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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

sexta-feira, 1 de setembro de 2023

QUANDO HAVIA DONAS-DE-CASA A TEMPO INTEIRO

Por: Humberto Pinho da Silva 
(colaborador do "Memórias...e outras coisas...")

No meu tempo de infância ainda havia donas-de-casa a tempo inteiro. Eram senhoras, em regra da Classe-Média ou Média-Alta, que cuidavam do maneio do lar.
Realizavam toda a lida: cozinhavam, passajavam a roupa branca, passavam a ferro, varriam e educavam os filhos acompanhando-os nos estudos.
Em regra, sobejavam-lhes tempo para visitar amigas e familiares. Muitas tinham dia certo para receberem, oferecendo o tradicional chá, acompanhado de saboroso bolo caseiro, que orgulhosamente confecionavam.
As mais abastadas tinham empregada para executarem tarefas domésticas, às quais chamavam: criadas.
Rapariguinhas analfabetas ou quase, recrutadas na província.
Nas horas de lazer, as senhoras, bordavam ou tricotavam.
Prendas de mãos, que aprenderam com as mães, que as educavam para futuras esposas e rainhas do lar.
Nessa recuada época, o marido da Classe-Média, envergonhava-se quando a esposa trabalhava fora. Era ponto de honra: só por necessidade admitia que contribuísse para o orçamento familiar.
Respeitava-se religiosamente o velho anexim: " O homem abarca, a mulher arca."
Nesse tempo, quem governava o país era Salazar – homem que nascera no século XIX, – e tudo fazia para manter a mulher no lar, como dona-de-casa.
Em conversa com a jornalista francesa Christine Garnier, disse: " A ausência da mulher desequilibra a economia doméstica e a perda de dinheiro que daí resulta, raramente é compensador pelos ganhos exteriores. "- " Férias Com Salazar", Edição Parceria António Maria.
O estadista receava que a mão-de-obra feminina, no trabalho, provocasse descida na remuneração e desemprego. Nesse remoto tempo muitas famílias podiam viver com um só salário, agora nem dois chega para as despesas quotidianas. Se quisessem recompensar essas antigas donas-de-casa, que dedicaram a vida à família, e agora, na velhice se encontram dependentes, sem qualquer rendimento, bastava alargarem o desconto no I.R.S. para o conjugue dependente. Já não digo reformá-las com o salário mínimo, como pensou o Dr. Mário Soares.
Se outrora os jovens buscavam noiva de bom dote, hoje, sabedores que um só salário não chega, para sustentar família, procuram moça que tenha emprego bem remunerado... e o mesmo fazem as futuras noivas.
São tempos prosaicos, não românticos, onde o amor se vai tornando num negócio...por vezes bem asqueroso.

Humberto Pinho da Silva
nasceu em Vila Nova de Gaia, Portugal, a 13 de Novembro de 1944. Frequentou o liceu Alexandre Herculano e o ICP (actual, Instituto Superior de Contabilidade e Administração). Em 1964 publicou, no semanário diocesano de Bragança, o primeiro conto, apadrinhado pelo Prof. Doutor Videira Pires. Tem colaboração espalhada pela imprensa portuguesa, brasileira, alemã, argentina, canadiana e USA. Foi redactor do jornal: “NG”. e é o coordenador do Blogue luso-brasileiro "PAZ".

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