sensação e poder tocar e sentir coisas novas: hoje apanhar um pouco de trigo, amanhã um punhado de terra, cal, pedras…

 Aqui, comecei a ganhar consciência sobre a raridade de algumas aves. Assim como as aves que descobri são especiais, as pessoas que encontrei na Palombar também o são, cada uma tocou-me de forma diferente e quero preservar essa ligação. É fundamental manter o trabalho de conservação desenvolvido pela Palombar, uma associação com uma força jovem que tem no coração o território e tudo o que a ele pertence; conservar a cultura popular, as suas danças tradicionais e os seus sabores; aproveitar também o tempo e não o deixar esvair-se sem significado, como acontece na cidade; preservar a natureza que se encontra nas hortas, nas ruas e na floresta.

Há um ano fugi da cidade, com o seu tráfego e os seus mil barulhos. Desde há um ano que me sinto em casa, na companhia de vacas e ovelhas que acompanham o ritmo do andar dos carros, com as estações que pintam com diferentes cores a ânima das pessoas e as suas hortas…

 Nesse período, senti-me acolhida e pude participar em projetos com os quais sonhava desde há muito tempo, tive experiências que nunca tinha vivido antes… ver um abutre muito perto e apanhar pombos com as mãos, rodeada por uma natureza gélida.

 Obrigada Palombar e obrigada Trás-os-Montes!

Até já.


Virginia Miccinilli 
Recuperação de pombal tradicional.
Ilustrações de Virginia Miccinilli.

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