Muito mais do que perceber etimologias, que essas “um home tem de s’agarrare ós libros”, o encanto da «nossa língua» provém do entendimento dos processos fonológicos que se obtêm a partir da audição dos nossos “belhotes”, maioritariamente esquecidos nas nossas cada vez mais despovoadas “aldêas”.
Um dia, nesta insana busca pelo entendimento das raízes, deparei-me com um texto, escrito em Mirandés, no qual «presidente» vinha grafado como “persidente”, e «pergunta» como “pregunta”. E soaram os alarmes! “Bô”? Rapidamente me lembrei que, de facto, as minhas gentes pronunciavam a dita «pergunta» como “prégunta”, assim mesmo, com acentuação no [e].
Nunca me tinha apercebido desse fenómeno, até que me “aprecebi”. E “precebi” que, quando catraio era, me mandavam “dromire”. O que, por vezes, era um “porblema”. Porque, afinal, me era “poribido” estar acordado até muito tarde. Reparei, à medida que ia avançando, que esta aparente inversão não era um “promenore”. Era mesmo “bredade, bredadinha”. Embora isso contrariasse as normas impostas pela “porsora”, que «professora» deveria ser, até que, aprendizagens do dito Mirandés, “precebi” que «professora» também era “porsora”. “Rais’parta”!
Entretanto, cresci, e já com “porfissão”, foi como uma “bretigem” entender que tínhamos uma forma “brebale” de comunicar que “porduzia” algumas “imbressões” na posição das letras “drento” de algumas palavras. Essa transposição de fonemas dentro de uma mesma sílaba, tal como sucedeu do Latim «semper» para o Português «sempre», é um fenómeno fonológico que toma o engraçado nome de «metátese». Fenómeno esse que muita aplicação tem na «nossa língua» e que, contrariamente ao que expectável seria, não se trata de um erro ou de uma ocorrência isolada, sem regras. É que o mesmo acontece, maioritariamente, quando uma sílaba não é tónica e vem seguida de consoante (algumas excepções havendo, como, p.e., se a sílaba átona for seguida do dígrafo [ch] ou da letra [q]). “Num s’ac’erditam”?
Pois, experimentem, normalmente falando, pronunciar «marcar» e «marchar». Provavelmente, a primeira sairá “m’racare” e a segunda “martchare”. Ah pois é! E, caso ainda não se tenham apercebido, tal como no Latim ou no Italiano, os «nossos verbos» não terminam, como no Português, em [r], mas sim em [e]. Mas, sobre isso, já cá virei noutra ocasião...
Agora, vamos “porbare” um “tantinho” de “m’ramelada”, de “m’ramelos” feita, que tempos outros, também a faziam com castanhas. Pode ser à “cêa”, mas aí só poderá ser “mêa malga”, que não é boa “idêa” ficar com a “pança tchêa”. Sempre poderemos substituir a outra “mêa malga” por um “cibo de gelêa”, que por cá, o som [eio/eia] não existe, mesmo que pareça uma forma “fêa” de falar. Mas é a nossa! Um “home” também fica “fêo” ao acordar, mas logo a coisa se “remedêa” quando o cabelo se “pentêa”…
A terminar, um conselho: comer muito à noite pode ser indigesto. Ainda recentemente mo disse o “Prufírio”, que veio a “Prutugale” de férias. Mas isso já faz parte do “pertérito prefeito”. Com esta confusão “perciso” de ir apanhar ar, que já estou a ficar com a cara “brumelha”… Só porque falei em “m’ramelos”, “burmielhos” se chamam em Mirandés, que por lá não saem de um “m’rameleiro”, mas sim de um “burmelheiro”...
É tão encantadora a «nossa língua», “or sim”? Nunca se tinham “aprecebido”?… “Num s’imbregonhim”...


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