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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

terça-feira, 14 de setembro de 2021

Um retrato da “pobreza feroz” de Trás-os-Montes nos anos 80

 As imagens que o fotógrafo autodidacta Eduardo Perez Sanchez registou na região de Trás-os-Montes, entre 1982 e 1989, passaram as últimas décadas guardadas, escondidas do olhar público, em rolos fotográficos num "vasto baú de negativos". "Depois dessa década de registos, nunca mais fotografei Trás-os-Montes", conta ao P3, em entrevista. "Mas sempre conservei os negativos dessa época na esperança de, um dia, ter tempo de me debruçar sobre eles." O dia chegou quando, finalmente, se reformou, pouco antes do estalar da pandemia de covid-19. "Mandei digitalizar tudo e comecei a pensar que este tema merecia um livro específico", conta. E assim nasceu Trás-os-Montes, Uma Visão a Preto e Branco sobre as Gentes e o seu Viver na Década de 1980, que resume as suas incursões pelas aldeias de Agordela, Calvo, Sá, Santa Valha, Vilarandelo, entre outras (que a sua memória já não alcança).

©EDUARDO PEREZ SANCHEZ

O fotógrafo, que publica o primeiro livro aos 71 anos, recorda as temporadas que passou na região de Valpaços com saudade. "Na altura passava horas a conversar com as pessoas nas aldeias. Ao fim de poucos minutos as barreiras estavam ultrapassadas e a conversa fluía com naturalidade." Recorda que nas aldeias havia poucos homens. "Estavam emigrados. As aldeias eram compostas sobretudo por mulheres, crianças e idosos. Sentia-se muito a ausência dos mortos da guerra colonial, também, o que era muito dramático. As viúvas, vestidas de negro no Verão e no Inverno, não deixavam esquecer."

Essa amargura e saudade está patente nos rostos das mulheres que fotografou, observa. "São rostos duros, que mostram marcas do tempo. Uma das imagens [a segunda desta fotogaleria] retrata uma mulher viúva debruçada sobre uma janela por onde parece escorrer um líquido negro; essa mancha simboliza as suas lágrimas." A dureza da saudade, trabalho, do clima inóspito e a "pobreza feroz" contrastava com a alegria de viver que transbordava nas expressões das crianças das aldeias. "Elas viviam sob uma espécie de liberdade que já não existia nas cidades, andavam por onde queriam, faziam o que lhes apetecia. Eram muito alegres e gostavam de ser fotografadas." 


Para além das "gentes", Eduardo registou também as suas actividades: a pastorícia, a cultura de cereais, as colheitas, as pequenas hortas de subsistência, as matanças do porco. "Era chocante assistir à matança, mas era (e é ainda) um costume essencial nesta região por gerar uma enorme quantidade de alimento, que pode ser consumido ao longo de todo o ano."


A pandemia impediu o fotógrafo de regressar a Trás-os-Montes, mas tenciona fazê-lo brevemente. Embora tenha nascido em Barcelona, considera-se um portuense de gema - afinal mudou-se para o Porto com seis ou sete anos, apenas dez antes de começar a fotografar. A distância que separa o Porto de Valpaços irá dissipar-se assim que considerar seguro viajar. "O meu maior temor, aquando do meu regresso, é encontrar estas aldeias mal restauradas, mal recuperadas. Gostaria de poder criar, novamente, ligação com as pessoas, mas passaram 40 anos e não sei como encaram a vida, como encaram os outros ou a câmara." 

Antes de regressar a Trás-os-Montes, novamente de câmara em riste, Eduardo Perez Sanchez vai apresentar o seu fotolivro, a 18 de Setembro, na Cooperativa Árvore, no Porto. "Este livro, mais do que exibir fotografias, procura contar as histórias que se encontram por trás delas. Se conseguir produzir esse efeito, o esforço terá valido a pena."

PUBLICAÇÃO ORIGINAL

Ana Marques Maia

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