Os dias seguintes ao primeiro confronto foram de tensão e vigilância constantes. Bragança não descansava. Os ruídos na névoa eram motivo de alerta, cada sombra alongada despertava suspeitas. Mas a cidade precisava de respostas, não apenas de resistência.
Afonso convocou Lídia e Baltasar para uma reunião na torre mais alta das muralhas. Lídia abriu o caderno de registos antigos, repleto de anotações sobre a cidade, cavaleiros e lendas esquecidas:
- Alguns documentos mencionam criaturas que surgem das florestas quando antigos pactos são quebrados, explicou ela. - Talvez esses seres sejam guardiões de alguma coisa que esquecemos, ou restos de um segredo muito antigo.
Baltasar franziu o rosto, apoiando o bordão contra o chão:
- Então não estamos apenas a defender Bragança. Estamos a viver uma história que talvez tenha começado antes mesmo da cidade existir.
Decididos a descobrir a verdade, Afonso organizou um pequeno grupo de exploração. Lídia, Baltasar, Miguel e alguns jovens mais corajosos. Munidos de tochas, armas leves e mapas detalhados, avançaram para a floresta sob o manto da neblina.
Em cada passo, a sensação de serem observados aumentava. As árvores antigas pareciam sussurrar, e sombras que se moviam entre os troncos, sempre fora do alcance da visão direta. Então, encontraram vestígios que não se limitavam a pegadas, símbolos riscados nas árvores, restos de fogueiras antigas e artefactos de metal que lembravam armaduras desgastadas pelo tempo.
- Isto… não é apenas caça, disse Lídia, tocando um dos símbolos gravados. - É território marcado. Eles estão a avisar-nos, ou a preparar algo.
Baltasar olhou em volta, tenso.
- E se não for apenas uma defesa? E se eles estiverem a planear avançar contra a cidade de forma organizada?
Miguel, ainda jovem, mas corajoso, apontou para o alto das árvores:
- Olhem! Olhos! Muitos olhos!
Afonso ergueu a espada e respirou fundo.
- Não podemos recuar agora. Precisamos de descobrir a origem deles antes que decidam atacar novamente.
Seguiram os símbolos e chegaram a uma clareira escondida. No centro, pedras antigas formavam um círculo quase ritualístico. Restos de armaduras espalhados sugeriam que aqueles seres eram descendentes de guerreiros antigos, ou talvez protetores de um segredo que Bragança tinha esquecido.
- Eles… não são monstros, disse Lídia em voz baixa. São humanos transformados, ou preservados, ligados a algum pacto antigo.
Baltasar olhou para a cidade ao longe, coberta de neve e cercada pelas muralhas.
- Então o nosso desafio não é apenas lutar. Precisamos entender. Precisamos negociar, ou pelo menos descobrir como sobreviver a algo, ou alguma coisa, que nasceu antes de nós.
E enquanto o grupo observava a floresta silenciosa, Afonso percebeu que a guerra que se aproximava não seria vencida apenas com coragem. Seria necessária inteligência, alianças inesperadas e o conhecimento profundo de antigos segredos que, há muito, estavam enterrados nas sombras.
O vento frio soprou pela clareira, carregando consigo um aviso. Bragança não enfrentaria apenas sombras, enfrentaria a própria memória da história que escolhera esquecer.
Continua...
N.B.: A narrativa e os personagens fazem parte do mundo da ficção. Qualquer semelhança com acontecimentos ou pessoas reais, não passa de mera coincidência.

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