Nas contas do Nordeste também há lugar para o erotismo. Não será um erotismo subtil e requintado como hoje gostamos que seja, creio que em reacção contra a quase-pornografia que se instalou de armas e bagagens em qualquer lugar onde possa fazer o ninho — e qualquer lugar lhe serve.
Cada sociedade tem o erotismo de que é capaz. A uma sociedade rural, cercada de natureza por todos os lados, não peçam que ame como se ama numa sociedade urbana, lida no Marquês de Sade e em Henry Miller, se bem que hoje a televisão — não apenas a televisão, mas sobretudo a televisão —, com a sua acção niveladora, esteja a encurtar a distância entre a cidade e as serras. Mas as contas, como temos repetido sempre que vem a propósito, procedem de tempos longínquos, em que seriam notórias as diferenças entre o rural e o urbano. A aldeia era um prolongamento do campo aberto, e nas alcovas replicava-se sem grandes requintes o sexo que se via fazer aos animais em tempo de cio.
Pobre mulher! Também neste campo, era ela que arcava com o papel de má da fita, isto é, com a parte considerada pecaminosa. Porque é ela que, com as suas descargas hormonais, se insinua no ânimo do homem, sugerindo a consumação daquilo de que se finge receosa, mas realmente deseja. É o que acontece nesta conta breve:
Era uma vez um homem e uma mulher que iam para a feira da vila. A meio do caminho, diz a mulher:
− Ó Francisco, só me está a lembrar que daqui a um bocado me agarras e me deitas nessas giestas e abusas de mim...
− Vontade não me faltava. Mas era se não gritasses...
− Gritar, eu? Oh! Olha o que me fazes de gritadeira...
Curiosamente, ouvi, contada por outra pessoa, uma conta muito parecida com esta, quem sabe mesmo se inspirada nela (ou vice-versa). Transcrevo-a também.
Uma vez um homem e uma mulher iam pelo campo para a feira da vila. A certa altura, diz a mulher:
− Ó Vicente, só me está a lembrar que daqui a nada te atiras a mim e me deitas nessas giestas e depois abusas de mim...
− Vontade não me falta. Mas depois tu gritavas...
− Gritar, eu? Ele não senhor. Eu até ando rouca, ainda num viste?
Como se vê, as duas contas correm paralelas até à última fala. O nome do homem é outro, mas isso é irrelevante. Onde verdadeiramente se encontra uma diferença digna de comentário é no fecho das duas contas. E que comentário? Observando bem, as figuras femininas são o que se pode dizer mulheres motivadas para o sexo. Mas a da segunda conta consegue ser mais explícita do que a anterior no modo como formula o desejo e incita à satisfação do mesmo.
Cada sociedade tem o erotismo de que é capaz. A uma sociedade rural, cercada de natureza por todos os lados, não peçam que ame como se ama numa sociedade urbana, lida no Marquês de Sade e em Henry Miller, se bem que hoje a televisão — não apenas a televisão, mas sobretudo a televisão —, com a sua acção niveladora, esteja a encurtar a distância entre a cidade e as serras. Mas as contas, como temos repetido sempre que vem a propósito, procedem de tempos longínquos, em que seriam notórias as diferenças entre o rural e o urbano. A aldeia era um prolongamento do campo aberto, e nas alcovas replicava-se sem grandes requintes o sexo que se via fazer aos animais em tempo de cio.
Pobre mulher! Também neste campo, era ela que arcava com o papel de má da fita, isto é, com a parte considerada pecaminosa. Porque é ela que, com as suas descargas hormonais, se insinua no ânimo do homem, sugerindo a consumação daquilo de que se finge receosa, mas realmente deseja. É o que acontece nesta conta breve:
Era uma vez um homem e uma mulher que iam para a feira da vila. A meio do caminho, diz a mulher:
− Ó Francisco, só me está a lembrar que daqui a um bocado me agarras e me deitas nessas giestas e abusas de mim...
− Vontade não me faltava. Mas era se não gritasses...
− Gritar, eu? Oh! Olha o que me fazes de gritadeira...
Curiosamente, ouvi, contada por outra pessoa, uma conta muito parecida com esta, quem sabe mesmo se inspirada nela (ou vice-versa). Transcrevo-a também.
Uma vez um homem e uma mulher iam pelo campo para a feira da vila. A certa altura, diz a mulher:
− Ó Vicente, só me está a lembrar que daqui a nada te atiras a mim e me deitas nessas giestas e depois abusas de mim...
− Vontade não me falta. Mas depois tu gritavas...
− Gritar, eu? Ele não senhor. Eu até ando rouca, ainda num viste?
Como se vê, as duas contas correm paralelas até à última fala. O nome do homem é outro, mas isso é irrelevante. Onde verdadeiramente se encontra uma diferença digna de comentário é no fecho das duas contas. E que comentário? Observando bem, as figuras femininas são o que se pode dizer mulheres motivadas para o sexo. Mas a da segunda conta consegue ser mais explícita do que a anterior no modo como formula o desejo e incita à satisfação do mesmo.
(Continua.)
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