A cidade dormia sob a vigilância atenta das muralhas. As armadilhas foram reforçadas, os vigias passaram a ser duas vezes mais, mas nenhum coração estava realmente em paz. Bragança tinha aprendido a temer aquilo que não compreendia.
Na floresta, Afonso, Lídia, Baltasar e o pequeno grupo de exploradores avançaram novamente, desta vez com uma estratégia diferente. Lídia carregava pergaminhos antigos, tentando decifrar símbolos e inscrições que poderiam servir de ponte para o entendimento. Miguel, curioso e destemido, caminhava com cuidado, atento a cada som.
Ao chegarem à clareira dos símbolos, aperceberam-se de movimentos entre as árvores. Os seres observavam, sem atacar, como se esperassem alguma coisa ou algo.
- Eles estão-nos a testar, murmurou Lídia. - Precisamos mostrar-lhes que não viemos apenas para lutar.
Afonso ergueu a espada, mas não para atacar. Em vez disso, desenhou no chão um círculo, semelhante aos símbolos antigos. Pegou uma pedra do centro e ergueu-a, falando em voz firme, mas calma:
- Viemos em paz! Não queremos destruir ou roubar. Queremos compreender.
No início, nada aconteceu. Apenas o vento, carregava o cheiro da neve derretida e da madeira das fogueiras antigas. Então, uma figura aproximou-se, movendo-se silenciosa, quase etérea. Olhos brilhantes fixaram-se nos exploradores, estudando cada gesto.
- Quem ousa entrar no nosso território? - a voz soou na clareira, baixa, mas clara, como se ecoasse da própria neblina.
Afonso respondeu sem hesitar:
- Somos guardiões de Bragança. Queremos paz. Queremos aprender quem são vocês e por que nos atacam.
A figura aproximou-se mais, revelando parcialmente uma forma humana, com armadura desgastada pelo tempo, mas marcada com os símbolos que tinham encontrado nas árvores.
- Muitos vieram antes de vós, disse, a voz carregada de séculos de lembranças, e todos acreditaram que a força bastaria. Mas a força sozinha não preserva a cidade. Ela preserva apenas aqueles que entendem o que ela guarda.
Lídia adiantou-se, segurando os pergaminhos:
- Se há segredos que vocês protegem, podemos respeitá-los. Mas precisamos de orientação. Precisamos de saber como conviver, ou ao menos como nos podemos defender.
Houve um silêncio profundo, e o vento parecia carregar o murmúrio de eras passadas. Finalmente, a figura falou:
- Ainda não provaram serem dignos de saber. Mas a coragem que os trouxe até aqui é rara. Amanhã, uma parte de vós deverá enfrentar o que guardamos, não para lutar, mas para compreender.
Baltasar apertou o bordão, sentindo o peso da responsabilidade.
- Então teremos de caminhar com cuidado. Aprender e lutar. Ao mesmo tempo.
A figura recuou, desaparecendo entre a névoa. Mas a sua mensagem ecoou no coração de todos. Bragança não enfrentaria apenas inimigos. Enfrentaria provações, enigmas e testes antigos, que dariam forma ao destino da cidade.
Enquanto regressavam, Afonso olhou para as muralhas cobertas de neve:
- Amanhã será decisivo. Não pela força que temos, mas pelo entendimento que conseguimos alcançar. A cidade pode sobreviver… se aprendermos a ouvir as vozes na névoa.
E, na floresta, as sombras moviam-se silenciosas, preparando o que viria. Mas algo novo havia aparecido, a possibilidade de diálogo. E, talvez, a hipótese de que Bragança enfrentasse o seu destino com mais do que coragem, com sabedoria.
Continua...
N.B.: A narrativa e os personagens fazem parte do mundo da ficção. Qualquer semelhança com acontecimentos ou pessoas reais, não passa de mera coincidência.

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