Número total de visualizações do Blogue

Pesquisar neste blogue

Aderir a este Blogue

Sobre o Blogue

SOBRE O BLOG: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blog, apenas vinculam os respetivos autores.

domingo, 5 de junho de 2022

UM GRANDE JORNALISTA PORTUGUÊS: PEDRO CORREIA MARQUES

Por: Humberto Pinho da Silva 
(colaborador do "Memórias...e outras coisas...")

Na primeira metade do século XX, floriram, em Portugal, vários jornais, muitos de carácter ideológico; com eles, notáveis jornalistas, que deram brado e ficaram na História do Jornalismo português. Entre eles, destaca-se Pedro Correia Marques, que foi redator de: "A Época" e chefe da redação de: " A Voz", e editor do mesmo jornal.
No final do século passado, pedi a Dona Maria Helena Moreira, que falasse de seu pai. Não da atividade profissional – que é sobejamente conhecida, – mas a sua personalidade, modo de conduta e carácter.
A filha mais nova do jornalista (a caçulinha, como dizem carinhosamente os brasileiros,) moradora em Londrina, narrou-me curiosas e inéditas facetas desse grande jornalista, estimado e respeitado na sua época, principalmente em Lisboa.
Era discreto e humilde. Orava, normalmente, em privado. Nas horas das refeições, rezava em latim.
Era devoto de Nossa Senhora e S. Pedro apóstolo. Gostava muito de Santo António. Chegou a escrever um livro. "Vida Maravilhosa de Santo António", ilustrado por Tom (D. Tomás Maria da Camara - filho de D. João da Camara e de sua mulher Dona Eugénia de Mello Breyner, - director do Colégio Padre António Vieira, no Rio de Janeiro, - de quem minha querida amiga Dona Maria Eugénia, sua sobrinha e afilhada, falava-me com muito carinho e admiração.
Pedro Correia Marques, segunda sua filha, gostava de brincar com as crianças, principalmente as da família.
A caçulinha recordou, algumas cenas tocantes, que assistiu ou que escutou a seus irmãos. Entre elas, lembrou-se que quando tinha dez anos, o pai a levava às matinés de Carnaval, no cinema. Pedia à mulher para a mascarar. Nessa época tinha sessenta anos. Sentava-se na plateia, com chapéu " à diplomata". Acabada a sessão, dirigia-se para a redacção de: " A Voz". Antes, porém, ia-a a confeitaria, e enchia a menina, de bolos.
A mulher, quando a filha chegava a casa, ralhava-lhe, por ter comido alimento impróprio para crianças. Esta defendia-se energicamente: " Eu não pedi. O pai é que me deu!..." A mãe ria-se, sacudindo a cabeça.
Levava-a, muitas vezes, para o seu gabinete no jornal. Fazia-lhe caminha improvisada com jornais e cobria-a com sobretudo. Durante a 2ª Grande Guerra, ajudava ternurosamente os refugiados, que procuravam auxílio na redação do jornal.
Nessa ocasião – ele e a mulher – tomavam as refeições antes, na cozinha (pão e couves cozidas com água e sal.) Os avós e os cinco filhos comiam depois refeição mais suculenta.
Quando ia de férias à terra natal, sempre visitava pobríssima mulher, cega e velhinha, a "tia" Maria Gaia, que fora sua catequista. Quando esta o pressentia, dizia alegremente: "És tu Pedro?". Deixava-lhe farta esmola.
Certa manhã apareceu, na redação, estagiário, estudante universitário, muito pobre, que trabalhava para auxiliar a família, chamado Marcelo Caetano (mais tarde Prof. e primeiro-ministro).
Nos dias de serão, como não tinha dinheiro para regressar a casa de táxi, ia a pé, se perdia o último jornal.
Pedro Correia Marques, sabedor disso, andava-o embora mais cedo, e ficava a fazer o seu trabalho – rever, corrigir textos. Era nesse tempo, já o editor do jornal!
Se me permitem vou, agora, apresentar, resumidamente, a biografia desse homem, que subiu a pulso, e chegou a ser nome sonante na vida intelectual portuguesa:
Nasceu a 26 de abril de 1890, em S. Pedro de Rates – Póvoa do Varzim.
O pai de Pedro Correia Marques era viúvo, quando casou com a mãe. Tinha cinquenta e cinco anos; a mãe contou aos pais o namoro e seu desejo de se casar. Estes não concordaram e meteram-na num convento. Ao fim de dois anos, atingindo a maioridade, casou contra a vontade dos pais, e do filho mais velho do viúvo, que foi para o seminário – mais tarde, Padre Marques, vigário de Cousel.
Quando o menino nasceu, fizeram as pazes, e os avós foram convidados para padrinhos. Escolheram o nome do santo do dia do nascimento: S. Pedro de Rates. Mais tarde, após a morte do marido, a mãe casou novamente.
Frequentou a escola Luís de Camões. Ao perfazer dez anos, foi para a Escola Claustral de Singeverga. Foi oblato de S. Bento, sob o nome denominado de fr. Hildbrand (usou esse pseudónimo, algumas vezes, na vida literária:)
Aos dezanove anos, não querendo ser sacerdote, ofereceu-se para o exército. Apresentou-se em Infantaria 20 – Guimarães. Seguindo para Lisboa – Infantaria 16.
A 4 de outubro de 1910, participou na revolução republicana, ao lado das tropas fiéis ao Rei.
Mais tarde aliciou colegas do quartel para realizarem uma revolução monárquica. Foi descoberto e preso no Castelo de S. Jorge, junto com presos comuns. Decorrido um ano foi absolvido e libertado. Na prisão tornou-se amigo de Tom, que era conhecido na cadeia pelo número 2099.
Amigos apresentaram-no ao Padre O'Sullivan, diretor de: "O Rosário", que o contratou como contínuo (ganhava 5 reis ao mês), até que, o Padre, reconhecendo seus conhecimentos excecionais, confiou-lhe missões jornalísticas.
Um dia, o Padre Alves Terças, administrador de: "A Época", convidou-o para trabalhar na redação do jornal, que era do Conselheiro Fernando Sousa.
Faleceu a 8 de agosto de 1972.

Humberto Pinho da Silva
nasceu em Vila Nova de Gaia, Portugal, a 13 de Novembro de 1944. Frequentou o liceu Alexandre Herculano e o ICP (actual, Instituto Superior de Contabilidade e Administração). Em 1964 publicou, no semanário diocesano de Bragança, o primeiro conto, apadrinhado pelo Prof. Doutor Videira Pires. Tem colaboração espalhada pela imprensa portuguesa, brasileira, alemã, argentina, canadiana e USA. Foi redactor do jornal: “NG” e é o coordenador do Blogue luso-brasileiro "PAZ".

Sem comentários:

Enviar um comentário