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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite, Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues, João Cameira e Rui Rendeiro Sousa.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

quinta-feira, 16 de outubro de 2025

O Cavaleiro das Sombras - Capítulo XI – Vozes na Névoa


 A cidade dormia sob a vigilância atenta das muralhas. As armadilhas foram reforçadas, os vigias passaram a ser duas vezes mais, mas nenhum coração estava realmente em paz. Bragança tinha aprendido a temer aquilo que não compreendia.

Na floresta, Afonso, Lídia, Baltasar e o pequeno grupo de exploradores avançaram novamente, desta vez com uma estratégia diferente. Lídia carregava pergaminhos antigos, tentando decifrar símbolos e inscrições que poderiam servir de ponte para o entendimento. Miguel, curioso e destemido, caminhava com cuidado, atento a cada som.

Ao chegarem à clareira dos símbolos, aperceberam-se de movimentos entre as árvores. Os seres observavam, sem atacar, como se esperassem alguma coisa ou algo.

- Eles estão-nos a testar, murmurou Lídia. - Precisamos mostrar-lhes que não viemos apenas para lutar.

Afonso ergueu a espada, mas não para atacar. Em vez disso, desenhou no chão um círculo, semelhante aos símbolos antigos. Pegou uma pedra do centro e ergueu-a, falando em voz firme, mas calma:

- Viemos em paz! Não queremos destruir ou roubar. Queremos compreender.

No início, nada aconteceu. Apenas o vento, carregava o cheiro da neve derretida e da madeira das fogueiras antigas. Então, uma figura aproximou-se, movendo-se silenciosa, quase etérea. Olhos brilhantes fixaram-se nos exploradores, estudando cada gesto.

- Quem ousa entrar no nosso território? - a voz soou na clareira, baixa, mas clara, como se ecoasse da própria neblina.

Afonso respondeu sem hesitar:

- Somos guardiões de Bragança. Queremos paz. Queremos aprender quem são vocês e por que nos atacam.

A figura aproximou-se mais, revelando parcialmente uma forma humana, com armadura desgastada pelo tempo, mas marcada com os símbolos que tinham encontrado nas árvores.

- Muitos vieram antes de vós, disse, a voz carregada de séculos de lembranças, e todos acreditaram que a força bastaria. Mas a força sozinha não preserva a cidade. Ela preserva apenas aqueles que entendem o que ela guarda.

Lídia adiantou-se, segurando os pergaminhos:

- Se há segredos que vocês protegem, podemos respeitá-los. Mas precisamos de orientação. Precisamos de saber como conviver, ou ao menos como nos podemos defender.

Houve um silêncio profundo, e o vento parecia carregar o murmúrio de eras passadas. Finalmente, a figura falou:

- Ainda não provaram serem dignos de saber. Mas a coragem que os trouxe até aqui é rara. Amanhã, uma parte de vós deverá enfrentar o que guardamos, não para lutar, mas para compreender.

Baltasar apertou o bordão, sentindo o peso da responsabilidade.

- Então teremos de caminhar com cuidado. Aprender e lutar. Ao mesmo tempo.

A figura recuou, desaparecendo entre a névoa. Mas a sua mensagem ecoou no coração de todos. Bragança não enfrentaria apenas inimigos. Enfrentaria provações, enigmas e testes antigos, que dariam forma ao destino da cidade.

Enquanto regressavam, Afonso olhou para as muralhas cobertas de neve:

- Amanhã será decisivo. Não pela força que temos, mas pelo entendimento que conseguimos alcançar. A cidade pode sobreviver… se aprendermos a ouvir as vozes na névoa.

E, na floresta, as sombras moviam-se silenciosas, preparando o que viria. Mas algo novo havia aparecido, a possibilidade de diálogo. E, talvez, a hipótese de que Bragança enfrentasse o seu destino com mais do que coragem, com sabedoria.

Continua...

N.B.: A narrativa e os personagens fazem parte do mundo da ficção. Qualquer semelhança com acontecimentos ou pessoas reais, não passa de mera coincidência.

HM

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