Outra personagem mítica que povoa o mundo de crendice e superstição de que vimos falando é o trasgo.
Na já citada Monografia de Vimioso, de Francisco Manuel Alves e Adrião Martins Amado, lê-se a páginas 327 esta caracterização dos trasgos:
«Os trasgos, na crença popular, são espíritos irrequietos, bolidiços, vivem nas casas habitadas, mas não fazem mal; entretêm-se apenas a pregar sustos aos moradores. Por alta noite sente-se grande balbúrdia na cozinha como a escacar louça; de manhã, porém, tudo está no seu lugar. Eram brincadeiras dos trasgos.
Na estrebaria a égua, o cavalo, anda em rodopio incessante sem sossego; vai-se a ver, e não emagrecem, como era natural, antes engordam, apenas as crinas do cachaço se emaranham, por forma inexplicável. São manobras dos trasgos.
Em RabaI, concelho de Bragança, dizem que os trasgos, antigamente, traziam tudo em reboliço e o povo, para se ver livre deles, fez o voto das ladainhas, clamores, que ainda hoje se praticam.
No sítio do Caíco, margem esquerda do ribeiro de Piaduros, afluente do Carvalhal, termo de Caçarelhos, concelho do Vimioso, há restos de um moinho abandonado pelo moleiro, chamado moinho dos Trasgos.
O moleiro abandonou o moinho porque certa noite, quando assava uma talhada de came, um trasgo veio assar também uma espetada de lagartixas e queria pingar a gordura no pão onde o moleiro aparava a da talhada.
O moleiro afugentou o trasgo, mas abandonou o moinho, que ninguém mais quis habitar, segundo informa o Sr. José Francisco Falcão, de Caçarelhos.»
Este moinho abandonado de que se falou não é único. Vários outros foram abandonados por causa das travessuras dos trasgos.
Os trasgos, contrariamente às bruxas, embora arreliadores, acabam por ser criaturas simpáticas. Basta que são crianças, e portanto capazes de acordar dentro das pessoas pulsões parentais. O que não quer dizer que não sejam por vezes incómodos e não causem prejuízos.
Os trasgos são — como agora se diz — resilientes, isto é, agarrados aos lugares que escolhem para viver e difíceis de erradicar. Em Peredo, concelho de Macedo de Cavaleiros, ouvi uma conta saborosa, que demonstra a resiliência dos trasgos e que infelizmente não consigo reproduzir nos exactos termos em que me foi contada:
Era uma vez uma família em cuja casa se instalou um trasgo, que, como compete aos trasgos, fazia tropelias por uma pá velha. Farta dessas tropelias, a família resolveu mudar de casa, a ver se assim se livrava do trasgo. Enquanto andavam à formiga a mudar os trastes, viram a certa altura o trasgo dirigir-se para a casa nova transportando à cabeça o banquinho em que costumava sentar-se. Perguntaram-lhe a razão. E ele, com toda a naturalidade e inocência infantil: “Então não estamos a mudar de casa?”
Na já citada Monografia de Vimioso, de Francisco Manuel Alves e Adrião Martins Amado, lê-se a páginas 327 esta caracterização dos trasgos:
«Os trasgos, na crença popular, são espíritos irrequietos, bolidiços, vivem nas casas habitadas, mas não fazem mal; entretêm-se apenas a pregar sustos aos moradores. Por alta noite sente-se grande balbúrdia na cozinha como a escacar louça; de manhã, porém, tudo está no seu lugar. Eram brincadeiras dos trasgos.
Na estrebaria a égua, o cavalo, anda em rodopio incessante sem sossego; vai-se a ver, e não emagrecem, como era natural, antes engordam, apenas as crinas do cachaço se emaranham, por forma inexplicável. São manobras dos trasgos.
Em RabaI, concelho de Bragança, dizem que os trasgos, antigamente, traziam tudo em reboliço e o povo, para se ver livre deles, fez o voto das ladainhas, clamores, que ainda hoje se praticam.
No sítio do Caíco, margem esquerda do ribeiro de Piaduros, afluente do Carvalhal, termo de Caçarelhos, concelho do Vimioso, há restos de um moinho abandonado pelo moleiro, chamado moinho dos Trasgos.
O moleiro abandonou o moinho porque certa noite, quando assava uma talhada de came, um trasgo veio assar também uma espetada de lagartixas e queria pingar a gordura no pão onde o moleiro aparava a da talhada.
O moleiro afugentou o trasgo, mas abandonou o moinho, que ninguém mais quis habitar, segundo informa o Sr. José Francisco Falcão, de Caçarelhos.»
Este moinho abandonado de que se falou não é único. Vários outros foram abandonados por causa das travessuras dos trasgos.
Os trasgos, contrariamente às bruxas, embora arreliadores, acabam por ser criaturas simpáticas. Basta que são crianças, e portanto capazes de acordar dentro das pessoas pulsões parentais. O que não quer dizer que não sejam por vezes incómodos e não causem prejuízos.
Os trasgos são — como agora se diz — resilientes, isto é, agarrados aos lugares que escolhem para viver e difíceis de erradicar. Em Peredo, concelho de Macedo de Cavaleiros, ouvi uma conta saborosa, que demonstra a resiliência dos trasgos e que infelizmente não consigo reproduzir nos exactos termos em que me foi contada:
Era uma vez uma família em cuja casa se instalou um trasgo, que, como compete aos trasgos, fazia tropelias por uma pá velha. Farta dessas tropelias, a família resolveu mudar de casa, a ver se assim se livrava do trasgo. Enquanto andavam à formiga a mudar os trastes, viram a certa altura o trasgo dirigir-se para a casa nova transportando à cabeça o banquinho em que costumava sentar-se. Perguntaram-lhe a razão. E ele, com toda a naturalidade e inocência infantil: “Então não estamos a mudar de casa?”
(Continua.)
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