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SOBRE O BLOG: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blog, apenas vinculam os respetivos autores.

sábado, 11 de março de 2023

VIAGENS — 10 - Malícia

 Nas contas do Nordeste também há lugar para o erotismo. Não será um erotismo subtil e requintado como hoje gostamos que seja, creio que em reacção contra a quase-pornografia que se instalou de armas e bagagens em qualquer lugar onde possa fazer o ninho — e qualquer lugar lhe serve.
Cada sociedade tem o erotismo de que é capaz. A uma sociedade rural, cercada de natureza por todos os lados, não peçam que ame como se ama numa sociedade urbana, lida no Marquês de Sade e em Henry Miller, se bem que hoje a televisão — não apenas a televisão, mas sobretudo a televisão —, com a sua acção niveladora, esteja a encurtar a distância entre a cidade e as serras. Mas as contas, como temos repetido sempre que vem a propósito, procedem de tempos longínquos, em que seriam notórias as diferenças entre o rural e o urbano. A aldeia era um prolongamento do campo aberto, e nas alcovas replicava-se sem grandes requintes o sexo que se via fazer aos animais em tempo de cio. 
Pobre mulher! Também neste campo, era ela que arcava com o papel de má da fita, isto é, com a parte considerada pecaminosa. Porque é ela que, com as suas descargas hormonais, se insinua no ânimo do homem, sugerindo a consumação daquilo de que se finge receosa, mas realmente deseja. É o que acontece nesta conta breve:
Era uma vez um homem e uma mulher que iam para a feira da vila. A meio do caminho, diz a mulher:
− Ó Francisco, só me está a lembrar que daqui a um bocado me agarras e me deitas nessas giestas e abusas de mim...
− Vontade não me faltava. Mas era se não gritasses...
− Gritar, eu? Oh! Olha o que me fazes de gritadeira...
Curiosamente, ouvi, contada por outra pessoa, uma conta muito parecida com esta, quem sabe mesmo se inspirada nela (ou vice-versa). Transcrevo-a também. 
Uma vez um homem e uma mulher iam pelo campo para a feira da vila. A certa altura, diz a mulher:
− Ó Vicente, só me está a lembrar que daqui a nada te atiras a mim e me deitas nessas giestas e depois abusas de mim...
− Vontade não me falta. Mas depois tu gritavas...
− Gritar, eu? Ele não senhor. Eu até ando rouca, ainda num viste?
Como se vê, as duas contas correm paralelas até à última fala. O nome do homem é outro, mas isso é irrelevante. Onde verdadeiramente se encontra uma diferença digna de comentário é no fecho das duas contas. E que comentário? Observando bem, as figuras femininas são o que se pode dizer mulheres motivadas para o sexo. Mas a da segunda conta consegue ser mais explícita do que a anterior no modo como formula o desejo e incita à satisfação do mesmo.

(Continua.)

A. M. Pires Cabral

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