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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite, Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues, João Cameira e Rui Rendeiro Sousa.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

quinta-feira, 2 de outubro de 2025

A Matança de Outeiro - Capítulo IV – A Primeira Investida


 O sol ainda mal despontava no horizonte quando o som distante de cascos e trombetas ecoou pelo vale. Um arrepio percorreu Outeiro. Era o prenúncio do que todos temiam e esperavam ao mesmo tempo. As primeiras tropas castelhanas aproximavam-se, organizadas e confiantes, acreditando que a aldeia seria um obstáculo fácil de derrubar.

Na colina da Matança, João apontou para o movimento dos cavalos, com os seus olhos atentos a todos os detalhes:

- Eles vêm em três grupos, murmurou, correndo para avisar os aldeões. - Precisamos de dividir as nossas forças e de usar o terreno. Cada caminho ou carreiro, cada árvore, cada pedra pode ser a nossa vantagem.

Tomé respirou fundo. Sentiu o ferro frio da espada nas mãos. Era a primeira vez que iria lutar de verdade, e o medo batia bem forte no seu peito. Maria, ao seu lado, olhava para ele com uma mistura de preocupação e firmeza.

- Concentra-te, Tomé. Lembra-te do que Tiago nos ensinou. A coragem não é a ausência de medo. Ela apertou a sua mão. Nós confiamos em ti.

Os primeiros castelhanos entraram na aldeia pelos trilhos mais estreitos. As flechas dos arqueiros de Outeiro voaram primeiro, atingindo os inimigos desprevenidos, enquanto pedras e troncos eram lançados sobre aqueles que tentavam avançar. O choque inicial foi rápido e brutal.

Tomé sentiu o impacto da primeira investida. Desviou-se de um golpe, parou uma espada com o ferro da sua lâmina e viu o primeiro aldeão cair, ferido, mas vivo graças à intervenção de Maria. Ela corria entre os combatentes, oferecendo água e curativos improvisados, o seu cabelo escuro preso em tranças que balançavam com a corrida.

- Para trás! Gritou Tiago, comandando a defesa do centro da aldeia. Cada metro de Outeiro é nosso!

Os castelhanos, confiantes, foram surpreendidos por emboscadas. João guiava os jovens pelos atalhos, atacando rapidamente e desaparecendo na neblina, fazendo-os recuar com medo e confusão. Cada emboscada era coordenada, cada movimento estudado, mas mesmo assim o custo era alto. Gritos, feridos e alguns mortos espalhados pelo campo.

Enquanto lutava, Tomé começou a compreender a brutalidade da guerra. Cada golpe era vital, cada falha podia significar a morte de um amigo. Ele derrubou um inimigo, mas sentiu um aperto no peito ao ver João a proteger uma criança que se tinha perdido no meio da confusão. Maria segurava a mão do garoto, murmurando palavras de conforto enquanto afastava inimigos com o auxílio de um punhal.

O dia inteiro passou-se entre ataques, recuos e emboscadas. O sol subiu alto, e a aldeia começou a entender que aquela primeira investida era apenas um teste, um ensaio da tempestade que estaria para vir. Cada aldeão, desde os velhos às crianças, compreenderam que a batalha exigiria mais do que força, exigiria inteligência, união e coragem que transcendia o medo.

Ao cair da tarde, a primeira investida terminou. Os castelhanos recuaram, feridos e confusos, enquanto Outeiro respirava, exausta mas vitoriosa. Tomé sentou-se sobre uma pedra, limpando o suor e o sangue das mãos, olhando para Maria e João:

- Conseguimos… por enquanto. Disse, com a voz embargada.

- Por enquanto, respondeu Tiago, aproximando-se. - Mas lembrem-se, isto é apenas o começo. Amanhã pode ser pior, e teremos de estar prontos para tudo.

A aldeia reuniu-se naquela noite ao redor de lareiras e fogueiras, compartilhando comida, cuidando de feridos e contando histórias para manter a coragem viva. O espírito de Outeiro permanecia intacto, mas todos sabiam que o verdadeiro teste ainda estava para vir.

Enquanto o vento frio soprava pelas colinas, cada aldeão sentia o peso do destino. Amanhã, a Matança deixaria de ser apenas um nome e iria tornar-se num campo real de coragem, sangue e heroísmo que ficaria gravado para sempre na memória de Outeiro.

Continua...

N.B.: Este conto tem como base a "Lenda" de Outeiro "A Matança". A narrativa e os personagens fazem parte do mundo da ficção. Qualquer semelhança com acontecimentos ou pessoas reais, não passa de mera coincidência.

HM

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