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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

quinta-feira, 17 de novembro de 2022

Abade de Baçal – Príncipe da Cultura Transmontana!

 Falecido a 13 de novembro de 1947, Francisco Manuel Alves, Abade de Baçal, é figura de renome nacional e alma do ser e do saber que distingue as gentes transmontanas. A sua biografia, que atravessa os regimes da Monarquia Constitucional, da Primeira República e do Estado Novo, sendo sucessivamente agraciado por aquilo que designava «chocalhos» (condecorações), releva uma tal grandiosidade que só não ultrapassa a personagem porque esta assenta na simplicidade e humildade própria dos sábios e na nobreza de carácter que timbra os grandes senhores.
Em Baçal, os tempos de juventude moldaram-lhe o carácter, absorveu os valores de comunidade e enrijeceu a têmpera de cidadão. Fez os estudos preparatórios no Liceu de Bragança e concluiu o curso de Teologia no seminário de São José. Ordenado padre em 7 de dezembro de 1889, exerceu em Mairos/Chaves até 1896, sendo transferido para a paróquia da sua aldeia, onde também deitou mãos ao trabalho das terras familiares e iniciou as suas excursões histórico-arqueológicas, fazendo de Baçal o seu «atelier». Foi vereador da Câmara Municipal de Bragança, mentor do Museu que assumiria o seu nome e organizador do Arquivo Distrital, sendo diretor de ambas as instituições, além de se lhe dever a concentração do espólio das paróquias em arquivo diocesano. Como historiador, arqueólogo e etnógrafo publicou centenas de artigos em jornais e revistas da época e dotou a cultura transmontana com as «Memórias Arqueológico-Históricas do Distrito de Bragança». Entre muitas outras, foi sócio da Associação dos Arqueólogos Portugueses, da Sociedade Portuguesa de Estudos Históricos, da Academia das Ciências de Lisboa e da Academia Portuguesa da História. Fez também parte do Grupo de Amigos dos Monumentos e Obras de Arte de Bragança que, entre outras atividades, se ocupou do restauro das muralhas do castelo, da recuperação da Domus Municipalis e da reposição do Cruzeiro na Praça da Sé, mandado construir pelos jesuítas em 1689 e demolido em 1875.
Reconhecido, os epítetos iam desde «o homem pré-histórico e sábio» (Miguel Torga), «liberto de vaidades e convenções próprias dos homens vulgares» (Jorge Dias), «estranha e singular figura de homem, de sábio, de filósofo e de sacerdote» (Leite de Vasconcelos), «a consideração que lhe tributam transborda do sábio para o homem» (Aquilino Ribeiro), «um dos estudiosos que mais contribuíram para a renovação do conhecimento sobre Portugal» (Eduardo Lourenço). O momento alto do reconhecimento público ocorreu em 9 de abril de 1935, aquando da sua jubilação aos 70 anos, a sua «canonização laica», como o próprio abade se lhe referiu. O Museu assume o seu nome e um busto em sua homenagem é inaugurado no jardim António José de Almeida, que se demite de apreciar.
Os diversos estudiosos do Abade e da sua vasta obra destacam a indelével marca identitária que deu ao Nordeste Transmontano, gravada na monumental e já referida obra, um trabalho de recolha e compilação documental que o absorveu desde 1909. São cerca de 6.500 páginas impressas, dispostas em onze volumes, que abrangem temas tão diversos como política, sociedade, economia, genealogia, religião, arqueologia, arte e etnologia respeitantes ao distrito de Bragança, desde a humanização e romanização do território brigantino, a presença proto cristã dos povos bárbaros, a fundação da Monarquia Portuguesa e as raízes brigantinas e todos os grandes momentos históricos que, ao longo de 900 anos, moldaram a identidade nacional. Sem esquecer os judeus, os notáveis e os fidalgos da terra. Motivou-o organizar e interpretar as memórias distritais, vincar a sua identidade histórica e recuperar as suas tradições sociais e religiosas.
Aquando da republicação das «Memórias Arqueológico-Históricas», em 2000, o diretor do Museu do Abade de Baçal, João Jacob, escreveu que era «o pai da nação transmontana que nasce». O Abade de Baçal, é alma cultural da sua terra, um investigador memorialista da nossa história comum e um contador de estórias de fino recorte, predicados que, aliados à sua singela personalidade, fazem dele a personificação do transmontano.

Abílio Lousada

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