Ivone Florêncio é técnica do Núcleo Distrital da EAPN - Rede Europeia Anti-Pobreza e assume que a situação se deve ao aumento do custo médio de vida. "O ano de 2022, com a guerra na Ucrânia, provocou aqui um aumento substancial do custo médio de vida a todas as pessoas, independentemente de serem trabalhadores, não trabalhadores ou pessoas em situação de pobreza, e que proporcionou uma perda do poder de compra e um custo do nível de vida. Em 2021 o número de pessoas em situação de pobreza aumentou no nosso país, aumentou também a taxa de risco de pobreza, passaram a viver numa situação de maior vulnerabilidade um maior número a pessoas, tivemos um aumento desta taxa de 12%, o que mostra que de facto a crise pandémica teve um grande impacto no aumento da po- breza, agudizou os problemas que já existiam, tornou outros muito mais visíveis e criou os problemas".
Tendo em conta que este ano vai continuar a haver um aumento do preço de vários serviços e produtos, considera ainda que a situação vai continuar a piorar. "O que os dados do observatório da EAPN nos dizem é que se perspectiva que a situação de pobreza e exclusão social vai ter tendência a intensificar-se, porque em 2022 já 11,3% da população vivenciava grandes dificuldades em gerir o seu orçamento familiar até ao fim do mês, ou seja, os recursos financeiros do agregado familiar não cobriam as despesas habituais, 9,6% chegava ao fim do mês com dificuldades e 35% com alguma dificuldade. Apenas menos de metade da população, cerca de 42%, é que afirmava não ter dificuldades em gerir o orçamento, ou seja, mais de metade da população já teve dificuldades em 2022. Mantendo-se este panorama, pressupõe-se que a situação se vai intensificar".
Ivone Florêncio diz ainda que embora o salário mínimo tenha vindo a sofrer aumentos, o valor não acompanha a inflação e o aumento do custo de vida. "Na maior parte das famílias, grande parte do vencimento que auferem é para pagar a renda de casa, tendo em conta a subida exorbitante que o preço da habitação teve nos últimos tempos. As pessoas têm de optar por pagar a renda, ou por comer, ou por pagar água, luz, gás ou por pagar a medicação. Não é por acaso que Portugal é um dos países com maior número de pessoas em situação de pobreza, mesmo a trabalhar. Nós temos 14,3% de trabalhadores que vivem numa situação de pobreza, porque com os vencimentos que auferem e com o custo de vida que temos, acabam por trabalhar para pagar as despesas. Há famílias que têm de arranjar part-times, dispensam pouco tempo para a vida familiar e social. As famílias trabalham para pagar as despesas e para se verem cada vez mais pobres e não conseguem por nada de lado".
A entrevista a Ivone Florêncio para ouvir na integra depois do noticiário das 17 horas ou para ler na edição desta semana do Jornal Nordeste.
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