O amanhecer trouxe uma neblina densa sobre Bragança. As ruas recém-reconstruídas desapareciam sob um manto branco, e o ar gelado parecia prender a respiração de todos. Mas, desta vez, a cidade não estava desprotegida.
Afonso coordenava os arqueiros nas muralhas, enquanto Baltasar liderava os vigias que patrulhavam todas as ruas. Lídia, com mapas e notas em mãos, movia-se entre os grupos, garantindo que cada armadilha estivesse bem posicionada.
- Lembrem-se, disse Afonso, a sua voz firme cortando o silêncio, não lutamos apenas com força, mas com inteligência. Temos que os atrair para os becos abertos e para as armadilhas. Observem os sinais deles. Cada movimento conta.
Pouco depois, da névoa surgiram formas silenciosas, quase impercetíveis. Olhos brilhantes apareciam entre os contornos indistintos, e os seres avançavam com extrema cautela. Pareciam sentir cada passo dos vigias e adaptavam-se com rapidez.
- São mais inteligentes do que imaginávamos, murmurou Lídia. - Mas estão a cair nas armadilhas.
Os primeiros a entrar nas áreas preparadas foram capturados por redes escondidas e pequenas fossas cobertas de galhos. A confusão espalhou-se entre os demais, que começaram a recuar, mas Afonso já esperava por eles.
Com um gesto, arqueiros dispararam flechas com precisão, iluminadas pelas tochas espalhadas estrategicamente. Baltasar bloqueava as entradas principais, empurrando os invasores de volta para os pontos onde estavam cercados.
E então veio a primeira revelação. Um dos seres, atingido por uma flecha, caiu e deixou à mostra a face. Não era totalmente humana, mas tampouco totalmente animal. A sua pele tinha um tom acinzentado e os olhos refletiam uma inteligência incomum, quase humana.
- Eles… pensam! Disse Miguel, assombrado, observando o corpo imóvel. - Não são simples monstros!
Lídia concordou, escrevendo rapidamente:
- Precisamos descobrir de onde vêm e por que nos atacam. Se são inteligentes, podem negociar… ou usar estratégias contra nós se não tomarmos cuidado.
A batalha terminou com a retirada da névoa e a dispersão dos seres para as profundezas da floresta. Bragança permanecia de pé, ferida, mas vitoriosa. O confronto, porém, deixou claro que não se tratava apenas de força bruta.
Afonso observou a cidade do alto das muralhas:
- Hoje resistimos, mas não podemos baixar a guarda. Esses seres têm planos, e Bragança precisará de cada habitante, de cada mente, cada braço e cada coração para sobreviver.
Baltasar ergueu o bordão, olhando para a floresta que agora parecia silenciosa, mas ameaçadora:
- Que venham. A cidade está pronta. E desta vez, não enfrentaremos as sombras sem estarmos preparados.
Enquanto a neve começava a derreter lentamente, um sussurro percorreu a floresta:
- Eles resistem… mas ainda não sabem o que somos.
A primeira vitória trouxe confiança, mas também a certeza de que Bragança entrava numa guerra que exigiria coragem, estratégia e a revelação de antigos segredos ainda escondidos nas muralhas.
Continua...
N.B.: A narrativa e os personagens fazem parte do mundo da ficção. Qualquer semelhança com acontecimentos ou pessoas reais, não passa de mera coincidência.

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